Agricultura youtube

Novas variedades de arroz para o Rio Grande do Sul

 

Empresas e órgãos de pesquisa apresentam ao mercado novas cultivares e pesquisas sobre o arroz, afim de aumentar a qualidade e produção do cultivo.

A orizicultura possui alta capacidade de adaptação a diferentes condições de solo e clima, e tem duas maneiras principais de ser praticada. Uma delas é pelo sistema de várzeas, que representa maior volume de produção no Brasil, onde as plantas são irrigadas por inundação controlada. Já a outra é por terras altas, englobando o sequeiro e com irrigação suplementada via aspersão – este tipo tem predomínio de utilização na região Centro-Oeste do País.

O Estado do Rio Grande do Sul, dentre outros pontos, é famoso por suas uvas, que dão vinhos saborosos e de alta qualidade e suas carnes nobres, indicadas para se realizar o bom churrasco gaúcho. Mas, além disso, na agricultura há também forte atuação na orizicultura, tão importante para a região e o País. Presente diariamente na mesa do brasileiro, o alimento tem um processo de produção que o difere do convencional, como visto na soja, ou no milho, por exemplo.

Se tratando de negócios, o Estado gaúcho é responsável por mais de 70% de produção nacional. “Em outros cultivos não vemos tanto esta participação, por isso aqui os pacotes tecnológicos são diferenciados”, declara Ariano de Magalhães Júnior, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, na área de melhoramento genético do arroz. Segundo ele, a entidade possui uma forte atuação em fazer essa estabilização de mercado para não ficar dependente das tecnologias da iniciativa privada.

“Hoje sabe-se que uma lavoura é cara e então trabalhamos e temos projetos de trabalhar cada vez mais com sustentabilidade e uma rentabilidade econômica mais eficiente”, diz. Em cima disso, a Embrapa possui um projeto de implantação na lavoura, denominado de “Manejo Racional da Cultura”, no qual preconiza-se não utilizar tanto os pacotes tecnológicos, justamente para reduzir os custos. “Para exemplificar, preferimos produzir oito toneladas por hectare gastando seis, do que produzir dez toneladas gastando nove. Esse é nossa filosofia, para que tenhamos maior rentabilidade da lavoura”.

Dessa forma, para realizar a evolução desta cultura em solo nacional, as empresas e instituições lançam seus produtos, cultivares e novidades, com o objetivo de atender as demandas que vem do setor. Assim, Magalhães diz que a entidade possui alguns lançamentos de variedades em relação a orizicultura irrigada. “Como destaques, temos três cultivares de ciclos bem distintos para dar opção ao produtor”, comenta. Uma delas é a BRS Pampeira, cultivar de ciclo médio a tardio, que tem em torno de 135 dias da emergência à maturação, com alto potencial produtivo, atingindo até 12 toneladas por hectare. “A média do Rio Grande do Sul é 7.500 kg/ha. Então, nota-se a diferença genética e de manejo que conseguimos com ela, que apresenta grão de qualidade, com vantagem de ter resistência às principais enfermidades da lavoura”, declara.

Agregando valores

Para dar continuidade ao trabalho desenvolvido pela Embrapa, o pesquisador comenta que além da BRS Pampeira, a entidade tem destacado bastante a BRS Pampa CL, de ciclo precoce – em torno de 118 dias no RS. “Ela é a evolução da BRS Pampa convencional, que já está no mercado desde 2011 e é utilizada pela indústria como arroz premium, ou arroz nobre”, diz. Hoje, para se atingir este nível, o arroz deve ter melhor qualidade de grãos, tanto em termos de rendimento, quanto em vitricidade, além de baixa incidência de gesso. “Isso o transforma num alimento macio e solto após a cocção”. Dessa maneira, a indústria tem bonificado a Pampa convencional em torno de R$ 4,00 por saco a mais do que as demais cultivares da cultura. “Buscando a evolução deste trabalho, introgredimos um gene de resistência para que ela pudesse controlar as plantas invasoras e o arroz vermelho, principal invasora da lavoura orizícola”, declara Magalhães.

