Pecuária

Funcionalidade a toda prova

Sedimentando sua seleção genética nas qualidades da raça Senepol, a Agropecuária Nova Vida visa implantar uma pecuária funcional, produtiva e lucrativa mais ao Norte do país.

Mesmo em uma época em que o uso da biotecnologia na reprodução era pouco difundido, o pecuarista e fundador da Agropecuária Nova Vida, João Arantes Júnior, falecido em 2003, baseou seu projeto de pecuária funcional, produtiva e lucrativa, no melhoramento genético, visado o crescimento do setor no mercado brasileiro. “Ele sempre dizia que tudo era difícil, não haviam estradas, sequer luz elétrica e tudo o que chegara em Rondônia eram animais de refugo das exposições realizadas no Mato Grosso”, declara Ricardo Arantes, um dos filhos do seu João e um dos diretores da empresa.

Segundo ele, em um primeiro instante, Arantes Júnior, optou pela pecuária de ciclo completo e engorda a pasto. “Para desenvolver seu plantel de base, visitava constantemente fazendas mais ao Sul e Sudeste, onde o melhoramento genético era uma preocupação recorrente”, diz. Ao mesmo tempo que produzia, fazia de tudo para compartilhar técnicas e conhecimento com demais criadores, tanto é que acabou por liderar um amplo movimento de conscientização dos produtores sobre os fundamentos do melhoramento genético.

A importação do Senepol

Na década de 90, a pecuária brasileira vivia um amplo movimento para o cruzamento industrial. A oportunidade de produzir uma carne de melhor qualidade era tentadora, mas a dificuldade estava em encontrar taurinos mais resistentes ao clima tropical e suas intempéries. Como consequência, a técnica enfrentou sobressaltos. A solução viria com a inseminação artificial, mas poucos dominavam seus protocolos. João Arantes Neto, também filho do seu João e direto da Agropecuária, diz que o primeiro contato com o Senepol foi no final da década de 90, quando participavam de um programa que visava a implantação de uma raça composta. “Foi quando meu pai teve acesso a doses de sêmen desta raça e resolveu testá-los em seu rebanho de matrizes zebuínas”. Neto comenta que ficou surpreso com a qualidade e precocidade dos bezerros. Eram mochos, de pelagem curta e avermelhada, muito uniformidade e com grande desenvolvimento e adaptabilidade. O entusiasmo foi tanto que o levou a estudar a possibilidade de ser pioneiro na importação de animais da raça.

Para desenvolver seu plantel de base, seu João visitava constantemente fazendas mais ao Sul e Sudeste, onde o melhoramento genético era uma preocupação recorrente.

“No ano 2000, fomos convocados por ele para conhecer a raça nos Estados Unidos. Visitamos muitas propriedades e um pesquisador renomado que confirmou as previsões de nosso pai”, declara Ricardo. Segundo ele, após a viagem, de tanta empolgação, quase que instantaneamente, seu João fez com que os filhos retornassem ao exterior, dessa vez, para comprar os animais.

Neto conta que tudo foi feito em uma grande operação, envolvendo reuniões exaustivas no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), para a criação de um protocolo sanitário que permitisse a importação. “Reunimos 72 animais Senepol provenientes dos melhores cria-tórios americanos na Florida e fretamos um jato DC-9 contratado para o transporte. Aqui no Brasil, uma autorização havia sido concedida pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) para que o pouso fosse em Porto Velho (RO). Após horas de viagem, o anúncio do desembarque, no dia 11 de novembro do ano 2000”.

Os primeiros resultados

Logo na época da chegada, um laboratório recém-construído aguardava o gado, e o trabalho envolveu mais de quatro mil receptoras. “A meta era gerar duas mil prenhezes em um ano, mas o projeto consumiu mais seis meses, o que pode ser considerado pouco diante dos contratempos”, declara Ricardo. Na primeira safra, nasceram 1.200 e nos seis meses seguintes mais 800.

A etapa seguinte seria a comercialização dessa genética no Brasil. Não sabendo ao certo como divulgar a raça, a Nova Vida optou, num primeiro momento, em divulgar as potencialidades para o cruzamento industrial. “No dia 10 de setembro de 2003, promovemos o 1° Leilão Senepol Nova Vida & Convidados, com 21 reprodutores em oferta”. O destaque veio com a oferta de Nocona, arrematado por R$ 77 mil. “Já em 2004, fizemos o Leilão Pioneiros da Raça Senepol, em São Paulo, e faturamos mais de R$ 600 mil com 35 ventres e cinco raçadores”, diz.

