Pecuária

Genética

Com sua pecuária de seleção em franca expansão, o Brasil consome uma enorme fatia do mercado mundial de animais, sêmen embriões, configurando-se, hoje, no melhor mercado do mundo para venda de genética, tanto de bovinos leiteiros, como animais de corte. As principais empresas do setor não param de investir no país e, mesmo quem estava sofrendo com as barreiras impostas aos produtos de origem européia estão encontrando saídas para não perder seu espaço.

Com mercado em plena expansão e altamente comprador, o Brasil se tornou nos últimos anos um verdadeiro paraíso para as empresas especializadas na venda de animais, sêmen e embriões, sobretudo as que trazem material genético do exterior. As facilidades oferecidas para quem quer adquirir animais fora do País e preocupação constante dos pecuaristas brasileiros em melhorar o padrão e a produtividade do rebanho nacional de leite e corte, fez com que proliferassem as importadoras, algumas com estrutura bastante simplificada, onde uma sala com telefone e alguns poucos botijões de sêmen são suficientes para viabilizar a atividade. A forte concorrência estabelecida nos últimos anos entre as várias raças taurinas, impulsionadas pela febre do cruzamento industrial e a tentativa de dar maior precocidade ao gado zebuíno, predominante no país, também ajudou a aquecer os negócios.

O surgimento de casos de ESB (Encephalopatia Espongiforma Bovina) ou Síndrome da Vaca Louca em países da Europa, porém, pegou parte do mercado brasileiro surpresa, com a decisão do governo federal de proibir, num primeiro momento, a importação de países tradicionalmente fornecedores de genética para o Brasil, como França, Alemanha e Inglaterra, entre outros. Isso, numa época em que o setor apontava apenas previsões otimistas quanto a possibilidade de crescimento cada vez mais acelerado.

Quem se apoiava exclusivamente na Europa como fornecedor, teve que correr atrás de alternativas para manter-se funcionando ante e após o término de seus estoques. As medidas tomadas por estas empresas foram das mais diversas, desde a restrição dos negócios a clientes preferenciais até a ampliação dos serviços prestados, deixando de depender totalmente das importações, além de procurar também parceiros comerciais nos Estados Unidos e Canadá. Uma das empresas que adotou tal estratégia é a Florin Genética Animal Ltda, que trabalhava, essencialmente, com as raças Simental, Blonde De’ Aquitaine e Red Angus. Depois de diminuir consideravelmente seu estoque, a empresa decidiu buscar parceiros na América do Norte. Tivemos que nos adequar a realidade que estamos enfrentando . Já fizemos uma primeira importação dos Estados Unidos e estamos nos preparando para a Segunda. Agora, vamos trabalhar com nosso estoque antigo e com esse novo material que adquirimos, explica. Para César Arruda, proprietário da Florin, no trabalho ficou difícil, já que até hoje a empresa trabalhava apenas com linhagens consagradas, com touros e genealogia conhecidos: Agora, estamos recomeçando nossas pesquisas, conhecendo fazendas da América do Norte e trazendo o melhor desses países, afirma. César é um dos que acreditam no fortalecimento de centrais americanas e canadenses com essa situação atual. Para ele, será difícil a concorrência. Temos que manter nossa clientela e, depois da abertura, investir muito para retomar nossa parte no mercado, analisa.

Ulrich Lenk, por exemplo, profissional que trabalhava apenas com importação de material genético europeu, ampliou estrategicamente a prestação de seus serviços e criou uma nova empresa, a Focus Global trading que, além de ainda trabalhar com sêmen de gado selecionado, também presta consultorias técnica e de mercado. A Focus esta atuando ainda na área de meio ambiente, com projetos de agricultura orgânica, tratamento de esgotos e afluentes, usinas de compostagem, entre outros. Continuamos no mercado de material genético trabalhando com estoque e não gostaria de deixá-lo. O rebanho brasileiro precisa desse material para sua evolução genética, por isso, é muito importante que esse problema da vaca louca seja para acabar essa barreira, afirma.

Mas, se a barreira sanitária prejudicou as pequenas e médias empresas, pode-se dizer que essa crise foi democrática e atingiu também os grandes grupos de distribuição da genética européia. Um exemplo é a Sersia France, grupo que representa cooperativas de produtores franceses respondendo por 90% das importações provenientes daquele país, que há cerca de três anos estava investindo alto no Brasil, com presença nas principais exposições e representantes de peso no mercado. Para atravessar esse período, no início do ano, a empresa empenhou-se em divulgar os esforços do governo francês em controlar e identificar a doença da vaca louca, com o seu objetivo de tranqüilizar seus consumidores em relação ao material vindo daquele país. Não adiantou e, com o impedimento, a Sersia France deixou o marketing de lado e passou a procurar parceiros para garantir sua atuação no Brasil. Adriano Rubio, gerente de mercado da Yakult, informa que a Sersia France e a Yakult firmaram uma parceria e irão atuar juntas no setor, assim que a barreira sanitária terminar. Vamos intensificar ainda mais o nosso marketing e oferecer um serviço diferenciado a todos os nossos clientes, a fim de ocupar um espaço importante nesse mercado, que é oferecer apenas produtos provados na França, declara.

As empresas parceiras de centrais americanas e canadenses vêm aumentando suas vendas ano a ano, mas não admitem ser a barreira sanitária, a única responsável pelo crescimento na comercialização. De acordo com Luiz de Moraes Barros, diretor da Genética Avançada, essa proibição ajudou muito pouco. Para Donário Lopes de Almeida, da Pecplan/ABS, a reestruturação do mercado foi a grande responsável pelo desempenho comercial favorável da empresa. Ela afirma que o principal reflexo dessa barreira foi a disseminação de produtos de animais que já estavam no Brasil. O mercado está forçando a coleta de embriões e semen para a disseminação dessa genética. Em nossas centrais, já existem touros que foram exportados antes da barreira para coleta de semen, conta. Ele afirma que o fechamento sanitário provocou um aumento de touros em suas entrais, mas por outro lado, a Pecplan/ABS mantinha acordo com empresa europeias e também foi prejudicada. Mas, acredita que a abertura do mercado vai encontrar os fornecedores da genética norte-americana em uma posição mais vantajosa e que os demais fornecedores terão que reiniciar seus trabalhos em uma nova realidade.

Para Heverardo Rezende Carvalho, diretor da Alta Genetics-VR, quem não trabalhar com um número maior de opções para seu consumidor, com parceiros do mundo todo, vai acabar sumindo do mercado. É uma tendência mundial, a barreira só está acelerando o processo para que as pequenas empresas perceberam que você tem que Ter de tudo e da melhor qualidade, enfatiza.

Dorival da cruz, da Semex, concorda com a importância de Ter material genético diversificando e de qualidade. Nós costumamos dizer que genética não tem fronteira, afirma ele. O fechamento nos beneficiou indiretamente, pois o estoque dessas empresas foi acabando e deixando um espaço. Mas, não existe um criador fechado 560 em uma única linhagem, por isso, a barreira não foi a única responsável pelo aumento de nossa produtividade, informa. A Semex, esse ano já contabilizou um aumento de 20% em suas vendas em relação ao ano passado.

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