Agricultura

Balança grãos: campo verde e farto

Os bons ventos pairam na agricultura brasileira. A combinação de demanda aquecida, os estoques mundiais em baixa e uma supersafra fizeram de 2012 um ano de faturamentos recordes.

O ano de 2012 foi um ano memorável nos campos brasileiros. Os estoques mundiais de alimentos em baixa, a quebra na safra dos Estados Unidos e na Argentina, em contrapartida, as condições climáticas favoráveis em determinadas regiões no Brasil, principalmente, na época da “safrinha” e os preços das commodities em alta favoreceram à agricultura brasileira a atingir mais um recorde.

E o que dizem os relatórios divulgados pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) e o Ministério da Agricultura (Mapa) que mostraram que os números da safra de grãos brasileiras para o período de 2012/2012 atingiu 162,1 milhões de toneladas de grãos, valor 1,2% superior à obtida em 2011,quando alcançou 160,1 milhões de toneladas.

O que surpreendeu foi a produção histórica de milho na temporada 2011/12 de 72,98 milhões de toneladas de grãos – superando inclusive a de soja (66 milhões de toneladas) – resultando na mais valiosa produção de milho na história: R$ 34 bilhões. Apesar das exorbitantes cifras, o agricultor José Tarso Rosa lamenta os problemas provocados pela escassez da chuva no decorrer de 2012. “Sou produtor há 24 anos e já vimos de tudo por aqui” diz ele, referindo-se as condições climáticas, que sob os efeitos do fenômeno La Niña, foram bastante desfavoráveis às principais culturas de verão de primeira safra, sobretudo, às de milho primeira safra e soja nos Estados da Região Sul do País e de Mato Grosso do Sul.

Segundo ele, na cultura do milho houve prejuízos significativos, uma vez que, a produtividade ficou muito abaixo da média, em torno de 35 sacas/hectares, em relação aos períodos anteriores, quando chegou a 50sc/ha. “Em compensação, o milho safrinha”, afirma o agricultor do município de Laguna Carapã, na região da Grande Dourados (MS).

A safrinha de milho ou milho segunda safra da qual boa parte dos produtores não queria nem ouvir falar depois de amargarem prejuízos em anos anteriores voltou a ser considerada. Só em setembro, o Brasil embarcou 3,15 milhões de toneladas de milho, sendo o novo recorde mensal, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). De janeiro a setembro, já eram registradas 9,4 milhões de toneladas exportadas, volume equivalente ao total enviado em todo o ano de 2011.

Por outro lado, a soja também viveu seu tempo de ouro. Somente no final do primeiro trimestre, pico de colheita no Brasil, os valores da soja nos mercados interno e externo já caminhavam para patamares recordes, comportamento atípico para o período. As exportações de farelo de soja totalizaram 14,3 milhões de toneladas, praticamente o mesmo volume de 2011. A receita de US$ 7,3 bi foi a maior da história. “Os grãos da safra 2012/2013, que colhemos agora, sofreram com um período de estiagem e isso provocou uma redução. Mas, acredito que alcançaremos algo em torno de 40 sacas/hectares a um preço de R$ 50 ou R$ 55”, diz o agricultor.

De acordo com o balanço do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, o preço médio da soja em janeiro deste ano foi de R$ 40,19 por saca. Sinal de queda em todas as regiões brasileiras, se comparado a setembro do ano passado, quando a Conab justificou que os preços da saca de soja chegaram aos índices elevados devido à redução de estoques mundiais. “A notícia elevou a cotação da soja na Bolsa de Chicago para 17,57 dólares o bushel (equivalente a 27,2155 quilos). Os preços recordes chegaram a R$ 80, o bushel”, disse Eledon Oliveira, técnico de avaliação de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) à Revista Rural. Por outro lado, justificou Oliveira, os insumos subiram na mesma proporção.

