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São Paulo produz mais da metade do caqui brasileiro

Algumas pessoas, principalmente crianças, o descrevem como um tomate doce. Mas, afinal, o que é essa fruta avermelhada, cuja aparência realmente lembra um tomate? Segundo estudiosos, o caquizeiro (Diospyros kaki), da família Ebenácea, é uma planta perene, com longevidade de frutificação e de porte arbóreo, originária da China ‒ país que possui plantios seculares e que, atualmente, ocupa o posto de maior produtor mundial ‒, mas que também possui grande produção e consumo no Japão e na Coreia. Hoje, mundialmente conhecido, produzido e consumido, o caquizeiro ‒ nome originário da palavra japonesa kaki ‒ é valorizado pelos seus frutos doces e saborosos, reconhecido até em seu nome botânico Diospyros, de origem grega, que significa “alimento dos deuses”.

No Brasil, relatos históricos mostram que a introdução ocorreu por volta de 1890, pelos portugueses, mas a expansão da cultura aconteceu a partir da década de 1920, com os imigrantes japoneses, os quais foram responsáveis pela introdução de novas variedades do tipo doce (amagaki) e pelo domínio das técnicas de produção.

Atualmente, o Estado de São Paulo responde por mais de 50% da produção brasileira, com um volume estimado em 125 mil toneladas. As principais regiões produtoras são, respectivamente, Mogi das Cruzes, Itapetininga, Campinas, Itapeva e Sorocaba, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA/SAA). “Do ponto de vista técnico, o caquizeiro tem um custo de produção interessante e material genético rústico, bem como manejo e tratos culturais com exigência de podas de formação e frutificação. Em plantios comerciais devem ser seguidas as recomendações de poda, tutoramento e escoramento dos ramos, pois resultam em melhor produtividade e sanidade no pomar, podendo-se, também, investir na irrigação localizada (gotejamento e microaspersão). Por conta da adoção de alta tecnologia, a produtividade em São Paulo é considerada a maior do País, chegando a 28,5 toneladas/hectare”, explica o engenheiro agrônomo Renato Alves Pereira, responsável pela Casa da Agricultura de Guararema − ligada à Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Mogi das Cruzes −, que há quase 30 anos atua no segmento.

Há décadas, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento contribui para que o Estado ocupe o primeiro lugar em âmbito nacional, sendo parceira dos produtores e atuando em toda a cadeia, por meio das ações de extensão rural executadas pela CDRS, a qual atua como facilitadora de políticas públicas; difusora de conhecimento e tecnologia; incentivadora da organização do setor; e produtora de mudas, área em que o grande diferencial foi a formação de um banco de germoplasma, fruto de experimentos e pesquisas no plantio de matrizes com espécies e variedades diferentes. “Nosso banco é único no País, por meio dele produzimos mudas de 15 variedades entre amagaki (doces) e sibugaki (adstringentes), sendo precoces, de meia estação e tardias, o que contribui para ampliar as épocas de colheita e a rentabilidade dos produtores”, explica Marcos Augusto Franco Junior, diretor do Núcleo de Produção de Mudas de Itaberá, unidade da CDRS que produz e comercializa 10 mil mudas de caqui anualmente.

Região de Mogi das Cruzes concentra a maior produção do Estado

Na região, que ostenta o título de maior produtora do Estado, a história da fruta também se entrelaça com o trabalho da comunidade japonesa local. “Tanto as variedades cultivadas quanto as metodologias de plantio são originárias da colônia japonesa que deu início à atividade por volta da década de 1920 e se consolidou, como exploração econômica de valor comercial, na década de 1960”, conta Felipe Monteiro de Almeida, secretário Municipal de Agricultura de Mogi das Cruzes, engenheiro agrônomo licenciado da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Segundo o secretário, o cultivo do caqui na região ocupa uma área de 1.484 hectares, em 468 propriedades onde se cultivam caquis das variedades Fuyu, Giombo e Rama Forte, com uma produção estimada em cerca de 50 mil toneladas para a safra de 2021, sendo que, somente a cidade de Mogi das Cruzes, conhecida como ‘terra do caqui’, responde por mais de 50% da produção regional.

