Avicultura

Aves ornamentais: “bibelôs vivos”

Criação de aves ornamentais pode ser uma atividade lucrativa e prazerosa. Maria Virginia Rocha Franco sempre foi uma amante de aves. E foi por causa dessa admiração pelos animaizinhos emplumados que ela, junto com o seu pai, resolveram começar uma criação de aves exóticas há 25 anos atrás.

Daquela época pra cá, Virgínia adquiriu um conhecimento único no Brasil sobre esse tipo de criação. Tanto que hoje ela é uma referência sobre criação de aves ornamentais, como também são chamadas as aves como pavões, cisnes, faisões, perdizes, perus e também gansos, marrecos, patos e até galinhas, desde que de raças puras.

Virgínia gosta tanto dessa atividade e das aves, que classifica o seu trabalho como sendo de preservação de aves de raças puras. Virginia, por exemplo, não vende sua criação para o abate.

“Eu sou uma apaixonada pelos animais, então se eu souber que estão comprando a ave para abater, eu não vendo”, conta a criadora, que possui uma propriedade no bairro de Barragem, na zona sul de São Paulo. O Sítio da Família conta com 200 aves e é conhecido por fornecer excelentes matrizes aos criadores. Seu trabalho de preservação e seleção é reconhecido dentro desse ramo. Basta ver a quantidade de prêmios que as aves de Virgínia receberam em diversos concursos ao longo desses 25 anos.

A partir do momento em que as aves botam os ovos, pode-se armazená-los por um período de 7 a 10 dias, no máximo. Após esse período, deve-se marcá-los com a data em que foram botados – a marcação deve ser a lápis ou com carvão e nunca a caneta – e serem levados para a chocadeira. Cada variedade de ave tem um período diferente de chocagem. Os gansos demoram de 28 a 32 dias para nascerem. As galinhas demoram 21 dias para nascerem. Os marrecos, dependendo da variedade demoram de 28 a 30 dias para serem chocados; algumas variedades duram 35 dias nas chocadeiras. As chocadeiras podem ser tanto compradas como também produzidas na própria propriedade. A umidade deve ser mantida a 70% para aves aquáticas e a 65% para aves como as galinhas ou perus.

A temperatura das chocadeiras têm de ficar entre 37,5º e 38º Centígrados. “Normalmente se usam chocadeiras diferentes para aves aquáticas e terrestres para se evitar uma alteração da umidade e, conseqüentemente, provocar algum tipo de problema no nascimento”, explica Virginia. Algumas aves chocam e criam muito bem os seus filhotes. O pato Muscovy, por exemplo, cria os seus filhotes muito bem. As pavoas também chocam e criam os seus filhotes muito bem, mas os criadores normalmente tiram os ovos dessas aves e colocam nas chocadeiras para aumentar a postura, pois quando elas chocam, param de botar ovos. Fêmeas como as gansas de raças puras não devem chocar os seus ovos, pois são muito desastradas e acabam pisando nos próprios ovos ou abandonando o ninho. Gansas caipiras podem chocar seus ovos sem problemas.

Algumas variedades de marrecas são muito boas para chocar ovos, mas outras, como o Marreco de Pequim, por exemplo, não são boas mães. O criador que não tiver chocadeiras pode utilizar amas, que podem ser galinhas caipiras ou patas que estejam chocas. Pode-se tirar os ovos de uma variedade e colocar em outra, que seja boa mãe. Quando nascem os filhotes é só levá-los para a criadeira, que é o próximo estágio da criação de aves ornamentais.

Após as aves nascerem deve-se esperar eles se secarem. Normalmente eles só vão se alimentar 24 horas depois do nascimento. Passado esse período eles são levados para as criadeiras, que são gaiolas com aquecimento, para ali receberem sua primeira refeição, chamada refeição inicial, para pintinhos de 1 dia e água fresca para beberem. Isso serve para filhotes de qualquer ave. A água deve ser trocada todos os dias. Os bebedouros devem ser muito bem lavados, todos os dias, e não pode haver resíduos nos comedouros, pois podem fermentar e causar uma intoxicação nas aves.

A forração da criadeira deve ser de um material seco, como palha de arroz, serragem ou feno seco, por exemplo. Deve-se evitar ao máximo a umidade nas criadeiras, mesmo para as aves aquáticas, que só poderão ter contato com a água quando estiverem 80% emplumadas; e isso ocorre 90 dias após o nascimento. Além disso, neste período da criação, as aves devem receber vacinações aos 30 dias, 60 dias e 90 dias. As aves adultas são vacinadas uma vez por ano. Deve-se vacinar as aves contra a Bouba Aviária, New Castle, além de serem vermifugadas. Deve-se ter mais atenção com vermifugação de aves como os perus e pavões, pois eles têm tendência a comerem as próprias fezes. As vacinas podem ser encontradas em qualquer casa de produtos veterinários. “O criador deve ter um veterinário para observar as aves e para evitar problemas com doenças e infecções, pois se alguma ave estiver doente, vai morrer e vai contaminar as outras. Higiene e controle sanitário são fundamentais”, afirma Virginia.

