Pecuária

As mil e uma faces do Simental no Brasil

Um universo de propriedades que, por paixão ou pro interesse de mercado, vem contribuindo para a melhoria das linhagens que se fixaram em terras nacionais. Segundo o pecuarista Rudolf Reich, autor do livro “Simental: Linhagens & Seleção”, poucos criadores no Brasil se mantêm fiel á origem suíça, modificado o gado para uma estrutura desejada á realidade do País. No entanto, o puro de origem carrega genes desejáveis para as necessidades de nosso clima tropical. Com perfeita adaptação ao nosso ambiente, consegue-se fertilidade altíssima, provando que os animais se sentem bem, escreve ele em sua obra, lembrando que os criadores de Simental não devem esquecer que o grande sucesso da raça depende do seu parceiro de cruzamento, o zebu – caso contrário, o Simental não teria base, nem motivos, para existir em regime extensivo no Brasil.

Responsável pelo chamado Simental brasileiro, o Espírito Santo aparece como o maior território da raça no País. É lá que os criadores que chegaram a uma genética baseada na rusticidade, fator que tem colocado a região como uma significativa fornecedora do gado para as demais localidades nacionais. A absorção genética por meio de cruzas com gado zebuíno contribuiu para a formação animais com maior resistência ao clima tropical. Nesse sentido, de acordo com o proprietário da Fazenda Anita – Caiado Fraga Genética, do município de Pinheiros, norte dos Estado, Amarílio Caiado Fraga, a seleção do rebanho partiu para outros parâmetros além da questão da pigmentação. Hoje, os óculos é conseqüência da pele e estamos preocupados em aspectos como os testículos e o comportamento do animal no Campo.

Dono da única central de inseminação artificial do Brasil e do Mundo que só comercializa material e do Mundo que só comercializa material de Simental, Fraga possui uma produção de touros destinados ao abastecimento de sêmen da empresa. Atualmente, 20 exemplares encontram-se em regime de coleta, que devem engrossar as vendas para deste ano, cuja previsão aponta para a comercialização de aproximadamente 55 mil doses, quase 10 mil a mais que o volume registrado 1998. Na Fazenda, há cerca de 750 cabeças PO, sendo que se mantém 1.500 receptoras, que respondem por algo em torno de 350 nascimento/ano.

A seleção capixaba do Simental agradou o feeling do pecuarista Alexandre Augusto Ruschi Filho, proprietário do Rancho Dois Lagos, no município de Nova Venécia, norte do Espírito Santo. Com a produção voltada para animais de elite e comercial, ele comenta que a resistência dessa linhagem é a principal contribuição da raça para a pecuária nacional. O Simental brasileiro apresenta características bastante específicas, que suportam nossa adversidade climática. Trata-se de um gado que possui uma herança muito forte no que se refere a adaptação ás condições tropicais, com boa conversão alimentar em pastos poucos favorecidos em valores nutritivos.

Sendo assim, Ruschi Filho ressalta que as altas temperaturas e os baixos índices pluviométricos do Estado – que têm registrado médias anuais de 1.000 ml, considerada zona seca – fez com que fossem selecionados animais capazes de suportar tais dificuldades. Motivo que garantiu sua disseminação no cenário da pecuária brasileira, que tem sua base calcada no trabalho extensivo, a campo.

Por sua vez, O Estado do Paraná também conta com bons representantes da raça. Na Fazenda Três Galhos, por exemplo, de Conselheiro Mairinck (PR), a veterinária e filha do proprietário, Madalena Reich, ressalta que a seleção de seu rebanho sempre esteve dirigida a preservação da pureza da raça provenientes da suíça. Adaptamos os animais ao clima tropical, mas mantivemos suas características de origem. Assim, obtivemos um gado alto, de estrutura longelínea e profundidade, além do pelo liso e curto e pigmentação ao redor dos olhos, diz ela, ressaltando a preocupação com a dupla aptidão, para a produção de carne e leite.

