Pecuária

IATF: técnica cada vez mais utilizada nos rebanhos brasileiros permite economia

É muito importante para os lucros de uma propriedade que o rebanho seja prolifero e que gere crias saudáveis. Para isso, atualmente, o produtor conta com uma série de ferramentas que possibilitam tornar seu gado mais fértil e de maneira controlada, de forma que auxilie no manejo e na gestão. Uma dessas ferramentas que se provou muito eficiente foi a Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF).

Essa técnica consiste em ovular as vacas de forma induzida, todas na mesma época e na data que for melhor para o produtor. “A inseminação artificial simples já é conhecida por trazer melhoramento genético e de produção ao gado. A IATF, além dessas vantagens consegue emprenhar 50% das vacas, além de contar com o cio de retorno para inseminar as vacas restantes. Com isso, a inseminação atinge de 60 a 70% das vacas”, explica Sebastião Pereira de Faria Junior, Gerente Técnico de Pecuária da Schering-Plough.

Essa ferramenta tem movimentado o dia-a-dia das fazendas e dos grupos de pesquisa em reprodução animal. Pela técnica as vacas têm a ovulação induzida, e a inseminação pode ser feita com data marcada, tudo com a maior naturalidade, apenas com a utilização de produtos específicos, conforme explica Rodrigo Valarelli da Pfizer Saúde Animal. “A forma de aplicá-los nos animais depende de fatores como, a raça, a idade, a condição corporal e o número de crias. Além disso, a condição nutricional da vacada é fundamental para garantia dos resultados”.

Valarellli diz que a IATF é uma tendência mundial e importante para o desenvolvimento da pecuária no Brasil. A adesão de usuários em todas as regiões do país é crescente e o número de cabeças inseminadas, só em 2004, superou 1,5 milhão. Com a técnica, a inseminação do animal é feita antes da ovulação. Desse modo, quando a vaca ovula, já está preparada para ficar prenhe. Assim todas as vacas de um rebanho podem ser sincronizadas para serem inseminadas num único dia.

O sucesso do método se deve ao modo como ele é feito. Nele, a inseminação do animal é feita antes da ovulação. Assim, quando a vaca ovula, já está preparada para ficar prenhe, possibilitando que todas as vacas de um rebanho sejam sincronizadas para serem inseminadas em poucos dias. Além da alta porcentagem de prenhezes positivas nas vacas, a IATF traz outras vantagens: “O método facilita o manejo nas fazendas já que as inseminações são feitas de modo programado. Dessa maneira é possível inseminar até 250 vacas em um único dia, poupando assim, tempo”, explica Pietro Baruselli, veterinário e professor da Universidade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP). Estes fatores garantem para a propriedade maior produtividade e a melhoria genética do seu plantel.

Outra vantagem da Inseminação Artificial por Tempo fixo, segundo Baruselli é a redução gradativa da baixa taxa de fêmeas inseminadas na estação de monta. Além disso, a técnica possibilita que o criador trabalhe com progênie superior, de animais com DEPs positivas para varias características fisiológicas e físicas desejadas.

Outra questão muito importante para os criadores são as vantagens econômicas que a IATF traz à propriedade. O custo da utilização da técnica por animal, incluindo o protocolo de sincronização, a compra do sêmen e a mão-de-obra é de R$ 45,00, contabilizando lotes de, no mínimo 100 fêmeas. De acordo com o professor da Universidade de São Paulo, o retorno desse investimento depende do uso correto da técnica. Experimentos realizados pelo Departamento de Reprodução Animal da USP mostram que os ganhos econômicos nos rebanhos que utilizaram a técnica são altos. A taxa de prenhes no final da estação de monta cresceu 8%, o que significa 8 bezerros a mais em um lote de 100 vacas.

O professor faz os cálculos, usando a média de preço dos bezerros no mercado de R$ 275,00 e o resultado é um total de R$ 2.200,00 a mais no bolso do criador, já no primeiro ano. “Esse, é o principal apelo para o criador, sobretudo o pequeno e o médio”, declara. Além disso, a técnica possibilita o produtor economizar com touros de repasse. Estudos realizados em varias fazendas mostraram que, quando se usa a IATF, a taxa de prenhez, já no meio da estação de monta é de 50% a 75% das vacas, em média. O restante, que normalmente segue para o repasse, já está com o ovário funcionando, o que eleva essa média para mais de 90%. “Com isso o produtor, ao invés de comprar três tourinhos de campo, pode comprar somente dois, que vai dar conta de cobrir a vacada e economiza cerca de R$ 2.200,00”, enfatiza.

