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Solução de controle biológico reduziu infestação de carrapatos

Estima-se que os carrapatos produzem enormes perdas para a pecuária nacional, da ordem de R$ 10 bilhões por ano, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Um prejuízo considerável, que decorre de adversidades que os produtores conhecem muito bem: estresse do animal, perda de peso, queda de produção, gastos com carrapaticidas e medicamentos, descarte de leite e até a morte dos gados.

O Estação Recriar, programa de cria e recria da Coopatos, uma das principais cooperativas de laticínios do país, localizada em Patos de Minas (MG), enfrentava alguns desses problemas todos os anos. Foi então que a cooperativa conheceu a Decoy, primeira empresa a levar o conceito de controle biológico para a área de saúde animal no mundo, e que criou uma forma alternativa e sustentável de contenção da praga.

A tecnologia pioneira utiliza da própria força da natureza para combater os carrapatos: são os fungos, mais precisamente um exército de bilhões deles, que fazem o trabalho de eliminar o parasita, de forma natural e sem o efeito colateral do desenvolvimento da resistência, como acontece com os carrapaticidas químicos, que deixam resíduos nos alimentos e são tóxicos para os animais, seres humanos e meio ambiente.

A solução é resultado de muito investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico. “Quando fomos buscar uma forma de fazer o controle dos carrapatos utilizando uma armadilha, identificamos duas espécies de fungos que são especialistas no seu controle. A natureza dispõe dos microrganismos para manter o equilíbrio desse sistema ecológico”, explica o consultor comercial da Decoy, Vitor Granado. Uma vez identificadas as cepas mais promissoras, a startup passou a produzi-las em laboratório, o que envolveu uma inovação em relação ao processo convencional de cultivo de fungos para controle biológico e resultou em maior pureza e eficiência no produto final.

A Coopatos, então, decidiu testar a solução. “O ciclo de vida do carrapato é formado por duas fases: uma de vida livre e outra parasitária. Quando olhamos para a população de carrapatos de uma propriedade, vemos que 95% deles encontram-se no pasto, ou seja, na fase de vida livre. A infestação nos animais é só um termômetro de como está a propriedade”, esclarece Granado. No Estação Recriar, foram aplicados dois produtos: um no rebanho, que conta com cerca de 100 animais, e outro na pastagem.

Ao combater os parasitas ainda em sua fase de vida livre, a solução evita a reinfestação dos animais da fazenda, rompendo o ciclo de contaminações. Isso acontece porque os fungos são eficazes no controle do carrapato em qualquer fase do seu ciclo de vida. A solução não deixa resíduos na pastagem e não causa nenhum dano ao meio ambiente, sendo, portanto, uma tecnologia sustentável, que agrega matéria orgânica ao solo.

Antônio Villaça, gerente do Departamento de Relacionamento com o Cooperado da Coopatos, acompanhou todo o processo de aplicação dos dois produtos e os resultados alcançados em poucos meses: “Tem dado muito certo, não só nos animais, mas especialmente no pasto. O resultado no pasto nos impressionou bastante, porque a gente não tinha noção do tamanho da infestação. Outro fator importante é que nossos trabalhadores, que fazem a aplicação, não correm risco de intoxicação. O resultado está sendo muito positivo”, destaca.

Como funciona

Os fungos no produto encontram-se em seu estado latente, os esporos, que estão conservados em um óleo vegetal emulsionável. A forma de aplicação do produto é por meio de pulverização, portanto, o produtor precisa realizar o preparo de uma calda. Quando os esporos entram em contato com a água, iniciam um processo de ativação (germinação do fungo). E, ao ser colocado em contato com o carrapato, por meio da pulverização – seja no pasto ou nos animais -, o fungo completa seu processo de ativação, alojando-se no interior do parasita e desenvolvendo-se ali, até levá-lo à morte.

A solução não apresenta riscos para a saúde do animal e de quem aplica o produto. E, por não ser tóxica, é segura para animais em quaisquer condições, como vacas prenhes ou animais debilitados. “O carrapato e o fungo interagem na natureza há milhões de anos, então o parasita não cria resistência à solução porque o processo é natural”, explica o consultor comercial da Decoy. Por ser um produto 100% biológico, não deixa qualquer tipo de resíduo no leite ou na carne que são produzidos, trazendo ainda mais segurança alimentar para toda a cadeia produtiva, fator que vai ao encontro de uma tendência de consumo que se consolida a cada dia: de consumidores que buscam conhecer todos os processos do alimento, dando preferência para aqueles produzidos com condições dignas de trabalho, respeito pelo meio ambiente e bem-estar animal.

Em se tratando da pecuária de leite, tem uma vantagem adicional: o produtor não precisa aguardar o prazo de carência após aplicação do carrapaticida para poder entregar o produto. “Com o uso de inseticidas, o produtor pode descartar cerca de 60 L de leite. Já a solução de controle biológico garante o bem-estar animal, não deixa resíduos, atende a demanda do produtor e também do mercado consumidor, que pede atenção à sustentabilidade e saúde animal”, completa.

Com a comprovação da eficácia e segurança da tecnologia, a Coopatos e a Decoy firmaram um convênio para disponibilizar as soluções aos cooperados, com foco inicial nos fornecedores de leite. “Nossa intenção é facilitar, para todos os cooperados, o acesso à tecnologia de controle biológico de carrapatos. É um benefício que queremos gerar ao cooperado, que já é consciente que o tratamento convencional é uma guerra perdida, causa muitos gastos, e funciona por poucos meses”, afirma Villaça. “Com uma ferramenta biológica, queremos ser um ponto de apoio tecnológico e inovação na região. Nosso foco é aderir à tecnologias e inovações sustentáveis para o negócio, garantindo o bem-estar do animal e do produtor, a diminuição de custos, e a sustentabilidade”, finaliza.

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