Agricultura

Chuvas: a reviravolta do tempo

O resultado da safra de soja em Mato Grosso do Sul deve girar em torno de 4,92 milhões de t. Em termos porcentuais, as perdas chegaram a 13%. Se comparada à safra 2009/2010, quando foram colhidas 5,30 milhões de t, a colheita teve redução de 7,1%.

Na região do Pantanal sul-mato-grossense, as cheias ocasionaram muitos transtornos à bovinocultura de corte com prejuízos avaliados em R$ 190 milhões pela morte de animais por afogamento.

O Paraná deve colher novamente uma safra recorde de soja, em torno de 14,67 milhões de toneladas. A produtividade da oleaginosa também deve ser superior às anteriores: a média passou de 3.190 quilos por hectare (kg/ha) no ano passado para 3.260 kg/ha neste ano.

Até o dia 27 de fevereiro deste ano, a condução das lavouras sul-mato-grossenses de soja ia muito bem e já contabilizava 30% da área colhida. Pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa era de uma produção de 5,68 milhões de toneladas (t) da oleaginosa. Depois desse dia, o tempo virou no Estado, e aí foram cerca de 10 a 15 dias de chuva ininterruptos. O resultado foi uma quebra drástica na safra de um milhão de t de soja. Mato Grosso do Sul foi um dos Estados mais afetados por consequência das chuvas, em relação a outros centros de referência da produção agrícola nacional como Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.

O resultado da safra de soja em Mato Grosso do Sul deve girar em torno de 4,92 milhões de t. Em termos porcentuais, as perdas chegaram a 13%. Se comparada à safra 2009/2010, quando foram colhidas 5,30 milhões de t, a colheita teve redução de 7,1%.

A inundação das lavouras favoreceu o aparecimento de ardido (grãos apodrecidos que geram um óleo de má qualidade industrial), de acordo com Lucas Galvan, assessor técnico da área de agricultura da Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul), “Em geral, a indústria só aceita até 8% de grãos ardidos, passando desse porcentual, há o abate de preço conforme a incidência de ardido, reduzindo ainda mais os ganhos do produtor”, diz.

Em outros casos, Galvan relata que os grãos, por estarem diante de tanta umidade, chegam a germinar nas próprias vagens da planta, depreciando ainda mais o produto. Ao todo, os prejuízos devem alcançar cerca de R$ 1 bilhão, considerando toda a cadeia produtiva de soja no Estado.

As maiores ocorrências de prejuízos na lavoura foram nos municípios de São Gabriel do Oeste, Chapadão do Sul, Costa Rica, Bandeirantes, Campo Grande, Sidrolândia, Rio Brilhante e Maracajú. De acordo com a Famasul, um levantamento feito por empresas de consultoria agrícola a pedido do Sindicato Rural de São Gabriel do Oeste mostra que houve uma quebra de 150 mil t de soja somente naquele município, um dos maiores produtores em área plantada do Estado. O que significa uma quebra média de 40% em relação à previsão inicial de 378 mil t.

Pecuária

Na região do Pantanal sul-mato-grossense, as cheias ocasionaram muitos transtornos à bovinocultura de corte com prejuízos avaliados em R$ 190 milhões pela morte de animais por afogamento, segundo pesquisas da Embrapa Pantanal, localizada em Corumbá (MS). Só neste município, o cálculo aponta perdas de R$ 120 milhões.

O balanço hídrico estimado pelos pesquisadores da unidade é que o rio Paraguai chegue ao pico entre os dias 22 de abril e 5 de maio. O intervalo previsto é de cinco metros e 10 centímetros (5m10) a 5m96, de acordo com o Modelad – modelo de previsão de cheias com base na régua de Ladário (MS).

Para Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal, a cheia neste ano está “diferente” em função do excesso de chuvas que ocorreu entre janeiro e a primeira quinzena de março. “Devemos esquecer o conceito de normal porque no Pantanal cada ano é diferente do outro”, frisa. Não se sabe ainda como será o efeito de duas ondas de cheia que atingem a planície pantaneira. Uma delas, que já ocorreu, foi a cheia que veio das bacias dos rios Miranda e Aquidauana, provocada pela chuva de aproximadamente 900 milímetros (mm) do início do ano. “Esses rios de planalto têm uma resposta mais rápida. Choveu, eles sobem”, afirmou Padovani.

Mas a cheia anual do rio Paraguai, provocada pelas chuvas que atingem a borda do Pantanal entre o final de um ano e início de outro, ainda não chegou a Corumbá (e, consequentemente, à régua de Ladário). Essas águas levam cerca de três a quatro meses para atingir a planície. Segundo os pesquisadores, quanto maior a cheia, mais cedo ocorre o seu pico.

