Agricultura

Vespinha do bem

A utilização dessas inimigas naturais do inseto que transmite o greening vem-se tornando nova esperança dos citricultores.

O Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), é um instituto de pesquisa e está preocupado em gerar conhecimento para que o produtor controle o greening (huanglonbing/HLB), que é o grande vilão da citricultura brasileira e mundial. “Sabemos que é uma doença de difícil controle, e que possui alta população, principalmente nos pomares onde não tem monitoramento de pragas e doenças”, declara Antonio Juliano Ayres, diretor da entidade. Com isso, segundo ele, a principal preocupação foi criar um inimigo natural para ser uma ajuda a mais para o citricultor. “A partir disso, juntamente da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), estabelecemos uma forma de criação da Tamarixia radiata, vespinha que parasita o psilídeo Diaphorina citri, inseto transmissor da bactéria do greening”.

A eliminação das plantas doentes e sintomáticas, juntamente do controle da população do inseto transmissor não vêm sendo o suficiente. Nesse sentido, após cinco anos de pesquisa, concluiu-se que é viável se criar Tamarixia e liberá-la em áreas semiabandonadas ou em municípios onde há plantas cítricas mortas. “Ela é uma medida complementar, com o objetivo de diminuir a incidência do inseto transmissor da doença”, diz Ayres. O diretor explica que a intenção do Fundecitrus é principalmente trabalhar em duas linhas, nesta guerra contra o HLB. “A primeira é preparar o citricultor no caso dele querer fazer criações próprias, com todo conhecimento que foi gerado através das palestras e demonstrações. A outra é reduzir a população do inseto em todo Estado de São Paulo, conscientizando os produtores que as ações devem ser tomadas de forma conjunta”, declara.

Parceria no controle

O recém inaugurado laboratório de controle biológico da entidade, localizado na cidade de Araraquara, em São Paulo, possuí uma biofábrica de criação de Tamarixia. “Esta unidade deve ser suficiente para liberação da vespinha em torno de dois a três mil hectares de pomares não controlados, número considerado expressivo”. Foram investidos R$ 460 mil na implantação e manutenção do projeto no primeiro ano. Parte dos recursos foram destinados pela Bayer CropScience, como parte da parceria “Citrus Unidos”, firmada entre as instituições com o objetivo de desenvolvimento de novos produtos e tecnologias.

Após cinco anos de pesquisa, concluiu-se que é viável se criar a Tamarixia e liberá-la em áreas semiabandonadas ou em municípios onde há plantas cítricas mortas.

“A parceira surgiu em 2013, e se estenderá até 2018. Nesse período, vamos investir aproximadamente três milhões de euros, o que gira atualmente em torno dos R$ 10,190 milhões. O objetivo é trabalhar em várias frentes para o controle do greening”, declara André Luiz Brante, diretor executivo para a região Centro da Bayer. Ele diz que a empresa tem uma equipe exclusiva focada em citros, e com a convivência diária, vivendo a dificuldade da citricultura surgiu a ideia de se juntar ao Fundecitrus para solucionar esse problema tão grave.

O novo laboratório está instalado numa área de 342 m2 e tem capacidade para criar 100 mil Tamarixias por mês. Alguns estudos realizados na Esalq, demonstraram que uma vespa pode predar até 600 ninfas do psilídeo. “Isto demonstra porque este é o principal inimigo natural do HLB”, declara o pesquisador do Fundecitrus, Marcelo Miranda.

Controlando de maneira sustentável

Miranda explica que a vespinha ataca a ninfa, fase jovem do inseto que está se desenvolvendo nos brotos. “Nós a liberamos, e ela vai localiza-las pelo odor. A partir daí coloca seu ovo embaixo destas ninfas, e a fase jovem da vespinha começa a desenvolver dentro do psilídeo”, diz. Ao sair do ovo, a larva vai se alimentando do corpo da ninfa até se tornar adulta e, desse modo, reduz a multiplicação de Diaphora citri e consequentemente sua disseminação para pomares de citros.

Ana Carolina Pires Veiga, bióloga e coordenadora do laboratório, diz que está liberação das vespinhas não causa impacto ambiental, pois só parasita o psilídeo. “O objetivo é contribuir com o manejo sustentável do HLB, proporcionando um meio natural de reduzir a população e consequentemente diminuir a necessidade de pulverizações nos pomares”, declara.

Em relação a custos, a produção é estimada entre R$ 0,05 e R$ 0,20 por inseto, dependendo das instalações utilizadas. De 70 a 80% do custo total de produção refere-se à mão-de-obra.

O greening

“É uma doença que está presente praticamente em todos países citrícolas do mundo, com exceção da Austrália e Europa”, declara Juliano Ayres. O greening reduz a produtividade das árvores de laranja, limão e tangerina, afetando a qualidade das frutas. “Não existe vacina ou cura pra essa doença, então a melhor estratégia de combate é a preventiva, que se baseia na utilização de mudas em ambientes protegidos, estufas com material certificado e controlado na identificação rotineira, fazendo inspeções a cada dois meses, eliminando as plantas com sintomas das doenças, e o controle do inseto transmissor”. A maior dificuldade que existe para se ter sucesso no controle, muitas vezes vem da insuficiência da ação individual do citricultor, principalmente nas pequenas e médias propriedades. “Então, é importante que haja uma ação coletiva”, diz. Segundo Ayres, foi a partir disso que o Fundecitrus implantou a zona de alerta – monitoramento quinzenal da população do inseto transmissor, realizado durante o ano todo. O diretor diz que sabendo também que existem pomares sem finalidades comercial, que são aqueles de fundo de quintal, é fundamental que um vizinho se una aos outros, para que haja um controle mais eficiente do psilídeo. “Além de ser positivo para toda a cadeia, dessa maneira os produtores poderão ter melhorias econômicas no final das contas”, declara.

Outras dores de cabeça

Além do HLB, os produtores também têm que estar espertos em relação a outras importantes doenças que atingem as culturas cítricas em todo País. Uma delas, por exemplo, é a pinta preta, causada pelo fungo Guignardia citricarpa (Phyllosticta citricarpa), que ataca folhas, ramos e, principalmente, frutos de todas as variedades de laranjas doces, limões e tangerinas, à exceção da lima ácida ‘Tahiti’, na qual não são observados os sintomas. “O controle é feito à base de fungicidas que variam entre quatro e seis aplicações. Em cima disso, temos feito várias pesquisas para otimizar as doses”, diz Ayres. O diretor cita outra importante doença, a clorose variegada dos citros (CVC), causada por uma bactéria Xylella fastidiosa, que atinge todas as variedades comerciais de citros. Restrita ao tecido condutor da planta, a bactéria obstrui os vasos responsáveis pelo transporte de água e nutrientes da raiz para a copa da planta. “O controle é muito parecido com o do greening, mas é uma bactéria menos agressiva e o inseto é menos eficiente”.

Por fim, há o cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri subsp. citri, afeta todas as espécies e variedades de citros de importância comercial. “Nesse caso não tem um vetor, é uma bactéria externa na planta, e que o principal fator de difusão dessa doença são as chuvas com ventos”, finaliza o diretor.

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