Apesar de não explorar as vacas em regime de ordenha, Madalena comenta que, em alguns casos, chega a conseguindo entre 12 e 15 litros de leite/dia/animal, somente com a sobra. Dessa forma, trata-se de uma linhagem que atende, também, os clientes interessados na pecuária leiteira, para a formação de mestiços.Com a proposta de evolução constante, a veterinária comenta que a fazenda adotou a política de trabalhar com gado jovem, enfatiza as melhorias nas famílias maternas. No rebanho de aproximadamente 250 cabeças PO, cerca de 70% tem idade inferior a dois anos. Além disso, a 3 Galhos trabalha com uma Cartela enxuta de doadoras de embriões, geralmente em torno de 15 por ano, matrizes tope ou suas filhas, que perfazem um total de 120 a 150 prenhez/ano. Um índice excepcional, tendo em vista que a média mundial de embriões viáveis por animal/ano gira em torno de sete. Em alguns casos, conseguimos até 14 embriões animal/ano.

Para o descarte dos animais de idade fora dos padrões estabelecido pela política produtiva, a família Reich realiza dois leilões anuais, o Origem e o 3G, vendendo exemplares criados a campo, em pastagens cultivadas de brizantão, coast cross, capim Jaraguá, napier e estrela. Prova da adaptação do Simental á região, Madalena lembra que, no verão os animais suportam uma temperatura média de 33ºC e, no inverno, um clima de aproximadamente 8ºC, com grandes probabilidades atingir marcas em torno de 0ºC. Sem dúvida, a raça está climatizada para os trópicos. Há cerca de 15 anos, enviamos touros para o Estado do Pará, em nossa Fazenda Reunidas 2 R, no município de Tomé Açu, onde são destinados á produção de Simbrasil, mantendo uma vida de monta, entre cinco e seis anos, o que é normal, comemora a veterinária, lembrando que, pelo quinto ao consecutivo, está comercializando com um criador do Mato Grosso do Sul – se o gado não fosse bom, não tornaríamos a concretizar negócios com um mesmo fazendeiro.

Em busca de novas fronteiras

Em se tratado do Centro-Oeste, o pecuarista Luiz Turquino, dono da Fazenda Caçula, em Eldorado (MS), parece com um dos pioneiros na criação do Simental na região. Começou seu trabalho no ano de 1978, com a introdução da linhagem suíça, e, de lá para cá, não fez outra coisa a não ser buscar a adaptabilidade dos animais, sempre em busca de rusticidade e pêlo fino. Após um pouco mais de 20 anos de seleção, ele garante que o gado encontra-se preparado para enfrentar as condições climáticas e de pastejo do local. No início, o rebanho apresentava grande dificuldade no manejo a pasto, por muito sensível ao calor. Hoje, com pêlo zero, há touros que se mantêm em produção por períodos de 10 a 15 anos garante.

No entanto, Turquino ressalta que se deve ficar atento ao manejo. Pastos muito extensos e grande quantidade de vacas prejudicam a performance do Simental. De acordo com ele, isso porque, instintivamente, fêmeas zebuínas tendem a discriminar o touro europeu, exigindo demais dos machos. Com um trabalho correto, com áreas menores para cobertura e rodízio da vacada de 40 em 40 dias, cada touro Simental chega a emprenhar até 100 fêmeas/ano.

Dentre as características dessa adaptação da raça ás terras mato-grossenses-do-sul, o criador destaca os diferenciais no aprumo, com um pouco mais de altura e cascos fechados, fatores adequados ao tipo de pastagem da região. Também não se pode esquecer da pigmentação ocular, senão a sensibilidade aos raios solares faz os olhos lacrimejarem, o que atrai a presença de moscas.

No que se refere á participação do Simental na pecuária do Estado, Turquino afirma que se trata de um dos gados mais importantes na formação de raça mista, com alto potencial de transmissão de carne e leite. Segundo ele, a fêmea meio sangue é a mais cara de todos os cruzamentos, pois emprenham cedo e com muita facilidade. Para se ter uma idéia, uma vaca de 42 meses, ½ Simental ½ Nelore, conta em sua vida produtiva com duas crias e mais seu peso, de aproximadamente 1.000 kg. É uma máquina de produzir carne, pois a raça leva a vantagem de multiplicar suas qualidades reprodutivas, exalta o pecuarista, que possui um rebanho de 400 cabeças PO e uma produção anual de 200 bezerros.

Em termos de mercado, o Simental vem se mantendo como uma boa opção para quem deseja resultado a custos baixos. Um touro da raça custa entre R$ 2.500,00 e R$ 3.000,00, o que, na opinião de Turquino, situa-se num patamar ideal para aplicar em cruzamento industriais. É a raça mais econômica, conta com grande oferta e, apesar do pouco marketing, tem excelente liquidez.