“Além de fatores climáticos, os produtores pagaram alto pelo custo da produção. O Brasil ainda é um mercado dependente dos insumos”, afirma o pesquisador Gesmar Santos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O custo dos insumos chegaram a 18% a 20% em relação a 2011e a 10% e 12% dos defensivos, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Sinal verde em 2013

Apesar dos pesares, 2013 chega trazendo boas notícias. De acordo com Santos, a agricultura deve repetir a mesma a mesma safra de 2012. “Haverá poucas áreas de expansão de plantio, porém, o milho, o sorgo e a cana-de-açúcar seguem com alta produtividade. O trigo, que já vem sofrendo com as condições climáticas, deverá permanecer na mesma trajetória”, afirma. O ano de 2012 foi bem atípico para o mercado de trigo no Brasil. Marcado por apresentar pequenas variações no mercado doméstico, o trigo, teve dois períodos distintos ao longo desse ano: o primeiro semestre foi de estabilidade e no segundo de rápida e forte elevação nos preços. “Com relação ao feijão, já tivemos uma queda acentuada, mas em 2013 haverá um crescimento significativo”, diz Santos. A estabilidade dos preços do feijão preto no mercado foi devido ao grande volume de importações que ocorreram no mês de agosto, o que compensou o preço alto do feijão preto nacional. Outros destaques como o arroz encerrou com a média anual do Indicador do Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa (Rio Grande do Sul, 58 grãos inteiros) foi de R$ 31,35/sc de 50 kg, 40% superior à de 2011 (R$ 22,35/sc). Já o algodão, houve baixa disponibilidade de pluma de tipos base (41-4) para superiores, mas excedente de produto de tipos abaixo do 41-4. Muitos lotes de tipos melhores foram direcionados para exportação, e o excedente é que foi destinado ao mercado interno. “Não devemos esquecer que outro ponto favorável da agricultura em 2012 e que continuará será a integração da indústria que pode beneficiar as principais commodities”, afirma Santos.

E ao que tudo indica tem tudo para continuar. Só em 2011, o número do Valor Bruto da Produção (VBP) – o cálculo que considera o faturamento obtido com a venda de 25 produtos – atingiu o recorde de R$ 205,8 bilhões. O agronegócio brasileiro exportou US$ 94,59 bilhões no ano passado, 24% a mais do que os valores alcançados em 2010, quando foram vendidos US$ 76,4 bilhões em produtos agropecuários. Em 2012, o VBP encerrou o ano em R$ 380,8 bi, com os dados o setor agrícola deve faturar R$ 243,8 bi em 2012, enquanto que o VBP pecuária brasileira deve render ao setor R$ 137 bilhões. “Em tempos de safra recorde, em que a produção nacional atingiu 166,2 milhões de toneladas, o maior da história, o agronegócio brasileiro desperta os olhares do mundo para nosso produtor. Atingiremos, talvez, os 180,2 milhões de toneladas de grãos ainda este ano”, afirma o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, ao comentar os bons resultados. De acordo com ele, em 2013 o agronegócio continuará sendo mais dinâmico da economia brasileira. “Queremos até ultrapassar as 180,2 milhões de toneladas de grãos e chegar aos R$ 305,3 bilhões no Valor Bruto da Produção”, reforça o ministro.

A expectativa é a mesma para a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Em entrevista à imprensa, em dezembro, Kátia afirmou que: “Em 2013, a queda no volume dos estoques mundiais e o aumento do consumo de alimentos, principalmente nos países asiáticos, aliados à redução do volume produzido em alguns países, podem elevar em 4,3% o resultado do Valor Bruto da Produção (VBP) do setor agropecuário, em 2013, para R$ 382,8 bilhões”.

E é justamente a elevação do preço, e não da produção física, que deve garantir o aumento de receita agrícola neste ano, quem afirmam são as equipes do Rally da Safra 2013, que iniciaram seus trabalhos, no último dia 28 de janeiro, em um cenário de recordes: a safra de soja 2012/13 deve atingir 84 milhões de toneladas – um aumento de 26,4% em relação à passada –, o milho verão poderá alcançar 37,2 milhões de toneladas (elevação de 9,9%) e a safra total de grãos está estimada em 183,5 milhões de toneladas (9,7% superior a 2011/12). “Além de recorde de produção, 2013 será um ano de maior rentabilidade, devido à combinação de preços favoráveis com produtividade elevada e custos que subiram moderadamente”, apontou André Pessôa, coordenador do Rally da Safra e sócio-diretor da Agroconsult, organizadora da expedição, que percorrerá mais de 60 mil quilômetros, colhendo amostras nas lavouras de milho e soja do País em 11 estados brasileiros. E mais uma vez a safra brasileira pedindo passagem.

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