A extensão rural tem contribuído há anos para esse cenário pujante na região. “Em um trabalho de longa data, com objetivo de fortalecer a cadeia produtiva do caqui em nossa região, nós da Secretaria de Agricultura e Abastecimento ‒ em parceria com o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Prefeitura Municipal e os produtores rurais do Alto Tietê ‒ investimos na adoção de técnicas e tecnologia no sistema de Produção Integrada de Frutas (PIF), que utiliza um conjunto de práticas agrícolas que viabiliza economicamente a propriedade, maximizando o uso dos recursos naturais, assegurando a redução de riscos às pessoas e preservando o meio ambiente. Esse trabalho levou a nossa produção de caqui a um patamar de excelente qualidade, com alta produtividade, e a nossa região a se tornar responsável por mais de 50% da produção paulista”, explica o agrônomo Renato Pereira, que foi coordenador da PIF – Caqui.

Nesse contexto, Felipe Monteiro destaca que, atualmente, o trabalho de articulação, Ater e pesquisa da Secretaria Estadual de Agricultura ainda se mostra essencial para o contínuo desenvolvimento da cultura, pois ações de manejo fitossanitário do caquizeiro têm exigido uma maior dedicação dos produtores, principalmente no diz respeito ao controle da antracnose. “Ao longo dos anos, a Secretaria estadual estabeleceu uma relação de confiança mútua e trabalho em parceira em prol do desenvolvimento da cultura no Estado. Como na agricultura, em especial na fruticultura, a necessidade de aprimoramento das tecnologias de manejo e produção é essencial para manutenção da atividade com produtividade e qualidade. Neste momento, ações coordenadas para o controle sanitário são de extrema importância para que São Paulo continue liderando a produção no âmbito brasileiro”, diz Felipe.

Junto com as ações rotineiras de Ater, na área de organização rural, o sociólogo David Rodrigues, diretor substituto da CDRS Regional Mogi das Cruzes, contabiliza o fortalecimento da Cooperativa Isabelense de Produtores Rurais (Coaipro), com investimento de recursos da ordem de R$ 800 mil, do Projeto Microbacias II executado pela CDRS, como um instrumento impulsionador da cultura na cidade de Santa Isabel. “Criada em 2010, como Associação Isabelense de Produtores Rurais (Aipro), viu no cooperativismo a forma de ampliar a comercialização e agregar valor à produção, ampliando, assim, a rentabilidade dos produtores. Sozinhos, não conseguiam tirar o projeto do papel, porém como beneficiários do Projeto conseguiram vencer os desafios logísticos, com a aquisição de caminhões, caixas plásticas e balança; aprimorar a padronização e classificação dos produtos, com a construção de um entreposto; bem como melhorar a qualidade, aumentar a produção e a rentabilidade; e diminuir as perdas, principalmente na cultura do caqui, com a aquisição de uma câmara fria e embalagens adequadas para transporte”, explica David Rodrigues, salientando que a Coaipro continua sendo acompanhada pelos extensionistas.

Fruticultura Hoçoya: agricultura familiar com gestão empresarial

Com 55 anos de tradição na produção de frutas em uma área de 12 hectares, tendo o caqui como carro-chefe, a família Hoçoya investe na tríade trabalho árduo, tecnologia e gestão para administrar a propriedade, que se tornou uma empresa, dedicada à fruticultura de qualidade. “Buscamos sempre inovação tecnológica, sem esquecer da tradição na produção de frutas de mesa com sabor acentuado. Foi nossa família quem descobriu que se o caqui for ensacado com saquinho de papel branco, fica mais doce e com coloração mais uniforme e bonita, prática utilizada até os dias atuais. Utilizamos adubação organomineral, irrigação por microaspersão e proteção do pomar por telas antigranizo. A maioria dos processos de produção é manual, principalmente na colheita, em que são coletadas apenas as frutas maduras, com nível de doçura mais elevado. Por conta disso, já ganhamos diversos prêmios, como o de melhores produtores, oferecido pela extinta Cooperativa Sul Brasil, por 30 anos consecutivos, bem como premiações em festas regionais”, comenta Ercílio Massahito Hoçoya, 38 anos, formado em Tecnologia do Agronegócio pela Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Mogi das Cruzes, produtor da terceira geração que dá seguimento à sucessão da empresa familiar.