Porém, algumas questões devem ser consideradas antes de se empregar a sincronização do cio. A técnica garante sucesso, mas somente se for corretamente realizada em todos os passos. Fatores nutricionais e corporais dos animais devem ser levados em conta, como explica Leandro Gofert, médico e veterinário do departamento técnico da empresa Tecnopec. “Somente animais com escore corporal igual ou acima de 2,5 (em uma escala de 1 a 5) estão em condições de entrarem no programa de IATF. Animais abaixo dessa condição não terão condições de manter a prenhez”, explica. Mesmo que o protocolo consiga fazer esse animal ovular e ocorrer a fertilização, a indisponibilidade de energia, levará a que essa prenhez seja perdida. “Porém, apenas o escore corporal é uma medida imprecisa”, explica Gofert, pois, em vacas com bom escore corporal, (p. ex: 3), mas que estejam perdendo peso rapidamente, o resultado tende a ser pior. O organismo da vaca, em balanço energético negativo, tende a evitar a prenhez como medida de conservação do indivíduo.“Precisamos, portanto, avaliar os lotes de animais em relação à sua condição corporal, mas também, avaliar como está o pasto em relação à disponibilidade de alimento aos animais”, explica Gofert.

O protocolo é outro fator muito importante. Ele sempre deve ser seguido à risca e com o acompanhamento de um veterinário especializado. “A imposição de um protocolo que excluir o veterinário pode comprometer a técnica”, explica Sebastião Júnior. “Isso vai ampliar o resultado de prenhez do rebanho”, explica Junior.

Uma prova de que a IATF é um excelente negócio para os produtores foi a prova feita pela Tecnopec em quatro fazendas. Nos testes, a Tecnopec trabalhou com 4.189 animais (quase todas zebuínas) em 50 lotes. O protocolo utilizado foi o mesmo em todos os lotes: dispositivo vaginal por 8 dias, e Benzoato de estradiol (RIC-BE) na inserção (2ml). Na retirada do dispositivo, aplicação de 300 UI de CG (novormon) e luteolítico (Prolise). 24 horas após, indução de ovulação com Benzoato de estradiol (RIC-BE-1ml) e IATF 30 horas após. Este não foi um experimento científico, mas os resultados mostraram dados consistentes. A média geral da IATF nas 4 fazendas foi de 53,2%. Houve diferença significativa nas categorias. A média de prenhez das novilhas foi de 48,7% (6 lotes), as primíparas obtiveram 45,5% (5 lotes) e as vacas 54,8% (39 lotes). Não houve diferença entre fazendas. Os resultados variaram entre 52% e 60%. Não houve diferença entre o 1°, 2º e 3º uso dos dispositivos vaginais. Os resultados foram respectivamente 55,4% (18 lotes); 50,8% (17 lotes) e 53,7% (15 lotes).

Todos os programas foram feitos com repasse de Inseminação Artificial com observação de cio entre os dias 18 e 23 após a IATF e repasse com touro por 2 a 3 meses. A Inseminação Artificial convencional acrescentou 19,4% de prenhez a mais no resultado. A soma do resultado da IATF com o repasse com IA convencional (total de animais prenhez de IA) foi de 72,6%. O repasse com touro acrescentou mais 15,8% de animais prenhes. A prenhez final do programa em 50 lotes foi de 88,4%.

O tamanho dos lotes variou entre 25 e 169 animais. Não houve relação entre tamanho do lote e taxa de prenhez na IATF (r=0,09). Lotes com menos de 50 fêmeas emprenharam em média 54%. Lotes entre 50 e 100 fêmeas: 52%, lotes acima de 100 fêmeas: 54%.

“Os dados mostram os bons resultados do programa de IATF a campo. Os programas têm se tornado mais abrangentes e os trabalhos de repasse com sêmen e com touro vêm recebendo atenção especial dos técnicos, que também aproveitam cada vez mais o cio de retorno e a indução de ciclicidade promovida pelo tratamento”, afirma Gofert.

Existem fatores ligados ao manejo de execução do programa IATF que devem ser levados em consideração para que o processo produza resultados satisfatórios: Abaixo, estão recomendações do médico veterinário e técnico da empresa Tecnopec, Leandro Gofert:

Os passos do protocolo de IATF são técnicas de controle farmacológico do ciclo estral, responsáveis, ao final, pela ovulação e a possibilidade da inseminação com hora marcada. “Dessa forma, se cada uma das etapas do protocolo não for bem executada, compromete-se todo o resultado do programa”, afirma Gofert.

Alguns erros freqüentemente observados no campo são o esquecimento da aplicação de um ou mais fármacos durante o programa, o desrespeito aos horários de aplicação recomendados no protocolo, erros de dosagem dos hormônios indicados, erro na via de aplicação indicada, erros de manipulação dos hormônios (não manter refrigerados hormônios que o necessitam, deixar hormônios expostos ao sol ou calor excessivo), ausência de marcação confiável nos animais (corre-se o risco de aplicar 2 vezes os hormônios num animal e não realizar a aplicação em outro), falta de organização da fazenda (mistura de lotes, presença de vacas prenhes junto de vazias, presença de touros nos lotes a sincronizar, etc), erros na execução do desmame temporário dos bezerros (também chamado Shang), mantendo os bezerros próximos do piquete das vacas, falhando em promover o estímulo da função ovariana e do crescimento folicular, currais inadequados ou pessoal despreparado, o que provoca estress nos animais (resistência ao passar no tronco, demora excessiva para realizar o programa, quedas e fraturas, etc) e colocar um número excessivo de animais para trabalhar de uma só vez.

Merece atenção especial também, a qualidade do sêmen utilizado nos programas de IATF. “Não adianta fazer uma vaca ovular, se a fertilização for comprometida por causa de sêmen inviável, ou de baixa fertilidade”, afirma Gofert. Freqüentemente observa-se na prática de campo o armazenamento inadequado do sêmen (deixar o nitrogênio atingir nível muito baixo). No manejo das racks, permitir exposição prolongada à temperatura ambiente e novamente mergulhá-las no nitrogênio “Causa estress térmico e perda da viabilidade do sêmen”, explica Gofert. Descongelamento inadequado, comprometendo a viabilidade dos espermatozóides, uso de sêmen sem procedência, sem controle sanitário e de fertilidade.

Segundo Gofert existe variação de fertilidade entre os diferentes touros disponíveis nas centrais, mesmo que as partidas estejam nos padrões exigidos pelo Ministério da Agricultura. “Alguns touros emprenham as vacas mais eficientemente que outros. Para evitar o risco de selecionar um touro menos eficiente, deve-se consultar fornecedores de confiança”, afirma Gofert.

Gofert ainda explica que se não é possível obter essa informação, deve-se utilizar pelo menos 3 touros diferentes no programa. Diminuindo assim a chance de baixos resultados por esse fator. “Em vista da pequena quantidade de informações a respeito do uso de sêmen sexado em programas de IATF, até o momento, não é aconselhável a sua utilização”, enfatiza o técnico da Tecnopec.

Outros problemas que podem afetar os resultados da IATF são os de ordem sanitária como a incidência de doenças reprodutivas (Brucelose, Leptospirose, IBR, BVD, etc), doenças sistêmicas ou parasitoses, levando a comprometimento físico e conseqüentemente reprodutivo, retenção de placenta e cistos foliculares. “Deve-se sempre monitorar o estado sanitário dos rebanhos, evitando prejuízos oriundos desses fatores” explica Gofert.

Outros fatores importantes que podem incidir no bom andamento da IATF são a escolha do protocolo mais adequado, levando-se em conta a categoria animal, a idade pós-parto e a condição ovariana dos animais que se irá trabalhar. “Cada caso é um caso. Existem diferentes protocolos para cada tipo de situação. Existem protocolos para quem foca na relação custo benefício, existem protocolos para fêmeas que não estão ovulando. É preciso conhecer cada situação para aplicar o protocolo mais adequado”, explica Sebastião Junior, da Schering-Plough. A mineralização adequada do rebanho, utilizando-se um sal mineral de boa qualidade e que atenda as requisições para vacas em reprodução, também é um fator de grande importância. Estar atento à dieta dos animais, se não existe excesso de proteína ou de nitrogênio não protéico. “Interferem no pH uterino, gerando dificuldade de concepção”, explica Gofert, da Tecnopec. O uso excessivo de caroço de algodão também pode comprometer a fertilidade das fêmeas. Não realizar mudanças bruscas de dietas, vacinações, marcações, ou eventos estressantes durante a execução do protocolo e nos 35 dias após a inseminação.

Na IATF de novilhas é fundamental que, apenas animais que já entraram na puberdade sejam colocados no programa. Gofert explica que um erro muito comum é a colocação de lotes de novilhas baseados apenas nos critérios, peso e/ou idade, julgando-se que esses animais já estariam púberes. “É fundamental realizar o exame ginecológico das novilhas e colocar-se em protocolo somente animais com presença de corpo lúteo no ovário, ou com cios já observados”, enfatiza. Animais pré-púberes, (que nunca ciclaram), não respondem ao programa IATF, porque não são capazes de ovular.

Dentro desses fatores, capazes de influenciar os resultados num programa de IATF, a maioria está sob controle de um veterinário meticuloso e experiente. “Assim, poderíamos concluir que o auxílio de um profissional, que seja capacitado e com postura ética e realista em relação à técnica, fará a diferença nos resultados conseguidos”, afirma.

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