Pecuária

Verticalização – a saúde financeira da fazenda de leite

Características como a perseverança e o próprio gosto pela atividade nunca vão deixar de dar um grande esteio ao produtor de leite. Mas, hoje, assim como na maioria dos segmentos produtivos, a visão empresarial tornou-se imprescindível. E é o que podemos observar da empreitada de Eribelto Vanderlei Ciryllo Rangel, proprietário da Fazenda Serra Dourada, em Extrema/MG (Sul de Minas Gerais – 130 Km da capital paulista). Em pouco mais de sete anos de trabalho, ele descobriu na verticalização o caminho para saúde financeira da produção de leite. A raça escolhida foi a Pardo-Suiço.

Desde o início, Eribelto não poupou trabalho nem investimentos, embora tudo de forma bastante planejada. Formou uma base de rebanho com animais dos principais criatórios brasileiros e de alguns importados dos EUA. O acerto neste item deu seus resultados logo nas primeiras crias, época em que o afixo Serra Dourada começou a ser premiado em exposições regionais e nacionais, tanto que em 1999, seu criatório já figurava entre os mais importantes do País.

Mas nem só de prêmios vive uma fazenda de leite rentável. Aliás, alguns produtores nem acreditam neles. No dia-a-dia, a remuneração do leite é uma incógnita muito dura para as contas da fazenda. Foi então que Eribelto percebeu, que sua região, sul de Minas Gerais, é tradicionalmente uma grande produtora de queijos. Ele pesquisou, avaliou e já nos restaurantes e comércio nas margens da rodovia Fernão Dias, descobriu que havia espaço para uma marca que se diferencia-se pela qualidade.

Levantou instalações, adquiriu equipamentos e obteve seu registro junto ao Serviço de Inspeção Federal, o que significa cumprimento de uma série de exigências, principalmente sanitárias. A boa infraestrutura levantada passou a ser única na região, que se caracteriza pela informalidade. Em pouco tempo, com uma produção oscilando entre 400 e 600 kg de queijo por dia, a fazenda passou a fechar um caixa bem mais equilibrado e até com algum lucro. A Serra Dourada, desde o começo, com transportes próprios, se encarregou de distribuir o produto inicialmente, deixando 80% na região de Extrema/MG e 20% já na grande São Paulo. Atualmente, porém, estes números são de 55% e 45%, respectivamente. O crescimento da desmama neste que é o principal centro urbano do País e é o grande estimulante, segundo o empreendedor.

Jovane Mendes Soares, técnico em química, especializado em laticínio e gerente da queijaria, informa que o queijo da Serra Dourada para R$ 0,40 por litro produzido na ordenha, cerca de R$ 0,05 a mais do que ela receberia de um outro laticínio, na região. Mas, mais importante do que apontar o lucro direto do pagamento da queijaria, é constatar que, com a distribuição própria, o preço final pago pelo varejista, remunera em até 50% a mais o litro de leite produzido na fazenda.

Os bons resultados, até aqui, estimulam Eribelto a novos passos. Ele tem em mente aumentar a produção de queijos; logo, a sua própria cota de leite, e de transformá-los em produtos orgânicos, ou seja, ecológicos, sem nenhum tipo de artificialismo. Segundo Jovane, todo manejo da fazenda será mexido em função desses próximos passos. A raça explorada, a pardo-suíço, porém, não, pois uma pesquisa encomendada por ele conclui que o leite da raça chega a produzir até “15% a mais do que o de outras raças do mercado”, informa o gerente do laticínios, destacando ainda a grande a grande qualidade protéica do produto final. A Serra Dourada distribui, hoje, queijos do tipo frescal, padrão (1/2 cura), padrão (codimentado), prato estepe, prato lanche, prato cobocó, ricota, ricota codimentada e muzzarela em nozinho, palitinho e bolinha.

Nesta expansão almejada pelos profissionais e empresários da Serra Dourada, além de aumentar a própria produção de leite, hoje de 800 litros/dia (já excluído o volume destinado à amamentação de bezerros de 40 fêmeas em lactação) será também intensificada a aquisição do produto fora da fazenda. Para estimular o aumento da produção e da qualidade dos rebanhos vizinhos, Eribelto criou uma linha de financiamento próprio, onde os produtores da região podem adquirir machinhos pardo-suíço serra dourada, para pagamento em 10 parcelas, com o próprio leite fornecido ao laticínio. Além desta facilidade, a fazenda ainda fornece seus profissionais para outros suportes técnicos a estes produtores. Com esta estratégia, Eribelto força a demanda não só por machos, mas também pelas novilhas, pois a performance dos animais mestiços vai estimulando os pequenos produtores à exploração do gado puro. A Serra Dourada quase não dá conta de atender a procura.

Satisfeito com o trabalho até aqui e estimulando as novas etapas, Eribelto, que originalmente é contador, é daqueles que não “gosta de culpar governos pelos insucessos empresariais”. Para ele, “todos estamos sujeitos às mesmas administrações públicas, por isso, não há por que um chorar mais do que o outro. Empresariar com conhecimento e responsabilidade é o único caminho para um País que pretende ser sério”.

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