Agricultura

Ao gado as laranjas!

A citricultura brasileira sempre foi refém dos resultados das safras americanas. Quando havia estiagem nos brasileiros comemoravam e exportavam toda a sua produção. Quando o fator climático não interferia toda a sua produção. Quando o fator climático não interferia nessa relação comercial, entrava em cena os preços baixos e produtores reclamando. Esses altos e baixos da citricultura já vêm de longa data, o setor atravessa um período de baixos preços no mercado internacional, em função dos estoques ainda existentes e da perspectiva de grande produção de frutas nos dois países.

O mercado de subprodutos também está sofrendo com essa expectativa, o que está fazendo com que produtores brasileiros voltem suas atenções para o mercado interno. E o caso do farelo de polpa cítrica seca e peletizada, utilizada na alimentação de ruminantes, que apresentou queda nos preços, não apenas em decorrência da perspectiva de grande oferta mas, também, pela maior disponibilidade na Europa de grãos que foram direcionados para o consumo animal. Com isso, a oferta de polpa cítrica está atendendo a demanda interna, crescente em função de uma maior divulgação de suas características nutricionais, além de apresentar preços mais competitivos em relação a outros componentes da dieta animal, como o milho.

De acordo com Iberé Rodrigues Fernandes, gerente comercial da Sucorrico S.A – produtora de 50mil toneladas de farelo de polpa cítrica por ano -, o mercado interno tem um grande potencial, mas ainda não tem um número alto de consumidores, decorrência da alta exportação desse produto, que tem 95% da sua produção de 1 milhão e 200 mil toneladas por ano enviada para a Europa.

Mas, conforme previsões do próprio mercado, a tendênica é o aumento da procura, já que as informações nutricionais estão sendo divulgadas também por órgão de pesquisa, além de apresentar um preço atrativo, cerca de 20% mais baixo que o milho. As industrias citrícolas também estão se organizando para atravessar o período da entressafra sem sofrer com a escassez do produto. Isso dará garantia do fornecimento durante sem sofrer com a escassez do produto. Isso dará garantia do fornecimento durante todo o ano, sem prejudicar a dieta do rebanho e abrindo, ainda mais, o caminho para desenvolver o mercado interno. Segundo Fernandes, esse período está sendo ultrapassado com planejamento. Cadastramos os nossos clientes e as quantidades que vão utilizar no período, deixando tais cotas armazenadas, explica. Com isso, estamos garantindo a oferta durante todo o ano. garante. O armazenamento da polpa em pellet durante esse período é possível pois apresenta uma boa durabilidade, podendo ser estocada em silos ou em galpões vedados, tomando cuidado apenas com a umidade, evitando, assim, a criação de fungos, explica Fernandes.

A Nutricell Produtos e Serviços para Pecuária, que representa as indústrias citrícolas CTM Citrus e Cambuí MC, também está organizando para atender seus clientes nesse período Marcelo Pereira de Carvalho, diretor da Nutricell, o produto vai estar sempre disponível aos criadores que se cadastrarem na empresa. Atualmente com 200 clientes cativos, Carvalho acredita que o investimento das indústrias no mercado interno de polpa cítrica vai ser ainda maior, pois com a diminuição dos rebanho da Europa e a alta produção brasileira, vai Ter sobra de produto a preços convidativos, afirma. Ele pressupõe, ainda, essa oferta não apenas sazonal, devido a essas alterações no quadro internacional mas investimentos duradouros para oferecer preços viáveis e estoques suficiente aos pecuaristas brasileiros. Otimista com o mercado, Carvalho espera comercializar entre 30 mil a 40 toneladas no ano de 1998.

A polpa

Os subprodutos cítricos são utilizados na alimentação animal desde 1911 e teve início nos Estados Unidos. O processo de secagem foi desenvolvimento em 1934, despertando o interesse das esmagadoras americanas de laranja pelo subproduto. Desde então, a polpa cítrica seca e peletizada vem sendo utilizada como fonte de energia na alimentação dos ruminantes. Apesar da história antiga, no Brasil o uso não tão comum. Segundo empresas do setor, a maioria dos clientes que utiliza a polpa ainda é pecuarista de leite, geralmente mais esclarecido que realiza um controle zootécnico e que testam novas tecnologias, podendo ou não ser grandes produtores. A Nutricell mantém clientes de alta e pequena produção orientando-os a substituírem em 560 o milho pela polpa cítrica na dieta de animais de baixa lactação, abaixando, assim, os custos de alimentação desses animais.

O produto é carregado à granel, vem peletizado e não necessita de processamento na fazenda. O ideal é fornecê-lo na forma de ração completa, junto a Outros ingredientes da nutrição. Técnicos do CATI, que desenvolveram um boletim dirigido aos pecuaristas leiteiros sobre a polpa cítrica, orientam a não moer o pellet, pois existe a perda das fibras nesse processo.

A Fazenda Real, propriedade de marcos Ermírio de Moraes, onde é criado gado leiteiro e de corte, utiliza há cinco anos farelos de polpa cítrica na dieta dos dois rebanhos. Para Ricardo Builau, veterinário responsável pela adoção do farelo na dieta dos animais, esse componente garante vantagens nutricionais e econômicas para a propriedade. Com cerca de 100 animais de cada raça, o trabalho da Fazenda Real é respeitado pelos resultados que apresenta. Comercializa animais de corte POs, criados a campo com suplementação no pasto, tem uma produção leiteira com média de 21Kg de média, por vaca em lactação. O veterinário afirma que a oferta de fibra disponível na polpa diminui em muito os problemas digestivos, de acidose e laminite encontrados no rebanho, além de fornecer doses de energia e proteínas que equipara-se com o milho.

Builau utiliza uma concentração de 50% de farelo de milho na dieta dos animais, pois considera a polpa carente de minerais. Oferece cerca de 4,5Kg diários de polpa cítrica para cada vaca em lactação, evitando aumentar a dosagem devido a problemas que podem causar em testes de qualidade do leite. Quando a dosagem é elevada, pode-se detectar em teste de qualidade do leite, resultados falso-positivos para a penicilina. Falha do teste e não da polpa, reclama.

Segundo técnicos do CATI, existem outras características que diferencia a polpa dos concentrados tradicionais. Ela fornece fibra efetiva, praticamente não contém amido, possui pectina e tem, no ácido acético, seu produto principal da fermentação que eleva o teor de gordura no leite. Com essas características, a polpa auxilia na ruminação, na produção de salina, no funcionamento ruminal e no tamponamento do rúmen, evitando quedas bruscas que podem causar acidose ruminal.

Em comparação ao milho, ingrediente que é substituído completa ou parcialmente pela polpa, os técnicos do CATI analisam que a polpa detém cerca de 85% a 95% do valor energético do milho e não é, da mesma forma, uma boa fonte proteica. No entanto, ela difere-se do milho ao fornecer ao rebanho fibra efetiva, pectina – que auxilia na produção de proteína microbiana no rúmen -, cálcio. Em seu boletim, a CATI afirma que mesmo contribuindo com o fornecimento de fibra efetiva para o animal, não significa que o produto atue como substituto de volumosos de vacas leiteiras. No máximo, pode-se substituir parte volumoso quando esse for escasso ou de qualidade reduzida porque seu teor de fibra não é elevado, admitindo-se até 2Kg de matéria seca da silagem de milho substituídos pela polpa cítrica peletizada.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *