Edição do Mes Pecuária

É possível e lucrativo criar camarão marinho em viveiro

Revista Rural 261 / março 2020 – De sabor marcante, utilização na alta gastronomia e predileção entre as iguarias do mar, o camarão cada vez mais tem caído no gosto da população brasileira. Mas, se engana quem pensa que a criação das variedades de água salgada são feitas apenas nos litorais. Os amigos e sócios Daniel Pereira e Dalton Nielsen através da tecnologia, conheceram um jeito para a criação do animal e fazem isso bem longe da areia, sombra e água fresca. É na cidade de Taubaté, a aproximadamente 140 km da capital paulista, que funciona a Aqualuz Camarão. 

O projeto nasceu em novembro de 2017, mas desde 2015 vinha sendo estudado e preparado pelos sócios. “Após o Dalton ver o jeito certo de fazer está criação, no início de 2017 partimos para a fase de viabilizar economicamente e botarmos em prática a empresa”, declara Pereira. Para isso, ele conta que o cenário escolhido foi uma propriedade que já possuía e com isso, a instalação física do projeto começou a tomar forma. “O primeiro passo foi cavar os tanques de engorda e berçário, além de uma estufa. No tanque cabem 200 mil litros de água, e enchemos metade com água do mar e metade com água doce”. Entre a instalação e a busca no litoral, o custo de investimento foi de R$ 40 mil, e a água foi trazida por dois caminhões-pipa de inox, que desciam até um píer alugado a R$ 200 por vez utilizada.

O produtor conta que em torno de 20 dias toda água foi trazida para o tanque, e ele estava apto para funcionamento. “Os caminhões saíam às 6 horas daqui, às 10 h estavam carregados na região de Caraguatatuba, litoral Norte de São Paulo, e chegavam de volta a propriedade às 15 horas. Despejavam o material no tanque e começávamos o tratamento”, diz. Inicialmente este investimento foi feito em dois tanques, ou seja, preço dobrado em todas as fases para ter a estrutura pronta para utilização. Mas, com o diferencial do negócio, uma empresa de estufa sugeriu uma parceria para virarem modelo no mercado, já que era uma coisa inovadora e ninguém fazia em escala comercial. “Com isso, pulamos para cinco tanques e começamos a criar através do sistema de biofloco”, declara Nielsen. 

O biofloco, ou BFT, nada mais é do que o cultivo de camarões com mínima ou nenhuma renovação de água, e teve seu início marcado pelas primeiras citações na Polinésia Francesa, nos anos 80. “É um sistema com ativação da alça microbiana e utilização de elevadas densidades de estocagem”, diz Nielsen. Através do estudo e conhecimento dos sócios, atualmente a Aqualuz utiliza um protocolo próprio e muito similar ao BFT tradicional. Nele, é feito o tratamento da água do mar para separar apenas os micróbios e nutrientes que precisa. “Além disso, replicamos e fazemos a salinização artificialmente, com os equilíbrios dos íons e cations”, comenta. É por causa desta técnica que os produtores não precisam mais ir até o litoral em busca da água salgada e a tem na propriedade durante o ano todo. “A água do BFT dura cerca de dois ciclos. Ou seja, teríamos que buscar água no mar de tempos em tempos, o que inviabilizaria o negócio”.

Mas, e os camarões?

Se a água foi trazida da região litorânea paulista, os camarões vêm de bem mais longe. As compras são realizadas em dois dos principais laboratórios especializados no assunto, o que faz com que as larvas do animal venham diretamente do Nordeste, de avião. “Temos uma parceria com uma companhia aérea e a cada voo o valor do frete varia, uma vez que a compra é por peso e cada laboratório tem um preço diferente do outro”, diz Pereira. Para exemplificar, quando a compra é feita na Aquatec, o frete custa em torno de R$ 800,00, que é exatamente metade do valor feito à carga da Aquasul. “A cada lote, 150 kg de larvas são trazidas, o que dá entre 150 e 180 mil larvas por tanque para povoamento. Já a periodicidade depende dos lotes vendidos por nós aqui”.

