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Em nome do bem estar

Novo método de criação garante bem-estar de porcas prenhas e fiscais federais agropecuários trabalham com a sensibilização de produtores para mudança no confinamento de matrizes suínas por meio de baias coletivas

Reduzir o estresse dos animais de produção e, consequentemente, garantir o bem-estar, é uma realidade que tem sido adotada em várias partes do mundo. No Brasil, não é diferente. Com a ajuda da Comissão Técnica Permanente de Bem-Estar Animal (CTBEA), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), formada por fiscais federais agropecuários, os produtores estão cada vez mais conscientes. Muitos suinocultores, por exemplo, já deixaram de lado as gaiolas como ferramenta de confinamento para porcas matrizes.

O sistema de gaiolas, que, segundo a fiscal federal agropecuária e veterinária Liziè Buss, é um confinamento extremo, tem sido substituído por baias coletivas. Para a veterinária, diferentemente das gaiolas, o novo método favorece a interação entre as fêmeas e a movimentação, o que gera benefícios emocionais e, consequentemente, metabólicos. “Há uma melhora no sistema imune, fortalecimento da musculatura e ossos, além da melhoria da socialização”, explica a fiscal.

De acordo com Liziè, todos esses fatores contribuem para a longevidade da fêmea no sistema de produção e para leitões mais pesados no momento do parto, ou seja, menor custo com reposição de matrizes e leitões mais fortes e menos susceptíveis a doenças. “Se os animais adoecem menos, os produtores também gastam menos com medicamentos, o que significa menor custo ao produtor e baixo risco de resíduos no produto final, a carne”, completa a veterinária.

Atualmente, os fiscais federais agropecuários, com apoio da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), têm feito um trabalho de sensibilização dos produtores. Segundo Liziè, há uma boa receptividade e os resultados são positivos. “Alguns suinocultores já adotam o sistema de gestação coletiva e novas granjas são desenhadas no novo modelo. Estamos recebendo dúvidas que nos ajudarão na estruturação de um plano de transição. A ABCS vem desenvolvendo um excelente trabalho e tem destacado o bem-estar animal com os suinocultores de uma forma bastante positiva e pró-ativa”, ressalta. Desde 2013, o Brasil conta, também, com o auxílio da União Europeia, que tem as regras mais rígidas do mundo quando o assunto é bem-estar animal. O trabalho de sensibilização é realizado, prioritariamente, no acesso a informações técnicas e qualificação do corpo de profissionais que trabalha na cadeia produtiva. Para isso, fiscais federais agropecuários, com apoio de associações regionais, realizam vários encontros com produtores. “Trabalhamos no fomento das boas práticas em bem-estar animal, como a elaboração de materiais informativos, eventos de sensibilização, estudos e capacitações”, destaca Liziè.

Outros avanços

Além das baias coletivas para matrizes suínas, a suinocultura já avançou em outros aspectos, especialmente sanitários e nutricionais. A fiscal federal ressalta, ainda, que, atualmente, diversos procedimentos, como corte de cauda, são feitos apenas quando necessário. O mesmo ocorre com o desgaste dos dentes, antes cortados, o que causava muita dor aos leitões. “Hoje os dentes são lixados e, ainda sim, o processo só é executado quando machucam a mãe”, explica. O deslocamento de cargas vivas também evoluiu e melhorou o conforto e a qualidade da carne dos animais transportados para abate.

Diferentemente das gaiolas, o novo método de baias coletivas favorece a interação entre as fêmeas e a movimentação, o que gera benefícios emocionais e, consequentemente, metabólicos.

Muitos países para os quais o Brasil exporta carne exigem algumas medidas referentes ao bem-estar animal, como o abate humanitário. Segundo Liziè, a conscientização das cadeias produtivas e do serviço veterinário sobre as recomendações da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) é mais importante do que seguir regras específicas. “Esse organismo é o balizador dos conflitos relacionados ao comércio internacional de animais e produtos e avalia os serviços veterinários dos países signatários como o Brasil – periodicamente. Na última avaliação, o País se saiu bem, pois os fiscais federais agropecuários trabalham fortemente com capacitação e divulgação das boas práticas, mas ainda precisamos evoluir na nossa legislação para exigir essas boas práticas, protegendo os animais, o consumidor e nossos mercados”, conclui a fiscal federal agropecuária.

O Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários é a entidade representativa dos integrantes da carreira de Fiscal Federal Agropecuário. Entre os profissionais, estão engenheiros agrônomos, farmacêuticos, químicos, médicos veterinários e zootecnistas, que exercem suas funções para garantir qualidade de vida, saúde e segurança alimentar às famílias brasileiras. Atualmente, existem 2,5 mil fiscais na ativa, atuando nas áreas de fiscalização nos portos, aeroportos e postos de fronteira; campos brasileiros; laboratórios; programas agropecuários; empresas agropecuárias e agroindustriais; relações internacionais; e nas cidades, fiscalizando os produtos vegetais, o comércio de fertilizantes, os corretivos e as sementes e mudas.

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