Agricultura

Uma safra “bi-campeã”!

O setor de produção de uva está conquistando, pelo segundo ano consecutivo, um resultado super positivo em quantidade e qualidade, superando as marcas obtidas em safras anteriores, tanto para a produção de vinho como para o consumo da fruta in natura. Isso, segundo as entidades ligadas ao setor, é conseqüência do espírito de organização entre os que compõem a cadeia produtiva, buscando soluções em conjunto para os diversos entraves que ainda existem na vitivinicultura.

O presidente da União Brasileira de Vitivinicultura, Unibra, Jaime Milan, disse que a safra gaúcha de uva, 1999/2000 obteve uma produção de 480 mil toneladas, cerca de 480 mil toneladas, cerca 12,42% maior que a de 1998/99 que foi de 427 mil toneladas. Conforme diz, isto ocorreu porque além de aumentar a produtividade nas parreiras, houve um acréscimo de cerca de mil hectares, de parreirais que entraram em produção este ano. Todo este volume foi colhido entre os 12 municípios maiores produtores da fruta, localizados na serra gaúcha, de colonização italiana, por cerca de 15 mil famílias para o próximo ano o dirigente acredita que haja um aumento de produção uma vez que mais dois mil hectares devem começar a produzir, significando cerca de 30 mil toneladas. Ele salienta que um parreiral tem vida útil mínima de 20 anos e a implantação de um hectare está custando hoje, em média, R$ 10 mil.

Para Milan, a safra deste ano não repetiu a mesma excelência de qualquer de qualidade da passada, mas assim mesmo foi muito boa.

Tivemos sol e chuva na medida certa, assinala. Ele acrescenta que esta será uma característica que irá favorecer em muito a produção de vinhos e de suco de uva. E também, no valor a ser pago ao produtor, pelo kg da fruta a ser entregue ás vinícolas, salienta. O dirigente da Uvibra diz que hoje o preço mínimo está em R$ 0,23 o kg para as uvas comuns. Para o tipo nobre 2 o mercado está pagando entre 0,30 a 0,40 e a nobre o valor fica entre 0,40 a 0,50. Mas creio, pelo que está sendo sinalizado, o produtor vai receber mais que isto, comenta.

Mudanças e aperfeiçoamentos

De todo este volume de uva 20 a 30% são consumidores in natura, e o restante devem produzir cerca de 300 bilhões de litros de vinho, sendo que 55 milhões são provenientes de viníferas nobres. A cadeia de produção do vinho e da uva, movimenta, segundo o presidente executivo do Instituto Brasileiro do Vinho, Ibravin, João Seibel, cerca de R$ 1 bilhão por ano e envolvem diretamente, mais de 100 mil pessoas.

O consumo per capita ano, em todo o Brasil está em torno 1,8 litros,mas em estados que possui forte colonização italiana, como São Paulo e Rio Grande o Sul, este volume aumenta para 5 litros. Mas notamos um certo aumento no consumo de vinho, comenta Seibel, acrescentando que ainda não estão bem identificadas as razões. Talvez estejamos conseguindo desmistificar alguns conceitos que o vinho sempre carregou consigo como, por exemplo, de somente ser consumido em ocasiões especiais, imagina ele.

Aumentar o consumo é inclusive, um dos objetivos do Ibravin dentro do programa de metas que está estabelecendo para os próximos anos. Para obter este resultado estabeleceu, junto com o Governo Estadual, um programa chamado Fundovitis que vai financiar investimentos na implantação e reconversão de parreirais, na modernização e expansão da produção de vinho e promover comercialmente, o produto gaúcho, em outras fronteiras. Em três anos, serão aplicados cerca de R$ 54 milhões, salienta o dirigente.

O programa também pretende realizar estudos de mercado brasileiro de vinhos, fomentar pesquisas que combatam as pragas, realizar treinamento para capacitação de pessoal, realizar um intenso trabalho de melhoria da qualidade da uva e do vinho e elaborar um zoneamento vitivinícola. É um trabalho extenso, mas que visa acima de tudo, melhorar e aperfeiçoar toda a cadeia de produção da uva. Com isto, queremos ampliar o volume de vinhos considerados nobres e o seu consumo, assinala Seibel.

Para o executivo da vibra, Jaime Milan, é preciso tecnificar mais a viticultura, melhorando o manejo do parreiral e os tipos de variedade. Ele diz que um dos fortes concorrentes do produto brasileiro, são os americanos, porque conseguem, através da tecnificação total do parreiral, ter custos de produção menores. Precisamos evoluir muito ainda, em todo o processo, salienta.

O economista José Fernando Protas, chefe da Embrapa Uva e Vinho, localizada em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, acredita que o principal problema da vitivinicultura é a falta de um programa de médio e longo prazo. Para ele é fundamental que se defina qual o mercado que o setor quer ter e atuar. Para isto, ele precisa ir perguntar, na outra ponta, ou seja no consumidor, que tipo de vinho ele gosta e consome. A partir daí, será mais fácil “azeitar”toda a máquina para trás, ou seja, buscar as variedades de uva que compõem este vinho, fazer os blends, as marcas e colocar no mercado, afirma.

Ele diz que procedendo assim, ficará muito mais fácil, para toda cadeia produtiva trabalhar porque todos saberão qual será o seu papel no processo e como proceder para alcançar o resultado. Do contrário ficaremos todos, ainda mais uns anos, jogando no escuro, sentencia. Neste sentido, ele diz que a Embrapa tem trabalhando com o objetivo de conhecer as existentes e sua adaptabilidade as mais diversas regiões e tipos de solo.E afirma que existe hoje, na Embrapa um banco de germoplasma com mais de 1800 espécies. Isto nos possibilita criar uma série de melhoramentos genéticos que vão ajudar na formação de vinhos excelentes.

O grupo francês Carrefour, a maior rede de supermercados do Brasil e a segunda maior no mundo, e que faturou cerca de US$ 6,3 bilhões em 98 no país, inaugurou em fevereiro, no município de Petrolina PE, uma nova fazenda para produção de uvas sem semente. O investimento do grupo foi de R$ 6 milhões e pretende produzir cerca de 3 mil toneladas/ano, em 140 hectares, dos 200 adquiridos. A primeira colheita está prevista para março de 2001.

O vale do Rio São Francisco, aonde está localizada a propriedade, é o principal polo brasileiro de produção de uva de essa, e tem recebido muitos investimentos de grandes empresas interessadas neste mercado. Estima-se que nesta região estejam trabalhando nesta atividade cerca de 350 produtores, distribuídos em cooperativas e grandes empresas que ocupavam 7,5 mil hectares.

Segundo a Valex-port, empresa criada para cuidar da comercialização da uva, em 1998 a produção foi de 175 mil toneladas. Deste total, 10,250 mil toneladas foram exportadas para a Europa. O restante, é consumido in natura ou destinada a produção de vinho, feita por quatro vinícolas que lá se instalaram. O Carrefour possui ainda outras duas fazendas na região que produzem em média, 30 toneladas/ano de uvas por hectare, sendo 40% exportada. O trabalho que a empresa pretende desenvolver é o da produção de uva sem agrotóxicos em qualquer uma das etapas de produção. Com isso pretende conquistar uma fatia de mercado que cresce a cada dia. Pretendemos oferecer ao consumidor uma uva que mostre o sabor original da fruta, afirma Arnaldo Eijsink, diretor de agronegócios da empresa.

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