O pesquisador ressalta que no trabalho desenvolvido pela Embrapa, estas variedades apresentadas possuem resistência às principais enfermidades da cultura, e, a Pampa convencional além de ser precoce, permite menor utilização de água, com economia de até 15%. “Também é eficiente na produção em termos de conversão com os nutrientes aplicados, ou seja, necessita de menos adubação, menos nitrogênio na cobertura em relação as demais cultivares”, diz. Segundo ele, a empresa recomenda que não passe dos 90 kg de nitrogênio em sua cobertura. “Assim sendo, ela apresentará um teto produtivo de dez toneladas por hectare”. Já a Pampa CL foi feita aos mesmos moldes da convencional, uma vez que foi resgatado 99,7% de seu genoma, o que a faz ser considerada essencialmente sua derivada.

Outra variedade de destaque, está lançada em 2018, é a BRS A701 CL, e Magalhães diz ela se apresenta produtiva e adaptada ao clear field, sistema que utiliza um gene de resistência a herbicidas que também permite o controle do arroz vermelho. “Estamos com grandes expectativas quanto ao avanço da sua aceitação no mercado e é desta maneira, apresentando e trabalhando cultivar atrás de cultivar que desempenharemos da melhor maneira a cultura aqui no Sul e também em todo Brasil”, declara o pesquisador

Reforçando as opções

Para que os produtores tenham mais opções em um leque aberto entre iniciativa privada e órgãos públicos, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), aposta também em cultivares e dispõe o que há de mais tecnológico em seu portfólio para a orizicultura.

Gabriela da Fonseca, doutora em fitomelhoramento do instituto, diz que é necessário passar aos produtores os resultados que tem alcançado nas pesquisas, divulgando o trabalho, uma vez que o Irga é uma instituição que tem atuação voltada para os produtores, com o intuito de favorecer a lavoura orizícola. “Temos um novo material que é cultivar Irga 431 CL, e ela veio para substituir as áreas de 424 RI, cultivar plantada em uma área de 40% do Estado e a muito tempo cultivada”, diz. Segundo ela, essa nova opção vem para suprir um problema que há na 424 RI. Trata-se da qualidade dos grãos, que acaba penalizando o valor do arroz no mercado. “Então a 431 CL possui alta qualidade, tendo sido avaliada por nove indústrias, onde todos nos deram retornos positivos. Isso faz com que nossa expectativa seja a melhor possível, pensando até em competir como cultivar premium no futuro”.

Afim de colaborar com os produtores e com os manejos envolvidos na cultura, como fazer rotação com soja e milho, por exemplo, a pesquisadora diz que o Irga tem um papel importante como um órgão público do Rio Grande do Sul. “Desenvolvemos pesquisas em todas as áreas para termos ferramentas suficiente e lavouras mais limpas e mais econômicas”, declara. Segundo ela, o instituto visa buscar materiais que utilizem menos fungicidas, para ter menor risco de contaminação dos grãos e assim gerar melhores produtos para o mercado. “Está é uma de nossas maiores preocupações, inclusive nutricionalmente falando”.

Pensando nos resultados deste ano, Gabriela comenta que alguns lugares começaram a colher um pouco antes da abertura oficial da colheita. “Temos diversas safras prontas com alta qualidade, e lavouras que utilizam 424 RI prontas para serem colhidas. A expectativa é que a média de produtividade seja de oito mil toneladas, como vem sendo ao longo dos últimos anos”. Já Magalhães cita que na colheita deste ano observou-se que houve problemas na implantação da lavoura, além das temperaturas baixas. “O mês de janeiro teve bastante nebulosidade, e problemas de enchentes na fronteira oeste”. Isso, segundo ele, acarretará em algumas perdas previstas em até 15% de safra, o que vai diminuir o volume de colheita do Estado, causando alguns problemas em relação ao estoque.

