Agricultura

Uso do adjuvante certo garante maior eficiência na aplicação

Cada vez mais presentes nas pulverizações, os adjuvantes são ferramentas importantes no preparo de calda para quem almeja garantir ao máximo a eficiência no controle de insetos, patógenos e plantas daninhas.

 

Por definição, considera-se adjuvante todo e qualquer produto que, misturado no preparo da calda fitossanitária, é capaz de modificar ou melhorar a ação do fungicida, herbicida ou inseticida. Este efeito positivo pode ser devido à melhoria na estabilidade da calda dentro do tanque do pulverizador, na formação e trajeto da gota entre o pulverizador e o alvo e no comportamento da gota, quando se deposita na superfície foliar.

 

São muitos os fatores capazes de comprometer a qualidade da aplicação e as interações dentro do tanque do pulverizador. Nesta inicial e tão importante etapa, a qualidade da água (primeiro fator) deve ser pensada com muito cuidado e antes do preparo da solução.

 

A depender da fonte de coleta da água e do período do ano, características como pH e dureza podem variar consideravelmente. Uma água é considerada “Dura” quando houver cátions bivalentes expressos em equivalente de carbonato de cálcio e magnésio superiores a 321 ppm. Esta análise é muito importante e, pode ser feita na propriedade por meio de coleta e enviada para laboratórios que comumente fazem análises de solo. Essa coleta e envio é importante ser repetida em quatro momentos do ano, no início do verão, outono, inverno e primavera, já que dependendo do regime de chuvas a concentração de cátions na água podem variar. Se a água que for utilizada na pulverização tiver valor muito acima de 321 ppm (água “Dura”), os produtos a serem misturados na confecção da calda, como fungicidas, inseticidas e principalmente herbicidas, poderão perder parcial ou totalmente sua eficácia. Neste cenário é imprescindível o uso de adjuvantes para corrigir a qualidade da água a ser utilizada no preparo da calda. O sulfato de amônia e produtos compostos por surfactantes não-iônicos são as principais opções para a correção da dureza de água, sem que haja efeito no pH da mesma. Já ácidos, como o fosfórico, além de reduzirem problemas de dureza, também reduzem a faixa de pH da água.

 

É muito comum que água com elevada dureza também demonstre valores de pH acima de 7, quando esta dureza é devido a metais alcalino terrosos como Magnésio e Cálcio. Quase sempre, se a água apresentar valor de pH acima de 7, poderá haver problemas de dureza. No entanto, problemas de dureza de água podem ocorrer mesmo quando esta apresentar um valor de pH inferior a 7. Neste caso, a fonte da dureza devido a metais de transição como Ferro, Cobre, Zinco, Manganês, entre outros. O pH da água, por sua vez, exerce também papel importante na qualidade da calda, pois se o mesmo estiver acima de 7, a maioria dos produtos fitossanitários usados no preparo da calda poderão sofrer degradação pelo processo chamado de hidrólise alcalina. Para todos os efeitos, a melhor faixa de pH para a maioria dos produtos hoje em dia é de 5 a 7, em situação onde a água não está classificada como dura.

 

Além da correção da água, o uso de adjuvantes podem melhorar as misturas de produtos com base óleo na água, processo chamado de “emulsão”, e a mistura de produtos insolúveis em água, como a maioria dos fungicidas, pelo processo chamado de “suspensão” em água. Para ambos os processos, adjuvantes podem ser adicionados à calda para beneficiar a estabilidade da mistura. Tais adjuvantes são em sua totalidade compostos por surfactantes. Estes variam de acordo com o tipo de tensoativo utilizado. Um exemplo muito claro de surfactante utilizado no nosso dia-a-dia é o detergente de cozinha. Este contém tensoativos capazes de misturar a água da torneira com a gordura dos pratos e talheres. Naturalmente a água não se mistura com os óleos e as gorduras, mas quando misturamos o detergente, a água consegue se misturar e remover toda a sujeira. Isso ocorre porque os tensoativos são moléculas que possuem afinidade tanto com água quanto com óleos e gorduras. Em consequência, funcionam como ponte de ligação da água com os óleos e gorduras. Cada adjuvante contém um tipo específico de tensoativo que desempenha diferentes funções, além de somente reduzir a tensão superficial da calda. Em alguns casos, o uso de adjuvantes pode evitar que haja problemas de incompatibilidade entre produtos usados no tanque, ou mesmo, facilitam o processo de limpeza dos resíduos de produtos que podem se acumular no pulverizador.