Após os leilões, não foram mais realizados eventos deste gênero, devido ao mercado promissor que a empresa construiu em Rondônia, Acre, Amazonas, Pará e Mato Grosso. “As vendas passaram a ser exclusivas em nossos tradicionais dias de campo e shopping de reprodutores. Pelo crescimento acelerado nos últimos anos, em 2013, resolvemos voltar para o circuito”, declara Neto.

O crescimento do Senepol

O Senepol cresce no mundo todo, especialmente nos países de clima tropical como o Brasil, que são aqueles com mais chances de elevar a capacidade produtiva para atender à crescente demanda mundial por carne bovina. “Pelos investimentos nos Estados Unidos, fui convidado a participar do conselho administrativo da Senepol Cattle Breeders Association (SCBA), a associação da raça mais antiga do mundo e que tem um lobby internacional fortíssimo”, diz Neto. Recentemente, foi convocado um encontro entre lideranças da raça espalhadas pelo mundo. No evento, mais de 16 países foram representados. “Todos relataram sobre o papel desempenhado pela raça no aumento da produtividade e da qualidade da carne a pasto”.

E por falar em produtividade, o Senepol proporciona uma série de ganhos na heterose, resultando em animais pequenos ao nascimento e que chegam ao peso de abate aos 22 meses em regime extensivo. “Os pecuaristas já conseguem ganhos extras de 1,5 arroba na desmama e um aproveitamento médio de carcaça em torno de 56%”, comenta Ricardo. A cobertura de gordura também é um diferencial, variando entre 2,5 e 6 mm, quase sem marmoreio, mas mantendo a maciez da carne. “Além disso, são animais rústicos, bem adaptados e os machos cobrem um grande número de vacas por monta natural”.

Novidades no mercado

Em 2013, sentindo a necessidade de novas linhagens da raça aqui no Brasil, os irmãos Arantes viajaram para os Estados Unidos em busca de novidades. “Em visita a Sacramento Farms, na cidade de Okeechobee, na Florida, recebemos uma oferta pelo rebanho e também um acervo de 60 mil doses de sêmen, respaldo por mais de 13 anos de seleção”, diz Neto. Segundo ele, trata-se do maior e mais variado rebanho de Senepol no país, formado pelas linhagens Castle Nugent Farms (CN) e Annaly Farms (WC) – das Ilhas Virgens, berço da raça – e Prime Rate Ranch (PRR). “Estabelecemos nessa propriedade a Senepol Nova Vida USA para a exportação de embriões e doses de sêmen”, declara.

Paralelo a isto, foi selada uma parceria inédita com a Universidade das Ilhas Virgens, em St. Croix, no Caribe, para perpetuar a marca e a genética Castle Nugent pelo mundo. “Essa é uma das quatro famílias pioneiras que foram determinantes para a disseminação da raça. Compartilharemos esse tesouro genético internacionalmente, a partir do final de 2015, por meio da comercialização de embriões e doses de sêmen”, comenta Ricardo.

Além de tudo isto, também está sendo comemorado os 15 anos de Brasil com a promoção de uma série de eventos, entre leilões e dias de campo. O primeiro aconteceu em março, movimentando mais de R$ 1.6 milhões. O próximo será o 1º Leilão Senepol Babies 3 x 1, que foi dividido em duas etapas. A primeira será no dia 20 de julho, com a venda de 50 fêmeas Senepol Puro de Origem (PO). Três dias depois a oferta será de 100 bezerros da raça, também PO. “Cada lote vendido, seja macho ou fêmea, seguirá com sua receptora (F1 Nelore x Angus) e prenha com um embrião Senepol PO”.

O Senepol é uma das raças que mais crescem no Brasil. Também é uma das que mais recebem novos criadores. “Reunimos o maior plantel do mundo, mas perto da pujança de nossa pecuária, a oferta ainda é muito pequena”, diz Neto. Segundo ele, o trabalho é seguir divulgando os ganhos de heterose no cruzamento industrial, criando mais demandas para os touros e, consequentemente, para animais PO e POI. Neste movimento, aliás, o crescimento é de 20 mil animais registrados em 2012 para quase 40 mil em 2014. “Acredito que a raça é a que mais deve contribuir com a evolução da pecuária brasileira, se tratando de desfrute e qualidade de carne”.

Já Ricardo diz que a empresa tem como objetivo reproduzir a melhor ge-nética da raça em larga escala para torna-la mais acessível no mundo todo. “Outra meta é abrir novos mercado, especialmente nos países asiáticos, como a China, Malásia e Vietnã. Nossa filial no Caribe será estratégica”, finaliza.

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