Agricultura

Agroindústria cresceu nos últimos anos

A constatação é do engenheiro agrônomo José Sidnei Gonçalves, do IEA Instituto de Economia Agrícola, de São Paulo -, ao assinalar que, especificamente, com relação à agroindústria, houve um salto tanto qualitativo como quantitativo, pois as vendas do setor pularam de R$ 29,9 bilhões em 78, para atingirem, em 96, um total de R$ 61,4 bilhões. Quer dizer, duplicaram de 80 para cá, em âmbito nacional.

Gonçalves afirma que a agroindústria pode ser dividida em cinco setores básicos ou fundamentais: alimentos, bebidas e fumo, papel e celulose, confecções ou vestuário e indústria têxtil um pouco mais complexa, inclusive, com exportações. A soma das vendas realizadas por esses setores básicos, incluídas, é claro, a obtida por outras sub-áreas, dobraram entre 78 e 96, mostrando o potencial existente no país.

Decompondo a receita total obtida no período. Gonçalves indica que o setores alimentos, em 78,vendeu R$ 17,3 bilhões. Em 90, esse faturamento chegou a R$ 21,2 bilhões; em 93 R$ 25,6 bilhões e, em 96, R$29,8 bilhões. Para ele, esses valores mostram uma renda expressiva ao longo dos anos e, sobretudo, depois da implementação do Plano Real.

No mesmo período, a área de bebidas e fumo, mostrou um total de vendas em 78, de R$ 6,5 bilhões, em 93, e outros R$ 20,6 bilhões em 96. Confecções/vestuário mostram um crescimento menos expressivo, mas não menos significativo, com vendas, 78, de R$ 1,4 bilhões, em 90, R$ 2,3 bilhões, R$ 2,2 em 93 e, em 96, R$ 2,3 bilhões. Gonçalves entende que não só o desempenho, mas também a receita desse setor ficaram comprometimento, Gonçalves diz que, em 96, do deficit comercial de U$$ 6 bilhões, US$ 1 bilhão correspondiam ao setor de confecções/vestuário. Os estrangeiros fazem um dumping enorme nos preços.

Quanto ao setor de papel e celulose, em 78, as vendas atingiram R$ 2,5 bilhões, em 90, R$ 5,3 bilhões; em 93, R$ 5,4 bilhões e, em 96, fechou em R$ 5,9 bilhões.

Gonçalves reitera que o impacto do Plano Real foi fundamental para o desempenho desse setores agro-industriais, principalmente para as áreas de alimentos e bebidas. Essa atuação poderia ser melhor e bem mais representativa se não houvesse a abertura exagerada do mercado. Além disso, acrescenta, esse crescimento confirma o acesso de novos consumidores ao mercado. Segundo ele, a expansão do papel e celulose foi sustentada pelas exportações e incentivos fiscais concedidos durante os anos 70. Porém, esse crescimento expressivo o agroindústria, segundo o agrônomo do IEA, teve um custo. No mesmo período, os preços recebidos pelos agricultores registraram uma queda de 35,3%, em termos reais, ou seja, descontada a inflação. Paralelamente, e até como compensação, numa comparação grosseira, os custos de produção recuaram 51,8%. Isso significa que a margem de rentabilidade, a nível de fazenda ou na renda do produtor, cresceu. Numa decomposição desses custos, Gonçalves afirma que os salários rurais, na mesma época, caíram 35,8% e os preços de insumos e máquinas tiveram um recuo de 37,3%. A contrapartida dessas quedas é o aumento no nível de eficiência do setor, enfatiza.

Esse quadro, assinala, gera um benefício social, pois, para o consumidor final, o repasse desses recuo significou uma queda de 58,5% no custo dos alimentos e de 64,1 no custo de vida. Em linhas gerais, acrescenta Gonçalves, o desempenho da agroindústria e também da agricultura, foi favorável sob o ponto de vista social, a partir do Plano Real. Isso porque permitiu a convivência do arrocho salarial com a sobrevivência, pois os preços em queda melhoram e permitem um consumo maior. Essa convivência, princípio incompatíveis, foi e está sendo possível graças ao ganho de produtividade da agricultura que estão sendo transferidos para a população em geral e, principalmente, para os segmentos de baixa renda. Nessa linha de raciocínio, Gonçalves afirma que a diferença na agricultor (35,3%) e nos custos da alimentação ao consumidor (58,5%) mostram, ainda, que houve a otimização total da margem ou setor de comercialização, decorrente do fortalecimento e eficiência da agroindústria produtos processados e melhoria do sistema de comércio in natura. Outro aspecto de fundamental importância, conforme Gonçalves, está relacionado com o fato de a rede de supermercados Ter garantido o repasse dos ganhos de produtividade e eficiência para o consumidor impor regras aos grandes atacadistas e agroindústrias ao optar, como forma de operação, pelo trabalho de atendimento massivo. Com essa opção, conseguir-se fazer uma cesta de gêneros de fácil acesso a um maior número de consumidores.

Gonçalves afirma que esse quadro favorável exerce uma forte atração ao ingresso de estrangeiros, principalmente, se for levado em conta que os países desenvolvidos estão praticamente com poucas possibilidades de uma expansão mais significativa e, o principal, a baixo custo. Diante disso, eles países ricos vêem o Brasil como uma floresta virgem, pronta para ser explorada. Como reforço de argumento, o agrônomo cita a recente venda de Ceval para o grupo Bunge e Born, já atuante no território brasileiro através do Moinho Santista e outras empresas. Outra operação retrata a venda do setor de grãos da Sadia a Glencor que, na sequência, revendeu para a ADM, uma trader norte-americana de atuação significativa na área agroindustrial do planeta. Além dessas, cita a entrada recente da Parmalat no laticínio e a AGCO, maior fabricante mundial de tratores, que comprou a Massey Fergusson da Yochpe. Quer dizer, o capital estrangeiro está entrando até na área da indústria de bens de capital agrícola. Em contrapartida, a Cutrale, do setor cítrico, adquiriu uma grande indústria de sucos sediada nos Estados Unidos. Isso, para Gonçalves, mostra que as grandes empresas agroindustriais se utilizam de uma via de duas mãos ou dois sentidos, quando há interesse, conclui.

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