 

Outra função amplamente desempenhada pelos adjuvantes é na melhoria do padrão de gotas formado pelos bicos e no manejo da deriva durante o transporte das gotas, saindo dos bicos, até chegar efetivamente no alvo.

 

A começar pelo efeito que podem causar nos bicos, alguns adjuvantes podem diminuir ou aumentar o tamanho das gotas pulverizadas. Mais importante que isso, alguns adjuvantes podem melhorar a uniformidade de tamanho de gotas em determinados bicos. Um exemplo claro deste fenômeno ocorre para bicos equipados com pontas com indução de ar, onde o uso de adjuvantes surfactantes pode aumentar e melhorar a uniformidade de suas gotas geradas, por facilitarem a mistura de ar nas gotas produzidas. O uso de óleos nesta situação pode atrapalhar a uniformidade das gotas e aumentar inclusive as perdas por deriva.

 

O uso de adjuvantes capazes de aumentar a viscosidade e a tensão superficial de caldas, como polímeros, óleos e gomas, podem aumentar o tamanho das gotas produzidas pelos bicos e diminuir problemas de deriva durante uma pulverização em situações de clima adverso. É muito comum encontrarmos este efeito em adjuvantes à base de óleo, principalmente o mineral, em detrimento do vegetal, por ter cadeias mais longas. Além disso, os óleos aumentam o tempo de vida das gotas até que evaporem, proporcionando mais tempo até que possam atingir o alvo.

 

Além de desempenharem entregando um efeito de estabilidade das caldas no tanque e na produção e transporte de gotas, os adjuvantes também podem exercer papel fundamental no comportamento da gota depositada sobre o alvo.

 

No momento da chegada da gota até o alvo, sendo este uma superfície vegetal, alguns fenômenos podem ocorrer, dependendo do tamanho da gota. Gotas grandes podem atingir o alvo, ricochetear e escorrer para o solo, ou podem se fragmentar em gotas menores que, por reação ao impacto, podem ser arremessadas para fora da folha. O uso de adjuvantes surfactantes neste caso reduzem a energia de ligação das moléculas fazendo com que as gotas se espalhem ao atingir o alvo, evitando problemas de ricocheteio e fragmentação de gotas. Além disso, os surfactantes podem melhorar a afinidade das gotas com a superfície foliar, diminuindo seu ângulo de contato e seu espalhamento. Este efeito é importante também no caso de gotas de tamanho reduzido que são pulverizadas em superfícies foliares com pilosidade. Neste caso, sem o uso de adjuvantes, a maioria das gotas finas ficam retidas na pilosidade, sem conseguir efetivamente molhar a superfície foliar.

 

Alguns adjuvantes surfactantes como a classe dos organossiliconados, diminuem tanto a tensão superficial que podem melhorar a absorção de determinados produtos pelas folhas, uma vez que fazem com que o conteúdo espalhado das gotas consiga adentrar os estômatos foliares. Já os adjuvantes a base de óleo, como óleos mineral, vegetal e metilado, são hoje ferramentas indispensáveis para o uso de fungicidas, uma vez que melhoram a absorção do ativo pela folha. No entanto, em se tratando de óleos, o processo de absorção ocorre pela cutícula foliar, onde existem ceras e cutina, de modo que os óleos dissolvem parte destas ceras, abrindo caminho para a entrada do ingrediente ativo para dentro da superfície foliar. Deve-se tomar cuidado quando utilizar destes adjuvantes, já que em doses acima da recomendada ou em situações de alta luminosidade, pode haver efeitos adversos como fitointoxicação, já que a cera que protege a folha fica temporariamente desestruturada.

 

Conhecendo-se as diferentes especificidades dos adjuvantes, basta escolher qual deles pode contribuir mais com a pulverização a ser feita, considerando os tipos de produto, de pulverizador, de alvo e as condições meteorológicas durante a aplicação.

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