As aves ficam nas criadeiras até estarem 80% empenadas, ou durante 3 meses, com exceção dos pavões, que devem ficar 6 meses confinados em um local com piso ripado para evitar o contato com as próprias fezes e isolado de ventos e chuvas fortes, pois é uma ave extremamente sensível. Os perus também devem receber cuidados especiais, pois após o quarto mês de vida, começam a se formar as carúnculas, e isso faz a imunidade dessas aves cair muito.

Passados três meses de vida, as aves saem das criadeiras e vão para as recrias, que são criatórios sem aquecimento e com um ambiente coberto e outro ao ar livre. As aves agora recebem ração de crescimento e água fresca. A água deve ser trocada todos os dias, a não ser que possua água corrente nos criatórios. As aves aquáticas têm uma tendência de irem para a água logo de imediato, o que não deve ser permitido se eles não estiverem com as mães, pois as penugens não são impermeáveis como as penas e sem a mãe para secar os filhotes, corre-se o risco de pegarem uma pneumonia.

Após as aves saírem das recrias, elas vão para um setor de seleção das aves, onde ficam por um período de, no mínimo 40 dias, se alimentando de ração de postura ou ração de manutenção, dependendo da finalidade das aves. Ali é onde elas serão selecionadas por padrão de raça. “Aqui nós vamos selecionar as aves que vão para a reprodução e as aves que vão ser descartadas para o mercado. E também são selecionadas as aves que serão vendidas para possíveis compradores de aves, colecionadores e outros criadores que estiverem interessados em fazer choque de sangue”, explica Virgínia. Se a ave estiver fora dos padrões da raça, ela será descartada. Se ela estiver dentro dos padrões, ela será selecionada para a reprodução.

Algumas aves, como galinhas de raça pura, variedades de gansos e de marrecos começam a se reproduzir na faixa dos 6 aos 8 meses de idade. Outras aves, como os pavões e cisnes se reproduzem somente após os três anos de idade. No período de reprodução de cada espécie, são formadas as famílias, que são compostas por um casal, por um terno – 2 fêmeas para um macho – ou por uma quadra, que são 3 fêmeas para um macho. Essas famílias vão para um viveiro de reprodução. As aves que chocam vão fazer um ninho, botar os ovos e chocá-los. As aves que não chocam terão os ovos recolhidos e levados para as chocadeiras. Existe um período de reprodução, que vai de julho a dezembro. Algumas aves, como as galinhas se reproduzem por um período maior de tempo.

As aves selecionadas para a reprodução são levadas para um outro setor do criatório – os viveiros das matrizes. Ali, cada família fica em um viveiro. Algumas variedades, monogâmicas, podem ficar juntas; outras não, pra evitar a mestiçagem. Ali as aves recebem duas refeições de postura por dia. No caso da criação de Virgínia, não é preciso colocar água todos os dias, pois os viveiros têm água corrente, que é o ideal nesse setor da criação. Para esses animais é recomendável também acrescentar na dieta verduras, exceto alface, pois contém muita água e pode causar diarréia nos animais. Alguns criadores também fornecem ao seu plantel ração de codorna, pois contém mais proteína; e complementam a alimentação com frutas e legumes.

As possibilidades de exploração econômica com essa atividade são muito variadas. No caso de uma criação destinada ao abate, pode-se aproveitar as penas e plumas para artesanato; ou para confecção de travesseiros e edredons, no caso das penas de gansos. As víceras são utilizadas, ou para conservas – no caso do fígado do ganso para se fazer o “Foi grãs”, o famoso e apreciado patê de fígado de ganso – ou para fazer rações. A carne é saborosa e muito apreciada, sobretudo nos restaurantes finos. O esterco é aproveitado nas hortas, os ovos são muito procurados também, tanto para consumo humano, como para se fazer ração animal. As aves são muito procuradas por colecionadores, por outros criadores em busca de choque de sangue.

Pessoas que querem decorar hotéis, fazendas e sítios também procuram muito a criação de Virginia. Criadores de cavalos utilizam os gansos para espantar cobras. Os gansos, inclusive, são animais de guarda tão eficientes quanto os cães, já que eles grasnam a qualquer barulho ou movimento suspeito. É óbvio que não possuem a ferocidade e a força dos cachorros mas podem alertar qualquer intruso em uma propriedade. Eles são utilizados até em alguns presídios do interior de São Paulo. As galinhas d´Angola são aproveitadas para comer pequenos insetos, como carrapatos, cupins ou formigas. “O leque de opções é muito grande e o mercado é muito bom. É uma atividade bastante lucrativa. É ideal para quem tem uma pequena propriedade e para quem gosta de animais”, afirma.

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