Agricultura

Otimismo é grande para a safra 97/98

O mercado e principalmente os preços, no melhor adubo da agricultura, se mostram favoráveis e estimulam o plantio da safra 97/98, que está sendo apontada como recorde pelo governo. Otimista, o ministro Arlindo Porto prevê uma colheita de 84 milhões de toneladas de grãos, com um crescimento de 7% sobre as 79 milhões/t colhidas anteriormente.

Com um otimismo mais moderado, o economista e pesquisador do IEA – Instituto de Economia Agrícola, Nelson Martin, concorda que o mercado e preços agrícolas estão a favor, mas acredita que a expansão da produção se limita a 5% no máximo 6% em relação à safra passada. Isso, se São Pedro ajudar. De qualquer forma, Martin acredita que a colheita deve superar os 80 milhões de toneladas, ficando num máximo de 82 milhões/t.

Condições para a produção atingir esse volume, existem. O governo anunciou uma verba de r$ 8,5 bilhões para o setor, a 9,5 ano ano. Desse total, cerca de R$ 3,5 bilhões deverão entrara através da 63 caipira, que dizer, recursos captados no exterior, com juros entre 18% e 22% ao ano. Esse dinheiro é de curto prazo e deverá ser usado, preferencialmente, pelos fornecedores de insumos e agroindústria. Para Martin, recurso não é problema. Na safra passada, foram alocados R$ 5,2 bilhões e a aplicação efetiva chegou a R$ 7,5 bilhões, na época da comercialização. Nesta temporada, os R$ 8,5 bilhões iniciais devem Ter um adicional de uns R$ 3,5 bilhões, fechando em aproximadamente R$ 12 bilhões na época de venda da produção.

Na área do Pronaf – Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar, a verba anunciada como disponíveis para o custeio é de R$ 1,5 bilhão, a juros de 6,5%, mais a TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo, que é de 15,4% até dezembro. Mas assim mesmo, segundo Martin, o programa beneficia o produtor como um rebate de 50% nessa taxa, ou seja, ele cai para 7,7%. Para investimento, a disponibilidade é de R$ 650 milhões. Esse dinheiro está sendo disputado por Estados mais eficientes, cooperativas de crédito que avaliam produtores, dando margem ao surgimento de vários arranjos, pois os empréstimos têm 2 anos de carência e 8 anos para serem pagos. Ë uma linha de crédito exclusiva com recursos do Tesouro Nacional.

Além disso, existe o Pronaf Município, que cede verbas para a cidade montar ou construir toda rede infra-estrutura de apoio aos pequenos e até médios produtores. Martin lembra que para ter acesso ao Pronaf, o pretendente precisa comprovar que 80% da receita provém da propriedade.

Aliado ao mercado e aos preços, o aparato financeiro pode assegurar uma expansão 2% a 3% na área de plantio de grãos. Na safra passada foram plantados 36,42 milhões de hectares, com uma queda de 1,4 em relação ao período 95/96. Apesar desse recuo, a produção teve um aumento de 7,7% devido ao uso mais intenso de tecnologias pelo agricultor. Para esta temporada, a perspectiva é de que haja entre 6% a 10% em ganho de produtividade.

Com relação ao zoneamento agrícola, Martin indica um fator relevante que é a decisão do governo de reduzir no geral, em um ponto percentual o valor a ser pago pelo agricultor ao Proagro. A redução mais notável contempla o feijão, cuja taxa cai de 11% para 5,7%. Outras culturas também foram beneficiadas como algodão que, de 7% caiu para 3,9%, o milho, de 7% para 2,9%, entre outros. Para ele, essa medida é estímulo para o plantio em tecnologia de baixo risco. Outro fator não menos importante, segundo Martin, é que o governo está pagando as dívidas do Proagro antigo, que vem rolando desde o governo Collor.

As previsões da Anfavea – Associações Nacional dos fabricantes de Veículos Automotores, de um aumento de 40% na venda tratores e de 50% na venda de colheitadeiras, em relação ao ano passado, além de um crescimento de 15% na demanda por fertilizantes e outros e outros 15% na pesticidas, podem ser vistas como uma resposta dos agricultores ‘as medidas anunciadas.

Nesse contexto, as estimativas são de que alguns produtos deverão mostrar um ganho notável de área e até produtividade. Um deles é o algodão que, conforme Martin, deverá mostrar uma expansão de até 30% na área de plantio. A soja, que preço e mercado favoráveis, deve ter um acréscimo de 10% no cultivo. Já o milho deve ter um recuo de 3%, em São Paulo e uns 20% em Mato Grosso e, no geral, uma redução média de 10%. O mesmo acontece com o feijão que, perde 5% da lavoura. Em compensação, o arroz deve ter um crescimento de 6% a 8% no plantio.

De acordo com pesquisador do IEA, apesar da expansão prevista, o arroz deverá ter uma importação de até 500mil toneladas, na próxima temporada. As compras deverão ser feitas basicamente no Mercosul, principalmente da Argentina e Uruguai, onde a lavoura é tocada por brasileiros. O fato dos rizicultores gaúchos terem cruzado a fronteira é explica, por Martin, pela existência de melhores condições de produção, como insumos e terras mais baratos.

A possibilidade do País promover uma corrida ás importações agrícolas não assusta Martin, para que as exportações da agricultura brasileira devem fechar 97 com uma receita de U$ 15 bilhões Segundo ele, o café terá um aumento de 60% no valor das vendas externas, a soja, 25%, o frango, 30%, o açúcar vai faturar UU$ 2,6 bilhões.

O setor cítrico, em função de boa safra norte-americana, perde na receita, mas aumenta o volume exportado. Fumo e carne bovina se mantêm estáveis, mas suínos podem aumentar até 40%, devido ao surto de peste suína que acontece na Europa, em vários países, entre eles, Alemanha, Itália e Holanda. Dessa forma, eventuais importações serão pagas pelo próprio setor. Seria bom que o mesmo ocorresse em outros setores, conclui.

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