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O peso do momento

Principal feira do ano, a Agrishow registrou queda no faturamento. Mesmo assim, empresas reconheceram o valor de estar presente e celebraram mais uma edição do evento

Realizada na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo, pela primeira vez em 22 edições, a Agrishow, maior feira do agronegócio da América Latina, fechou com queda no volume de negócios em relação ao ano anterior, que foi de R$ 2,7 bilhões. Neste ano, o montante fechou em R$ 1,9 bilhão, número semelhante ao resultado de sete anos atrás – em 2008, o fechamento foi de R$ 1,8 bi. Segundo os organizadores, a alta dos juros e a incerteza política econômica foram as principais responsáveis pela grande queda na realização de negócios. “Há também expectativa do anuncio do plano safra que poderá mudar ou agravar a atual situação”, declara Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), parte da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), uma das organizadoras da feira. Bastos diz que o mercado está confiante que o governo tenha sensibilidade necessária para anunciar medidas que não agravem o atual quadro, considerando a importância do agronegócio na economia Brasileira.

Por falar em política, durante a cerimônia de abertura do evento, que contou com autoridades como o Vice-presidente da República, Michel Temer, o Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, houve um grande protesto contra o governo federal por parte de manifestantes que estavam dentro do parque. Isto fez com que a programação fosse comprometida, uma vez que nenhuma das autoridades citadas realizou algum discurso, falando sobre a Agrishow. Apesar disso, Estevão comenta que a feira cumpriu bem o papel de ser um grande encontro dos participantes do agro, inclusive no âmbito internacional. “As empresas mostraram as novidades tecnológicas que visam o aumento da produtividade no campo. Todos têm em mente que estamos num momento de viés de baixa no mercado”, diz. No levantamento final, tanto para os 160 mil visitantes, quanto para os mais de 500 expositores que estiveram nos 440 mil? de área que a feira dispõe, o evento foi uma oportunidade de fechar novos negócios e manter o agronegócio como parte fundamental no cenário brasileiro.

Pela primeira vez na feira, a Precision Planting, empresa especializada em fornecer plataformas de serviços para a agricultura de precisão, registrou alto movimento em seu estande, e José Galli, gerente de negócios da marca diz que a satisfação com esta surpresa é grande. “Estamos chegando ao Brasil e chamando a atenção dos agricultores”, declara. Segundo ele, foram executados diversos orçamentos de vendas com agricultores interessados. “Isso mostra que a nossa tecnologia está sendo bem aceita”.

Galli comenta que a maioria das buscas durante a feira se deu pelos mais diversos tipos. “Tivemos curiosos querendo entender o que é a marca, o que estamos oferecendo. Outros já tinham ouvido falar, então vieram buscar solução para implementar em suas máquinas”, declara. Segundo ele, isso nada mais é do que ajudar o agricultor a tomar a melhor decisão para obter melhor resultado, com equipamentos simples, porém, completos.

Já Carlinho Belão, consultor de vendas da Titan diz que por se tratar de uma das principais feiras do mundo, a empresa se programa para não ficar de fora. E a preparação para feira gira sempre em torno da expectativa de fazer contatos e negócios. “Levamos duas revendas para negociar pneu com os clientes. Por vezes o negócio nem é fechado lá, mas o começo da conversa sim. Depois as revendas, espalhadas pelo Brasil fecham a venda”, declara.

Para Belão, a Agrishow é importante pois permite fazer novos contatos e expor a marca para o público. “Cada dia mais o público agrícola está completo. Nossos clientes atualmente têm caminhão, trator, máquinas, implementos, caminhonete, veículos pequenos, entre outros”. Com isso, a diversificação que o evento proporciona se torna fundamental. “Não é à toa que a feira ganhou a fama e o tamanho que tem, e mesmo que o movimento tenha sido um pouco aquém das outras edições, a imagem dela não é denegrida e nem arranhada”, diz.

Participando como fábrica pela segunda vez na feira, a JCB levou a campo todos seus equipamentos, com destaque num pacote agressivo de vendas para os maquinários. “Creio que este foi o maior atrativo do nosso pacote de vendas. Percebemos que neste ano, o cliente veio decidido a comprar e ampliar seu portfólio dentro das propriedades”, declara o gerente de produtos da marca, Fabrício Abe. Segundo o gerente, a principal diferença da edição 2015 da feira, para o ano passado fica por conta da situação do mercado, que passa por um momento incerto e duvidoso. “Mesmo assim, atingimos um relativo sucesso”, diz. Outra grande mudança proporcionada pela companhia neste ano, é a parceria com a Coopercitrus que se tornou distribuidor exclusivo da marca. “Cremos que este foi um fechamento muito feliz e que tende a trazer diversas vendas”, comenta.

O Caminho do Boi

E entre os mais diversos lançamentos, estandes de grande porte, visitação intensa nas empresas, entre outros, uma novidade chamou bastante a atenção do público presente na feira. Trata-se do Caminho do Boi, que marca a volta do setor da pecuária para dentro da Agrishow.

A iniciativa proporcionou aos visitantes simular o caminho realizado pelo boi de corte, desde a fazenda até a mesa do consumidor, passando por importantes etapas do processo, como nutrição, curral de manejo, controle e gestão, sanidade, transporte e frigorífico. Para Renato dos Santos, médico veterinário e um dos idealizadores do projeto, a cadeia produtiva da carne deve estar incluída na Agrishow. “Uma feira com essas proporções, teria que nos ter representados de alguma forma. E o melhor meio de fazer isso, foi com o Caminho, que teve sua primeira experiência durante a Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne (Feicorte), onde foi obtido satisfatório sucesso”, declara.

Santos conta que os visitantes saíram bem satisfeitos com o projeto. “Percebemos que houve uma certa admiração pelo o que foi visto, uma vez que ele não é só voltado para o pecuarista, mas sim para toda cadeia”. Para ele, o passo a passo mostrado é fundamental para o entendimento do público. “Se imaginarmos no início da cadeia, a genética traz benefício para o produtor, porque ele consegue produzir mais carne em um mesmo animal. Com isso, o consumidor ganha com menos animal no staff”. Ele conta que na sequencia vem a nutrição e o manejo. “Mostramos que o produtor ganha por ter maior rendimento de carcaça, e o consumidor ganha por não ter um animal estressado”. Desta maneira, a experiência é conduzida, passando pelo transporte, até chegar a indústria, com equipamentos que cumprem as normativas atuais. “Então, o pecuarista e o próprio consumidor quando passaram pelo Caminho, tiveram essa percepção, o que acaba gerando uma introspecção”.

Choque de realidade

Santos diz que o choque de realidade de passar por tudo que o boi passa é importante, pois alerta toda a cadeia como realmente as coisas funcionam, e demonstra as novidades disponíveis no mercado. “Além de tudo, o Caminho do Boi fez com que os participantes passassem pela situação do gado numa proposta de castração, feita de forma química, com injeção de 1 ml”, declara.

Para ele, a agricultura e a pecuária não têm como andar separadas. “O boi recupera terra e devolve pra agricultura, que por sua vez corrige o solo e devolve para pecuária. Os dois não conseguem andar longe um do outro”. Neste contexto, a Agrishow se torna fundamental para o agronegócio. “Por isso a pecuária está voltando com força na feira. Eu creio que a partir deste ano, a cadeia produtiva da carne estará presente nas seguintes edições”.

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