No caso da pecuária leiteira, as inundações na região prejudicaram a oferta de pasto ao gado e ainda prejudicou o escoamento da produção. “Como o leite é um produto altamente perecível isso fez com que a cadeia leiteira também sofresse com as chuvas”, acrescenta Galvan.

Mato Grosso

Meados de fevereiro é um período importante para a colheita de soja no Estado de Mato Grosso, pois se esperam que todos os municípios estejam colhendo de maneira intensa, momento conhecido por “boca de safra”. Só que pela avaliação do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), no meio daquele mesmo mês, a colheita da safra já indicava sinais de problemas em função das chuvas. Segundo o órgão, o descompasso chegou a 16 pontos porcentuais (p.p.) atrás do mesmo período do ano passado, em 18 de fevereiro, fato este decorrente do atraso no início do plantio e intensificado pelas chuvas neste final de ciclo.

A avaliação do curso da lavoura mato-grossense em 18 de março já apontava a colheita de 66,6% da área plantada, marcando um atraso de 24,7 p.p. em relação ao ano passado no mesmo período. De acordo com o Imea, em março a chuva colaborou com os produtores, abrindo folgas ao longo dos dias, dando oportunidade à colheita. Em algumas cidades ocorreu um pequeno “congestionamento” nos armazéns, devido ao aumento na intensidade da colheita. O prejuízo também foi marcado pela umidade um pouco acima do adequado conferindo descontos aos produtores.

Paraná

Já no Estado do Paraná, o alerta de que as chuvas prejudicariam a colheita veio logo entre final de janeiro e início de fevereiro, mas elas não se concretizaram efetivamente da maneira como se imaginava, segundo Otmar Hubner, chefe do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab). “No início estávamos preocupados com o efeito da La Niña, fenômeno em que há maior incidência de estiagem e pouca chuva. No início do ano esse quadro se reverteu e começou a registrar fortes chuvas pelo Estado – chuvas acima do normal e constantes”, declara Hubner.

Pelos resultados dessas chuvas de início de ano, estimou-se uma quebra de cerca de 1% na lavoura de soja. A região litorânea foi a mais afetada em fevereiro, com praticamente o mês todo chovendo – no entanto, essa faixa compreende atividades como horticultura e fruticultura desenvolvida em grande parte por pequenos produtores.

Quando se pensava o pior, as chuvas cessaram e ajudaram o processo de colheita de grãos. De acordo com o Deral, o Paraná poderá colher 32,2 milhões de t.

Hubner ressalta que, além das boas condições de clima, a eficiência do produtor paranaense na aplicação de tecnologia contribuiu para o bom rendimento das lavouras. Nesse sentido, o Estado deve colher novamente uma safra recorde de soja, em torno de 14,67 milhões de toneladas. A produtividade da oleaginosa também deve ser superior às anteriores: a média passou de 3.190 quilos por hectare (kg/ha) no ano passado para 3.260 kg/ha neste ano.

Rio Grande do Sul

Por fim, no Estado gaúcho, as chuvas do final do trimestre deste ano repercutiram positivamente, especialmente nos municípios das regiões Campanha, Fronteira Oeste e Zona Sul. “Mas isso não foi capaz de reverter o quadro de perdas já registrados na produção primária dos municípios localizados na chamada metade sul”, avalia o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, Luiz Fernando Mainardi, sobre o quadro que se desenhava anteriormente, caracterizado por muita estiagem.

Nas demais regiões, onde se concentra a maior produção de grãos, o clima contribuiu e, apesar das chuvas abaixo da média, elas vieram de forma regular e nas épocas adequadas. “Com isso, a produção gaúcha de grãos vai ser excelente, devendo ultrapassar os 24 milhões de t”, esclareceu Mainardi.

Somente a colheita do feijão, 1ª safra, que ocupou uma área de 73.750 ha, já está concluída, obtendo-se uma produtividade média de 1.334 kg/ha dentro e alcançando-se uma produção de 98.380 t.

“Devem se confirmar também os números em relação à soja e ao arroz, prenunciando uma safra recorde. O milho não fica longe disto, porque as regiões do Estado que sofreram mais com a estiagem tiveram uma produção pequena de milho, feijão, soja, e que não chega a afetar a safra total”, argumenta.

A metade sul do RS, onde a estiagem foi severa, houve problemas na pecuária leiteira e de corte. Com a diminuição das pastagens, o gado emagreceu. Também teve a valorização do gado magro (a carne ficou mais cara nos supermercados), e diminuiu a produção de leite. Mas, o que mais preocupa, segundo o secretário, é o fato de que um porcentual significativo de vacas, devido ao estado corporal, não pegou prenhez. “Isso vai repercutir na próxima safra, quando teremos uma queda acentuada na produção de terneiros (bezerros)”, conclui Mainardi.

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