Para plantar, cultivar e colher

Presentes no dia a dia do produtor rural, as máquinas agrícolas tem fundamental papel para que qualquer tipo de cultura dê frutos e rendimento nos campos do agro. No arroz não é diferente. Um segmento que tem suas particularidades no cultivo também necessita de bom maquinário para que o homem do campo termine o ciclo produtivo com dinheiro no bolso, ao invés de dores de cabeça.

Para ajudá-lo nesta missão, Andreo Franco, gerente das filiais Pelotas e Camaquã, da Massey Ferguson, declara que historicamente a companhia tem tradição nos arrozais do Sul. “Nossas colheitadeiras são tradicionais neste cultivo, e temos atualmente os modelos híbridos MF 5690 e MF 6690, que vem na sucessão das 5650, já consolidadas no mercado”. O gerente conta que as colheitadeiras basicamente tem como suas principais culturas a soja e o arroz e vem com tecnologia de ponta embarcada, com monitoramento de produtividade e de frota no campo. “Independentemente se ela está geolocalizada ou geoposicionada, o produtor no escritório sabe do andamento desse maquinário. Além disso, todas têm piloto automático, o que facilita a vida do operador”, declara.

Mesmo com menor fatia de participação de mercado no universo Massey, Franco diz que a orizicultura tem grande representatividade dentro da empresa. “Estamos construindo cada vez mais nosso espaço mercadológico com nossas colheitadeiras nesse segmento tão importante para o Brasil”.

Para não ficar para trás, a concorrência também se faz presente neste cultivo, e Jefferson Kohler, gerente comercial da região Sul da New Holland, comenta que a empresa também tem opções completas que atendem está cultura, afim de dar suporte ao produtor rural. “Lançamos em agosto do ano passado a TC 5090 híbrida, que foi desenvolvida especialmente para atender o mercado orizícola. Ela é uma máquina adequada para a cultura, com potência ajustada e cilindros preparados para a debulha do arroz”, declara. Segundo ele, a companhia vem investindo em tecnologias para atender o mercado arrozeiro. “Preconizamos todo e qualquer mercado, seja de milho, soja, cana-de-açúcar ou arroz, e aqui no RS esta cultura está en-raizada em nós, nos pedindo uma atenção especial com máquinas adequadas”.

Necessário para que o produtor tenha melhor resultados, cada vez mais os maquinários saem de fábrica com tecnologias embarcadas, e para Kohler isso é uma tendência que vem se consolidando. “O agricultor sabe que necessita ter este pacote high-tech em mãos, senão não vai conseguir trazer mais rentabilidade para o seu dia a dia”, comenta.

Defensivos também buscam espaço

Com o desenvolvimento de soluções químicas para o setor, as empresas que trabalham com defensivos agrícolas sabem que são necessários produtos que vençam as pragas e doenças da lavoura de arroz, ou que ao menos diminuam seus impactos. Assim sendo, a Corteva, por exemplo, tem parceria com a cadeia orizícola e para Rafael Bolsson, gerente de marketing de campo da companhia, é importante estar em contato com este mercado como um todo.

“Temos um portfólio robusto para as mais diferentes culturas, e para este segmento destacamos o Ricer, herbicida reposicionado para também ser utilizado na pré-emergência, além do posicionamento em pós-emergência que já tinha ao longo dos últimos anos”, diz. Fora este e outros produtos da linha arroz, a empresa prepara o lançamento de um herbicida para este ano. “Ainda não possui nome comercial, mas irá ser uma ferramenta de controle das principais plantas daninhas presentes na cultura orizícola”. O que se sabe é o nome da molécula, Rinskor, e o produto está em fase final de registro, devendo sair nos próximos meses, já sendo comercializado nesta safra.

Bolsson comenta que a Corteva está realizando investimento em capacitação e treinamentos, além de ações a campo em diferentes regiões do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Tocantins, afim de preparar os distribuidores e informar melhor os produtores sobre a utilização do novo produto. “Esperamos que antes do lançamento oficial, na entressafra, possamos realizar diversas palestras técnicas”, diz.

Texto e fotos: Bruno Zanholo

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *