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Cada “cabelo” fertilizado da espiga de milho forma um grão

O milho é um cereal muito presente na alimentação brasileira – milho pipoca, milho verde, milho canjica branco e amarelo – cozido, refogado, no cachorro-quente ou em grãos como é vendido nas praias. É um alimento popular e carrega curiosidades interessantes. Por exemplo: cada “cabelo” da espiga fertilizado pelo pólen forma um grão de milho. Aquele “cabelo” presente na espiga, que para crianças do interior representam uma “boneca de milho”, origina um grão que irá compor as receitas nacionais.

Em 24 de maio comemora-se o Dia Nacional do Milho. E a gente entende bem porque esse grão merece um dia só para ele. A manutenção desse item na culinária envolve muita ciência agronômica, como a conduzida pelo Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. O IAC gera e transfere tecnologias para pequenos e médios produtores por meio de cultivares e híbridos de milho caracterizados por qualidade e preço de sementes compatível com o mercado, além de variações do grão em composição, cor e formato.

“A coloração do ‘cabelo’ apresenta diferentes tonalidades, variando de amarelo claro até alaranjado, dependendo da quantidade de antocianina, que pode ser classificada como ausência de cor, presença fraca, média e forte de antocianina”, explica a pesquisadora do IAC, Maria Elisa Ayres Guidetti Zagatto Paterniani.

A cientista explica que os milhos doce e verde não devem ter sabugos nem cabelos pigmentados, pois os materiais coloridos em conservas podem depreciar o produto e o consumidor pode pensar que é cabelo humano. “O milho verde cozido para barraquinhas também não pode ter cor, pois a água de cozimento pode ficar escura e levar o consumidor a rejeitar o produto”, comenta.

Segundo a pesquisadora, o milho é uma espécie que apresenta cerca de 95% de fecundação cruzada, isto é, o pólen de uma planta vai para outra. A polinização natural, em geral, é efetuada pelo vento e por abelhas.

“Durante a polinização, as abelhas depositam grãos de pólen nas bonecas, onde germina o tubo polínico, a fertilização, e vai até o ovário da planta, onde ocorre a fecundação, formando o embrião e o grão de milho”, explica. Trinta dias após a polinização – processo em que o grão de pólen é levado de uma planta a outra – já tem o milho verde e, após 60 dias, faz-se a colheita do milho grão.

Na fase de embonecamento, aquela em que é possível ver as “bonecas de milho” nas lavouras, a ocorrência de estresses, principalmente a seca, pode comprometer drasticamente a produção de milho, principalmente o número de grãos por espiga. “Esta fase ocorre quando os “cabelos” da espiga ficam visíveis, fora da palha; um grão de pólen atinge um cabelo e tem-se polinização. Então ocorre a fertilização, que leva cerca de 24h para crescer em direção ao óvulo, onde ocorre a fecundação e a formação do grão de milho”, descreve a pesquisadora.

A dispersão do pólen ocorre até 14 dias, sendo o mais comum entre o 5° e 8° dia. Ele é liberado pela manhã, até as 12h, e pode ser carregado por até 500 metros de distância, com viabilidade de uso durante cerca de 24 horas, em condições ideais. “A fertilização ocorre entre 12 e 36h após a polinização”, diz Maria Elisa.

A polinização manual é feita para obtenção de linhagens, via auto-fecundação, e híbridos de milho, via cruzamentos. A técnica é destinada também à manutenção da viabilidade de sementes, ou seja, manter o poder de germinação em câmara fria. Este trabalho também é fundamental para a preservação de Bancos de Germoplasma de milho. Maria Elisa e Sawazaki são curadores desta coleção de plantas no IAC, e fazem polinizações manuais, todos os anos, para manutenção do Banco e produção de híbridos experimentais.

Na polinização manual, são intercruzadas plantas de milho antigas, mais recentes e, principalmente, gerações avançadas de híbridos comerciais de milho convencionais, isto é, não transgênicos. “Esses híbridos convencionais não existem mais no mercado, o que torna essa coleção importantíssima, pois são fontes de genes para resistência a doenças, tolerância a estresses ambientais e outros caracteres agronômicos importantes, considerando-se que foram submetidos a intenso processo de seleção e melhoramento”, explica a pesquisadora, que conta com o auxílio de seus alunos do curso de Pós-Graduação IAC em Agricultura Tropical e Subtropical.

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