Também entusiasmado com os resultados obtidos no Mato Grosso do Sul, o zootecnista e filho do proprietário da Fazenda Charrua, do município de Eldorado, Maurício Möller, não deixa de destacar os valores que o Simental oferece á pecuária da região. Não é à toa que, além dos dois leilões anuais que participa, o Charrua e Paraíso, na cidade de Dourados, e o campo Grande, programa, para o ano que vem, a realização de outros dois, o Charrua e Convidados, em Ponta Porá, e Simental Camapuã, em Camapuã. O sucesso da raça no Estado são os produtos de cruzamento industrial. Assim, quanto mais pesados, melhor, pois conseguimos vendê-los mais caro.

Engorda garantida aos produtos ½ sangue

Como exemplo do sucesso da raça na região, Möller cita os índices que alguns invernistas vêm obtendo. Bezerros meio sangue de oito meses com aproximadamente 230 kg têm rendimento até 235 kg na engorda a pasto. Animais ¼ Simental, que desmamam por volta de 270 kg também aos oito meses, apresentam ganho de engorda de 180 kg em um ano. Além disso, ele ressalta a habilidade materna das fêmeas ½ sangue, impulsionada pela alta fertilidade e precocidade, que se completa com bom acabamento de carcaça, a condição de excelentes receptoras e o alto potencial para a formação de raças tri-cross. Isso faz com que o Simental apresente aumento de demanda e crescimento nas vendas.

A família Möller iniciou a criação da raça há 20 anos, na Fazenda Minuano, no norte do Paraná. Em 1983, transferiu o rebanho para o Mato Grosso do Sul e, de lá para cá, especializou a propriedade a produção de touro para suprir a necessidades do Centro-Oeste. De forma bastante profissional, todos os animais comercializados Charrua levam o exame andrológico e garantia de fertilidade, adaptabilidade e libido. Qualquer problema num prazo de 180 dias, o comprador insatisfeito pode efetuar a troca. È uma forma de zelarmos por nossos clientes, firmando um compromisso de qualidade dos exemplares que tem a nossa marca, diz o zootecnista, que desenvolveu um manual técnico de manejo de touros Simental, com o objetivo de alertar para os pecuaristas que adquirem seus animais da necessidade de um manejo adequado. No material, abordam-se questões sobre carrapatos, mosca, casco etc. Um trabalho pós-venda, que, na opinião dele, deveria ser feito por todos os criadores por todos os criadores de raça européia.

Como estratégica de mercado, a Fazenda Charrua oferece, depois da desmama, uma suplementação alimentar aos machos, 3kg/dia para os mais novos e 5kg/dia para os erados. Uma maneira de deixar os animais vistosos para valorizar as vendas. Diante disso, Möller faz questão de frisar que a suplementação serve para ajudar no crescimento e deixar o gado bonito. Os animais sabem pastar, pois o tratamento é dado a campo, sem o fornecimento de volumoso no cocho. No entanto, precisam de certa adaptação na etapa em que deixará de ser suplementado até chegar a comer somente no pasto.

O Simental da Charrua é de origem suíça, alemã e do Espírito Santo. Ao todo, são 900 cabeças puras, que vêm contribuindo para a seleção particular da propriedade, que desenvolveu sua própria linhagem, de pelo curto, tapado avermelhado no corpo, pigmentação ocular, testículos bem implantados e bons aprumos. Nos dedicamos á produção de touros que atenda ás necessidades do consumidor. Não só do nosso cliente direto, o criador ou invernista, mas também, o comprador da carne no supermercado. A final, tudo isso faz parte da cadeia produtiva, enfatiza.

Do Sul para o Centro-Oeste

De olho no mercado do Brasil Central, os pecuaristas do Rio Grande do Sul vêm adaptando seus rebanhos ás exigências de seus clientes. È o que afirma o proprietário da Fazenda Lapa, no município de Uruguaiana, Oswaldo de Lima e Silva, criador de Simental desde 1975. de acordo com ele, o objetivo dos produtores gaúchos encontra-se voltado para suprir ás necessidades do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no intuito de fornecer touros para cruzamento industriais. De sua propriedade saem, anualmente, cerca de 60 a 70 reprodutores, que, segundo ele, não apresentam problemas de adaptação de uma região á outra. Temos um alto potencial genético e todos os nossos produtos são rústicos, prontos para serem utilizados imediatamente a campo.

