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Agro brasileiro deve assumir liderança internacional da questão ambiental

Durante todo o seu período de campanha nos Estados Unidos, o democrata Joe Biden prometeu que seria firme com as questões ambientais. Recém-eleito presidente, ele já deu sinais de que a pauta ambiental será mesmo um dos alicerces do seu governo. Em seus primeiros dias de mandato ele levou para aprovação um novo pacote de medidas para proteção ao meio ambiente. Vale lembrar que também já está marcado para novembro desde ano, a COP 26, na cidade de Glasgow, Reino Unido, cujo objetivo declarado é o de conclamar os atores internacionais à justamente acelerarem a implementação dos objetivos do Acordo de Paris.

Esta nova realidade acende o alerta para os países cujo setor produtivo ainda não se adaptou completamente aos padrões internacionais de ESG, e o do Brasil, um dos maiores produtores de proteínas e grãos do mundo, está nessa lista. Para não perder espaço no mercado internacional os brasileiros terão que se ajustar e mais do que nunca adotarem o mais alto nível dos padrões de sustentabilidade, tais como a inclusão de certificações e processos de rastreabilidade em seus produtos.

Segundo Claudine Saldanha Cesar Pinheiro Machado (foto), economista, doutora em agronegócios e CEO da boutique financeira Pinheiro Machado, neste primeiro momento, o Brasil vê-se diante de um cenário internacional no qual a exigência de produção no mais alto padrão de práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) assume tons de unanimidade.

Isso porque a nova administração norte-americana vem agora juntar-se à União Europeia no escalonamento das exigências de cumprimento de critérios de sustentabilidade, não somente para as suas importações, mas também para os seus investimentos, ou seja, mesmo a parte financeira terá, cada vez mais, de comprovar seu comprometimento com o mais alto padrão de ESG. A China, por sua vez, maior parceira comercial do Brasil, também já vem dando sinais de que adotará a mesma postura de exigência ambiental, mantida por EUA e União Europeia (EU). “O Brasil, assim, na qualidade de maior produtor e exportador de uma série de produtos, vê-se diante de uma postura praticamente unânime dos demais países com relação à importância de padrões de sustentabilidade para o agronegócio”, destaca.

Já no curto e no médio prazo, essa unanimidade internacional poderá sim impactar na produção e na comercialização do Brasil. De acordo com a especialista, os produtores que se adaptarem mais rapidamente a essas exigências internacionais terão acesso privilegiado a crédito, insumos e mercados. Aqueles que demorarem um pouco mais a reagir perderão mercados e terão dificuldades ainda maiores de financiamento. “O maior erro de análise, aqui, será certamente o de o produtor ou agroindústria individual achar que por esses mercados dependem da produção brasileira, e que, por isso, vão ter que aceitar os nossos padrões de produção, isso é um equívoco. O mercado não funciona no agregado. Funciona negócio a negócio. Assim, o mais provável é que aqueles produtores individuais recalcitrantes percam acesso a mercados e oportunidades, além de verem seus produtos perderem preço. Agora em casos mais extremos de restrições mais duras, esses produtores e industriais resistentes poderão ser, de fato, expelidos do mercado”, ressalta.

Como nos preparar?

Os produtores e industriais brasileiros precisam, antes de mais nada, tomar a decisão estratégica de estar na vanguarda internacional da adoção dos padrões mais altos de sustentabilidade nos seus negócios individuais. Feito isso, a sua operacionalização passa, dependendo do tamanho da organização, pela estruturação de um departamento de sustentabilidade, que pode ou não ser terceirizado.

Esse departamento deverá se ocupar da implementação desses padrões, arregimentando consultores externos para isso. É importante que tanto os membros internos quanto os externos dominem o inglês no mais alto nível, uma vez que se busca adequação a padrões internacionais de sustentabilidade e não apenas aos níveis que normalmente se encontram disponíveis no mercado interno brasileiro. “O produtor ou agroindústria precisará engajar-se diretamente com uma série de atores internacionais, tais como certificadores, provedores de serviço de rastreamento, financiadores, agências de avaliação, entre outros”, ressalta Claudine.

É importante destacar que ainda que a adoção de padrões de sustentabilidade esteja se tornando uma unanimidade internacional, não existe, ainda, um conjunto pré-estabelecido de critérios de aferimento. Existem padrões voluntários que buscam garantir que os produtos não prejudicam o meio ambiente e nem as pessoas envolvidas naquela produção, como proposto pelo Fórum das Nações Unidas sobre Padrões de Sustentabilidade (UNFSS, na sigla em inglês).

Atualmente, na busca por certificações ambientais as exigências variam, principalmente, em dois eixos: industrial e geográfico. Isto é, as medidas a serem adotadas pelos produtores e agroindústrias dependem, primeiramente, do produto em questão e, em segundo lugar, do mercado em que este produto será entregue. “O primeiro passo, é uma tomada de decisão estratégica do comando da empresa para adotar uma política de sustentabilidade. Essa política deverá ser estruturada em três eixos prioritários: ambiental, social e de governança (as três letras da sigla em inglês, ESG – environment, social and governance). A partir daí, deve-se estabelecer planos de metas de curto, médio e longo prazos, com a concomitante implementação de medidas de monitoramento, avaliação e relato”, ressalta a especialista.

O produtor ou agroindústria em questão deverá, no desenvolvimento de sua política de sustentabilidade, trabalhar com certificadoras e agências de avaliação internacionais, especializadas na sua indústria de operação e no seu mercado-alvo. Por exemplo, um produtor de proteína animal ou frigorífico que tenha por meta abrir o mercado europeu, deverá trabalhar com agências européias e, mais importante, com bancos e fundos europeus, adaptando-se aos seus critérios de investimento. Um outro produtor, focado no mercado chinês, por outro lado, deverá buscar adaptar-se aos critérios estabelecidos por agências voltadas para o mercado asiático. “Não existe, assim, uma receita pronta para a obtenção de certificações ambientais. Tudo depende do produto, do mercado e da fonte escolhida de financiamento. O fundamental aqui, de início, é o produtor ter em mente que se trata de uma decisão estratégica global do seu negócio, que necessitará de atenção e acompanhamento constantes. Trata-se não só de um processo de certificação, mas sim de um verdadeiro esforço de internacionalização da empresa”, esclarece a CEO.

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