Sobre o manejo da cultura na propriedade da família, Ercílio ressalta que é feito, praticamente, todo de forma manual, o que os leva a buscar sempre mão de obra experiente. “Esse processo torna nosso produto diferenciado, com alto valor agregado”, diz, ressaltando a importância da CDRS para ele e outros produtores. “O trabalho dos extensionistas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento tem sido de suma importância para melhoria de processos e no desenvolvimento da cadeia produtiva do caqui e também de outras frutas, bem como de projetos de interesse geral em nossa região”.

Para escoar a produção, que a cada ano aumenta, e, por conta da pandemia, desde o ano passado, a família Hoçoya tem investido na abertura de novos mercados e formas de comercialização”, conta Ercílio, salientando que as principais mudanças foram: alteração dos canais de venda (Ceasa, supermercado, quitanda e consumidor final), que seguiam a proporção de 70% ‒ 20% ‒ 5% e 5%, respectivamente. “Passamos a direcionar boa parte da produção para canais de escoamento mais próximos ao consumidor final, com a proporção de 30% ‒ 40% ‒ 20% e 10%. Por fim, aproveitamos para iniciar o serviço de delivery para melhor atender os feirantes e consumidores finais. Devido a essas mudanças, foi possível escoar toda a safra, aumentamos o faturamento significativamente, pois, posicionando o produto para a ponta final da cadeia, conseguimos um preço mais alto e, além disso, conquistamos novos clientes”, explica, mostrando que, em um cenário de adversidades, foi possível aprimorar a gestão e os canais de comercialização, aumentando a rentabilidade da atividade.

Atualmente, trabalhando com cinco variedades comerciais, a empresa possui uma grande diversidade de espécies de coleção, entre elas o caqui preto, que tem como característica marcante a coloração: à medida que amadurece, sua casca se torna preta.”Trabalhar com caqui é gratificante, pois entregamos à sociedade um alimento saudável. Então, aos apreciadores do caqui incentivo o consumo e àqueles que ainda não conhecem, digo que experimentem essa fruta saborosa, que faz bem à saúde!”

Agregação de valor à produção: minimiza perdas e aumenta a rentabilidade

Um dos problemas enfrentados pelos produtores é a perecibilidade da fruta e as dificuldades logísticas para o transporte. Com um trabalho de décadas na área de capacitação em processamento artesanal de alimentos e incentivo à agroindústria artesanal, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento aponta a agregação de valor à produção de caqui como uma alternativa para os pequenos produtores diminuírem perdas. “Apesar de muitos não terem conhecimento, o caqui é uma fruta versátil, que pode ser consumida e utilizada, além da forma in natura. Vinagre de caqui, caqui-passa, caqui seco, entre outros produtos, que são 100% naturais, podem ser obtidos por meio do processamento artesanal, com pequenas máquinas disponíveis no mercado ou adaptação de equipamentos na propriedade”, informa Silvana Catarina Sales Bueno, engenheira agrônoma aposentada, que por mais de 30 anos atuou na Secretaria de Agricultura e Abastecimento, especificamente na área de produção de mudas e fruticultura de clima temperado da CDRS.

Silvana, que também é produtora de caqui em sua propriedade, no município de São Bento do Sapucaí, relata a expectativa de uma boa safra de caqui Fuyu para este ano, por isso está investindo em novos nichos, como a venda direta e entrega delivery, bem como no processamento para minimizar as perdas. “A elaboração de produtos com caqui é importante para ampliar a fonte de renda, pois abre outros canais de comercialização. No Estado de São Paulo, já existem casos de cooperativas de produtores que produzem vinagre, considerado de muito boa qualidade, pois o caqui proporciona alto rendimento em mosto para fermentação, e alcançaram novos mercados para a comercialização, reduzindo a um patamar mínimo o desperdício de frutas”.

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