Sustentabilidade

Fitorremediação: Plantas para recuperar Brumadinho

Após 45 dias do após o rompimento da barragem na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, a cidade ainda enfrenta o desaparecimento de parte das vítimas e muitas famílias seguem desabrigadas. Além disso, os danos causados ao solo e ao rio Paraopeba prejudicam a retomada de atividades econômicas da população local. Uma das possíveis hipóteses para ajudar no processo de recuperação socioeconômica e ambiental da região é o uso da técnica de fitorremediação, estudada no Brasil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) há mais de uma década.

O processo consiste no uso de plantas com poder de acumularem substâncias poluentes. Ou seja, elas retiram esses elementos do solo e os transferem para si mesmas. Essa seria uma alternativa para “limpar” a área contaminada pela lama e, depois, dar destinação adequada às plantas. Segundo o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), doutor em Fitopatologia, especialista na área de biologia molecular vegetal e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Marcelo Gravina, o uso de vegetais para este fim em Brumadinho deve ser considerado uma opção.

“Como a contaminação ambiental do local se dá por rejeitos de minério que não são biodegradáveis, eles não serão decompostos pela natureza. Para limparmos a área, será preciso retirar alguns desses agentes poluentes de lá, a exemplo dos metais pesados”, esclarece Gravina. Segundo comunicado conjunto das Secretarias de Estado de Saúde, do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, a lama que contaminou a área de Brumadinho tem altas concentrações de variados metais, como níquel, chumbo e cádmio. Gravina, inclusive, já conduziu um estudo sobre a capacidade de plantas hiperacumuladoras de cádmio usando tomates transgênicos como modelo.

O professor adianta que, provavelmente, o melhor caminho seria realizar a descontaminação do solo em três fases, que poderiam ser implentadas paralela ou sequencialmente. Seriam elas: o plantio de espécies de plantas que conseguem, naturalmente, crescer em condições adversas, como a Maricá (árvore leguminosa nativa da Mata Atlântica). Isso seria parte da estratégia de, lentamente, transformar a subsolo que foi trazido para a superfície em solo por meio do depósito de matéria orgânica na área. Com o tempo (algumas décadas, nesse caso), a região estaria preparada para receber outros tipos de vegetação. Embora importante, essa estratégia é lenta e não eliminaria do solo os resíduos de metais provenientes da lama que foi derramada sobre a região.

Paralelamente, poderiam ser plantadas espécies que possuem naturalmente propriedades de acumulação de metais, como a mamona. Isso, feito de maneira planejada, gradualmente retiraria os metais contaminantes do solo e poderia gerar resultados satisfatórios em 10 ou 15 anos, a depender do desempenho dos vegetais e das espécies plantadas. Finalmente, poderiam ser usadas na área plantas transgênicas modificadas para acumularem de maneira ainda mais eficiente esses resíduos e, nesse caso, supondo que as esses vegetais já estivessem disponíveis, seria possível descontaminar a área em menos de 10 anos.

Na estratégia do uso de plantas acumuladoras de metais, transgênicas ou não, seria indispensável que as espécies não tivessem partes comestíveis (para evitar que animais e a população se alimentassem deles e se contaminassem) e, ao mesmo tempo, que viabilizassem alguma atividade econômica (para dar às famílias da região uma alternativa economicamente viável). “As técnicas de engenharia genética hoje já permitem, por exemplo, identificar genes responsáveis por características de acumulação de metais, a exemplo de sequências de DNA do tomate. Esses genes, transferidos e superexpressados em plantas como a mamona ou o eucalipto, poderiam limpar a área e, simultanamente, oferecer à população uma alternativa de sustento, por meio do óleo da mamona ou da madeira do eucalipto.” explica Gravina.

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