Com a chegada delas, o primeiro passo é deixá-las num processo de aclimatação. As cargas são compradas na fase Pós-Larva de dez dias (PL 10) e a aclimatação é feita dentro de uma caixa d’água de onde se tira o gás carbônico e regula-se o PH com o do tanque. “Também nesse momento analisamos a amônia e a temperatura. Nesse protocolo, a cada uma hora é colocado de 10 a 20% da água do tanque na caixa de aclimatação”, declara Nielsen. O produtor conta que no berçário, a PL 10 consome diariamente 50% de seu peso, o que a faz trocar de casca constantemente, devido ao processo de crescimento. “No começo elas devem ser alimentadas de duas em duas horas para aumentar sua vitalidade. Inclusive, há pessoas que varam a madrugada para realizar isso”. Esse protocolo com função antiestresse e de manejo também foi desenvolvido na Aqualuz. Após cerca de 20 dias o animal está com um peso que vai de 0,8 a 1 grama e segue para a próxima fase da criação.

Da engorda até a venda

Com a saída do berçário, o próximo passo é a engorda, onde o protocolo de alimentação muda. “Aqui, quanto mais o camarão cresce, mais diminuímos o volume de ração”, comenta Pereira. Neste processo, o animal fica entre 60 e 75 dias em dois tanques, até que atinja a pesagem de  10 a 12 gramas. “No ciclo completo, desde o laboratório até o peso final, perdemos até 20% da produção”. 

Após o processo de engorda, a comercialização do camarão é através da venda direta. “Por passar por este processo tecnológico, ele é diferenciado e rastreado, além de ser ecologicamente correto, pois não há desperdício de água e nem resíduos jogados no meio ambiente”, diz o produtor. Segundo Pereira, a Aqualuz não utiliza nenhum químico na produção, o que faz o camarão ser 100% fresco e não-sazonal, ou seja, produzido durante o ano inteiro.

Potencial expressivo de crescimento

A criação de camarão de água salgada em tanque já é incomum por si só, e a carteira de clientes da Aqualuz é um reflexo disso. Por causa da qualidade, e também da oferta ao longo dos 12 meses do ano, Pereira revela que 80% de quem compra os animais terminados vem do litoral Sul de São Paulo. “Basicamente são pescadores, restaurantes e peixarias que viajam até aqui para buscar o produto, assim que avisamos que há estoque. Inclusive, temos um caso de um rodízio de comida japonesa que só oferece o cardápio premium quando tem nosso camarão”, diz. Segundo o produtor, os outros 20% são vendidos para varejos da região interiorana.

Atualmente, a produção da Aqualuz varia de uma tonelada a 1,5 t/mês, e o quilo do camarão é vendido a R$ 60,00, tendo o custo de produção em R$ 17,00/kg. Dalton diz que o plano até o fim de 2020, é subir está capacidade para duas toneladas/mês. “Este é um negócio em franca expansão no País, onde a demanda é mais alta que oferta para todos”.

Segundo estimativa de dados Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), em 2019 foram produzidas 90 mil toneladas de camarão em cativeiro e 50 mil toneladas de camarão pescado. Já o consumo foi de 200 mil/t, o que comprova o bom momento para se produzir e vender o animal. “Nós vamos continuar investindo em nosso processo de criação e venda, tentando aumentar ao máximo a produção, sempre mantendo a qualidade e o frescor em nossos produtos”, declara Pereira.

9 Responses

  1. Sou do interior de Minas Gerais e tenho interesse em criar camarão em cativeiro. Existe alguma empresa de consultoria especializada nesse assunto, que possa nos ajudar?

  2. Gostaria de criar camarão marinha ou camarão rosa… Aqui no Pará….mas queria saber qual melhor meio

  3. Sou de Teresina-Pi, tenho interesse em criar camarão com um processo de salinização da água, poderiam me dar dicas?

  4. Sou de Teresina-Pi, tenho interesse em criar camarão, em água doce poderiam me dar dicas?

  5. Sou da Paraíba, mas tenho interesse em aprender sobre a criação de camarão para ajudar uma amiga que está querendo investir no interior do Rio de janeiro. Como posso entrar em contato com vocês?

  6. Sou de Santa Catarina tenho um açude de água salgada, gostaria de ter alguma consultoria para criação de camarão, alguém poderia auxiliar?

  7. Boa tarde,já estou preparando a água para criação do camarão, mas será que preciso de licença, tipo tem alguma regra para se abrir esse negócio?
    Queria saber tbm onde comprar a ração tbm,sou de vila velha Es.

  8. Olá!
    Tudo bem?

    Gostaria de saber de vocês fornecem ou indicam algum tipo de curso,treinamento ou preparação para quem tem interesse em ingressar nessa área?

    Desde já agradeço a atenção.

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