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Indígenas recebem sementes de milho e feijão no RS

O dia dos indígenas Guarani Mbya da Aldeia Tekoá Pindó Mirim (Pequeno Coqueiro, em guarani) começa com uma roda de chimarrão, onde cada um fala sobre os sonhos que teve na noite anterior. A partir disso, eles organizam suas atividades. “A gente respeita muito a espiritualidade, as coisas que a gente não vê”, contou Valdecir Moreira, o cacique Xunu. “E usamos isso também para as plantações”. A aldeia, localizada em Itapuã, no município de Viamão, recebeu, nesta quarta-feira (28), 60 quilos de sementes de milho da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), em parceria com a Emater/RS-Ascar. E em breve receberá mais 60 quilos de sementes de feijão. Ao todo, serão beneficiadas 25 famílias.

O cacique agradeceu e disse que as sementes vão ajudar na alimentação dos 120 integrantes da aldeia, principalmente das cerca de 70 crianças. “Elas gostam muito de milho, é a principal fonte de alimento delas. Semente é vida, energia e saúde. Na próxima semana já vamos preparar o plantio, para poder colher em janeiro do ano que vem. E usamos o milho também para fazer a cerimônia de batizado de crianças”, explicou Xunu.

Ele disse que, apesar de manterem seus costumes e sua cultura vivos, é importante a troca com o mundo dos juruás (brancos). “Mas mantemos nosso mundo, nossa ancestralidade, nossa espiritualidade. Existe um limite que não pode ser ultrapassado, para não nos perdermos, como muitos indígenas fazem. Por isso, somos uma aldeia mais restrita a pessoas não-indígenas”.

A aldeia

A Aldeia Tekoá Pindó Mirim possui 15 hectares e fica a 40 quilômetros do centro de Porto Alegre. Os indígenas plantam, para sua subsistência, além de milho, feijão, amendoim, aipim, batata-doce, melancia, hortaliças, morangas e abóboras, árvores frutíferas (bergamota, laranja, limão, abacate, pêssego e uva), frutíferas nativas (guabiju, araçá, jaboticaba), pinhão. E também criam galinhas. Como geração de renda, vendem seu artesanato e orquídeas que cultivam.

Existe no local um posto de saúde e uma escola estadual que atende desde a educação infantil até o ensino médio: Escola Nhamandu Nhemopu’ã, que significa “o acordar do divino sol”, em tupi-guarani. “Mas temos a nossa reza e nossa medicina. Temos o karaí, que é uma liderança espiritual”, fez questão de frisar o cacique Xunu. “Muitos nos perguntam: qual a cultura de vocês? A nossa cultura somos nós mesmos. A gente constrói essa cultura dia a dia. Mas mesmo sendo tradicionais, os nossos jovens têm acesso à tecnologia”.

A entrega das sementes de milho e feijão integram o projeto Semeando nas Aldeias, que também disponibiliza sementes de hortaliças. Cada família recebe um kit com seis espécies. O objetivo é a soberania alimentar das aldeias indígenas no Rio Grande do Sul. Ele foi debatido e aprovado no Conselho Estadual dos Povos Indígenas (Cepi).

O diretor do Departamento de Desenvolvimento Agrário, Pesqueiro, Aquícola, Indígenas e Quilombolas (DDAPA) da SEAPDR, Maurício Neuhaus, esclarece que o levantamento da demanda de sementes foi feito pelos escritórios municipais da Emater. “A Emater tem um papel fundamental, pois, além de entregar as sementes, faz um acompanhamento do plantio e do desenvolvimento das diferentes culturas. Também participa da elaboração de materiais, tanto para cultivo, como para transformação da colheita em alimento, que é a principal finalidade do programa”.

Para além desse projeto, a SEAPDR pretende distribuir 30 mil quilos de sementes de milho e feijão para comunidades indígenas e quilombolas do Estado. São 3812 famílias, em 49 municípios, que vão receber estas sementes até agosto, antes do início do plantio.  Em algumas comunidades, a Emater já recebeu as sementes para a distribuição no próximo mês, como as aldeias indígenas de Porto Alegre, índios e quilombolas de Cachoeira do Sul e Caçapava do Sul, quilombolas de Encruzilhada do Sul, Rio Pardo, Vale Verde, Piratini, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Alegrete.

Os recursos investidos foram de R$ 258.013,14, do orçamento do Estado, e a compra foi feita através de licitação. Atualmente, existem no Rio Grande do Sul 126 aldeias indígenas em 57 municípios e 126 comunidades quilombolas rurais com cerca de 4 mil famílias, localizadas principalmente na zona Sul do Estado.

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