Pecuária

O boi que o mercado quer

Toda cadeia produtiva tem de se adequar para oferecer a mercadoria procurando pelos consumidores finais. Essa é a nova ordem do dia, que deve reger as atividades porteira adentro e porteira afora. De acordo com o pesquisador da Área de Melhoramento Animal da Embrapa/Gado de Corte. Kepler Euclides Filho, a qualidade e a busca por atender as exigências de mercado iniciam na fazenda, vão para a indústria, continuam no varejo e envolvem pesquisas e distribuição.

“Antes de mais nada, deve-se entender a pecuária de corte como um empreendimento, um negócio, que tem de caminhar para eficiência.”

Nesse sentido, o pesquisador ressalta que o melhoramento genético os cruzamentos entre raças zebuínas e européia são apenas alguns dos componentes utilizados para satisfazer as necessidades do mercado. Hoje em dia, suas principais funções, segundo ele, baseiam-se na redução da idade da primeira cria e também da idade de abate. Permanece a preocupação com o ganho de peso e a maciez de carne, só que a diminuição nas idades de abate e primeira cria proporciona um maior giro de produção e de capital. Isso também reflete em melhorias em subprodutos, como, por exemplo, na qualidade do couro, pois o animal tem menor tempo de manejo na fazenda.

A meta é que a média nacional de abates fique entre 12 e 28 meses e a idade de primeira cria aos dois anos, com a concepção ocorrendo do 13º ao 15º mês – atualmente, a média brasileira de primeira cria está em três anos e o abate em 42 meses anos. Claro que existem pólos de excelência onde tais objetivos já são realidade. Na avaliação de Euclides Filho, caso haja um plano de governo efeito, com a proposta de incrementar esses aspectos da pecuária de corte, o Brasil atingiria as metas num período de 10 anos. Não se trata apenas de melhor a genética, mas, também, o manejo, a alimentação e a mão-obra. “ Temos de conjugar o trinômio genético, mercado e ambiente. Afinal, a preocupação com a produção sustentável, uma mentalidade bastante difundida em outros países, está refletindo no Brasil.

No que se refere ao cruzamento de raças, o pesquisador diz que a base zebuína (Nelore) estará sempre presente na pecuária nacional. As vantagens que cada raça ao cruzamento serão mais ou menos aproveitadas á medida que o mercado as solicitar. Trata-se da sintonia fina para o setor, na qual se buscará o melhor corte, tamanho das peças, quantidades de gordura etc.

Em seu trabalho “A Pecuária de Corte no Brasil: Novos Horizontes Novos Desafios”, Euclides Filho comenta que, até o ano 2005, 10% das fêmeas de corte estarão envolvidas em programas de melhoramento genético fundamentados em avaliações com o uso da Diferença Esperada na Progênie (DEP) e, 2015, esse percentual será de 30%. O aumento de inversão de capital, tempo e tecnologias para melhoria do ambiente geral do sistema de produção conduz naturalmente a uma busca por modificação do potencial genético do animal. Dessa forma, o melhoramento genético do animal.Dessa forma o melhoramento genético animal assume papel preponderante no sentido de modificar a constituição genética da população bovina para atendimento não só dessa nova demanda representante pela mudança do potencial genético, mas também para demandas oriundas do novo status em consolidação, que surge como conseqüência das mudanças globais, ressalta ele. De agora em diante, qualquer programa de melhoramento genético animal tem de estar fundamentado em objetivos e metas bastante definidos. Nas palavras do pesquisador, isso que dizer que a mudança genética deve ser direcionada no sentido de atender as exigências da demanda. Somente assim haverá retorno econômico no empreendimento.

Por isso, eficiência tornou-se a palavra-chave para a pecuária de corte. Como em qualquer outro negócio, o produtor não pode perder seu cliente de vista. Segundo o professor do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Elias Nunes Martins, o advento da informática vem contribuindo significativamente para o processamento dos dados.

A manipulação de grande volume informações possibilita uma melhor identificação dos maiores valores genéticos e, conseqüentemente, um aumento da intensidade de seleção. Deve-se considerar que o domínio das técnicas de manipulação da reprodução, como inseminação artificial e a transferência de embriões, tem fundamental importância na disseminação do material genético identificado como superior.

Nos últimos 10 anos, a pecuária de corte brasileira viu surgir diversos programas de avaliação genética. Um cenário que, de acordo com Martins, torna-se bastante variáveis no que tange ás características avaliadas e critérios usados para classificação dos animais. Atitude tecnicamente correta é aquela em que cada produtor fizesse a seleção baseada nas avaliações genéticas ponderadas de acordo com o perfil de seu próprio rebanho. Isto não quer dizer que a avaliação deve ser dentro de cada rebanho, mas sim que a decisão de qual sêmen deve ser usado deve considerar o sistema de produção empregado e o perfil genético do rebanho.

Os rebanhos que participam de programas de avaliação genética estão concentrados nos estados da região Centro-Sul e Sudestes, como conseqüência de uma pecuária mais tecnificada em função do valor da terra, da facilidade de acesso á informação e da disponibilidade de recursos humanos melhor treinados.

No entanto, nas palavras do professor, os genes desejáveis em uma determinada raça não estão presentes em um único animal, mas estão disseminados nos animais que formam aquela raça e o objetivo da seleção é melhorar a média da raça pelo aumento da freqüência dos genes desejáveis. Assim, a idéia de animal ideal deve estar inserida dentro do contexto de sistema de produção e, de forma mais abrangente, da cadeia produtiva. Desse modo é acertado falar em rebanho ideal que seria aquele que produzisse a maior quantidade de carne de boa qualidade por matriz por unidade de tempo, dentro do sistema de produção mais adequado á cadeia produtiva competitiva.
Dessa forma, é fundamental não apenas alterar os rebanhos quanto á sua constituição genética, mas, também, conservar sua genética.

Afinal, se os animais selecionados não possuem individualmente todos os genes desejáveis, o processo de seleção tende a eliminar dos rebanhos qualidades que não estavam presentes nos animais selecionados. Altas pressões de seleção aplicadas a raça pouco numerosas, por meio de técnicas de manipulação da reprodução podem aumentar também a velocidade de perdas genes. assim, se uma pequena parte dos recursos aplicados em tais programas for destinada á conservação genética, poder-se-ia assegurar a manutenção de ganhos ao longo do tempo pelo uso dos recursos genéticos preservados finaliza Martins.

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