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Com ecossistema 100% equilibrado, fazenda não utiliza insumos químicos

Como chegar ao ponto de conquistar um ecossistema tão perfeitamente equilibrado, de forma que os próprios agentes naturais sejam capazes de suprir nutrientes e combater pragas da plantação? É essa experiência de quem conquistou o patamar ideal em sua propriedade que o engenheiro agrônomo Marcelo Urtado irá compartilhar durante o III Simpósio de Manejo Biológico de Café, realizado nos dias 5 e 6 de outubro em Franca (SP).

Com o tema ‘As práticas que nos levaram ser carbono negativo’, Urtado levará aos participantes informações sobre as práticas conservacionistas na agricultura, focadas na adoção de ações que visem à redução do balanço de carbono, ou seja, sequestrar mais do que emitir.

“Uma das iniciativas que me fizeram chegar a esse equilíbrio é manter o solo todo da fazenda coberto o tempo, com plantas de cobertura e árvores variadas, inclusive trazendo a natureza para dentro da área produtiva, no meio do café. Dessa forma, mudamos o ecossistema, criando um meio conservativo e dependendo menos de insumos externos”, explica o agrônomo.

Apesar de Marcelo ter nascido em uma família que trabalhava com plantação de café, e sempre ter trabalhado na fazenda da família, somente em 2016 iniciou na atividade como produtor, quando ele e a esposa adquiriram a Fazenda Três Meninas, em Monte Carmelo, no cerrado mineiro. “Quando compramos a fazenda, já iniciamos o manejo conservativo. E este é um processo de médio a longo prazo, mas que, para garantir os resultados, não pode queimar etapas”, alerta.

E completa: “Com este manejo, a fazenda fica mais equilibrada, resiliente. A natureza é nossa sócia, mas precisamos fazer a nossa parte para a natureza nos ajudar”, orienta.

Urtado explica que, quando começou o processo de transição, o cafezal ‘estava na UTI precisou de quimioterapia’. “Tivemos um aumento de custo de 20% para fazer a transição, que durou em torno de quatro anos e meio, mas a produtividade se manteve. Fizemos uma transição lenta, por isso conseguimos manter a produção”, explica.

Hoje a propriedade não utiliza nenhum produto químico para equilibrar as pragas. “O objetivo não era deixar de utilizar o insumo, mas sim deixar o ambiente estabilizado. Porém, conquistamos um equilíbrio a tal ponto que hoje não precisamos utilizar mais nenhum. Porém, quando há necessidade, uso o insumo biológico. Mas é importante ressaltar que, no período de transição, é indispensável esse uso consciente do insumo químico até chegar a esse ecossistema equilibrado”.

E essa mudança, além de beneficiar o meio ambiente, se reflete no bolso. “A redução nos custos com fertilizantes foi em torno de 47%, na última safra”, explica.

Paladar consciente

Segundo o agrônomo, a fazenda conquistou uma visibilidade muito maior devido à utilização das práticas conservacionistas, já que, dentre outros pontos, atende uma demanda global do consumidor de café. “Cada vez mais, as pessoas querem o produto com rastreabilidade, saber quem produz e de que forma”.

Neste contexto, a propriedade começou a vender para torrefadoras de cafés de especiais e o produto é comercializado como ‘café carbono negativo’, garantindo ainda mais valor agregado ao produto.

Parcerias

Esse não foi um processo que Marcelo trilhou sozinho. Ele contou com as orientações e consultorias de pesquisadores e profissionais de instituições como a Epamig, a Universidade Federal de Uberlândia e o consultor Alessandro Guieiro. “Eu me cerquei de um time forte e os resultados de pesquisas eu coloquei em prática no campo. O trabalho funciona, mas é preciso dar um passo de cada vez, construindo um ambiente na fazenda. O importante é primeiro buscar conhecimento para, então, dar início ao processo de transição para o manejo conservativo”, orienta.

Vale ressaltar que Marcelo também é presidente do Consórcio Cerrado das Águas, que reúne entidades e representantes da cadeia produtiva, que defendem a agricultura climaticamente inteligentes.

Foto: Adobe Stock

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