Perguntado sobre a diferença de temperatura entre os Estados, Silva diz, que na região onde está seu criatório, o calor chega a 41ºC, na sombra. Certo que os períodos são diferentes. Enquanto lá a alta temperatura é contínua, aqui ela dura poucos dias. Mesmo assim, não temos tido problemas, diz ele, lembrando que é importante entregar animais mochados – faz parte da preferência dos pecuaristas da região Central.

Também em busca da exigências do mercado, a Fazenda Santa Terezinha, localizada no municípios de São Francisco de Paula e Jaquirana (RS), está sendo pioneira no desenvolvimento de uma linhagem mocha, fortemente representada pelo reprodutor FST P1 Pool, bicampeão em Esteio, na Expointer de 1998 e 1999. Um exemplar de 1.428 kg e 162 cm, que parte para uma característica até agora não disseminada no Simental. Segundo um dos proprietários, o médico veterinário, responsável pelo Setor de Produção Animal, Eduardo Borges de Assis, esse fator revela vantagens indiscutíveis, principalmente no que se refere a um manejo mais seguro e menor suscetibilidade a acidentes entre os animais. Além disso, o pecuarista tem condições de elevar o número de touros por hectare.

Com vendas constantes para Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e São Paulo, Assis diz que a grande vantagem da raça no Brasil encontra-se no seu alto nível de adaptabilidade. Dessa forma, apesar da base do Simental no rio Grande do Sul ser originária da Alemanha, com o padrão Fleckvieh, o Estado conta com gado de todas as variações para atender ás exigências de seus clientes. Sem esquecer da dupla aptidão, ele afirma que o trabalho na Santa Terezinha se desenvolve com presença todas as linhagens Simental, incluindo a canadense, suíça e a Brasileira. Participamos em exposições em diversas partes do Brasil, levando animais que respondam ás necessidades de cada região. Isso prova que se trata de uma raça com o mais interessante leque genético, refletido nas diversas condições de clima e solo do território nacional – outros detalhes podem ser obtidos no site da propriedade – www.simental-fleckviech.com.br

São Paulo: a convergência

Diante de tanta diversidade numa mesma raça, há quem diga que a congruência do Simental ocorra no Estado de São Paulo. Na avaliação do veterinário da Fazenda Xingu, de Ituverava, Luiz Roberto Pena de Andrade, os criatórios paulistas não se especializaram em apenas uma linhagem. Fazem-se cruzamentos em busca de um biótipo comum, com precocidade e produtividade, para que o mestiço com o Nelore vá para o abate entre dois e meio e três.

Soma-se a esse modelo, a preferência por animais mais baixos, profundos, com bom rendimento de carcaça, aprumos proporcionais, pigmentação ocular e pelo zero. Acredito que esse é o perfil ideal para o Simental no Brasil, que deve predominar a presença da raça no País, pontua Andrade.

Com 80 cabeças PO, a propriedade concretiza cerca de 150 prenhez/ano, das quais consegue vender algo em torno de 100 machos. Trabalhando com 15 doadoras/ano, o proprietário Tadashi Mine faz questão de comercializar reprodutores totalmente adaptados ao campo. Tratados em pastos de tubiatão, tifton e grama estrela, quando são encaminhados para venda, o gado encontra-se pronto para entrar em atividade na fazenda do comprador.

Ocupando o terceiro lugar em quantidade de animais, o Estado de São Paulo vem expandindo seus horizontes e conquistando novos espaços para o Simental. Pelo menos essa é a análise do presidente do Centro Paulista das Raças Simental e Simbrasil, Klaus Meyer Cirkel, que observa um aumento nas vendas diretas nas fazendas, com crescente demanda por animais de dupla aptidão. Nesse sentido, uma tendência da região e a relação com pequenos produtores. Temos mais negócios envolvendo menor número de pessoas. Estamos nos distanciando dos grandes leilões.

Tal realidade, na opinião de Cirkel, possibilita o estabelecimento de um novo modelo de contato entre os criadores, permitindo explorar melhor o mercado na própria região. Para ele, a principal vantagem desse tipo de relação situa-se no fato dos criadores veteranos poderem acompanhar de perto a evolução da raça, repassando experiência e orientações. Assim, a expansão se realiza de maneira eficiente e otimiza resultados.

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