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Produção familiar vira referência em cafés especiais

Revista Rural 262 / abril 2020 – Espera Feliz é município mineiro de aproximadamente 24 mil habitantes. Está localizado na Serra do Caparaó, numa região cafeeira conhecida como Matas de Minas. E é justamente por causa do café que o município está chamando atenção nos últimos tempos. 

Por vários anos, o café que era produzido em Espera Feliz tinha pouca valorização no mercado, pois era considerado de baixa qualidade. Só que esta história começou a mudar há cerca de 10 anos e o município agora se transformou em referência na produção de cafés especiais. Os cafeicultores de Espera Feliz têm conquistado os primeiros lugares em diversos concursos pelo país. Só no Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais, promovido pela Emater-MG, e que conta com cerca de 2 mil cafés inscritos a cada edição, eles obtiverem os primeiros lugares estaduais nos anos de 2017, 2018 e 2019. 

“Os cafeicultores começaram a se preocupar com a qualidade do café há pouco mais de 10 anos.   Naquela época, o extensionista da Emater no município iniciou um trabalho de conscientização e de melhoria do processo de produção com umas cinco famílias.  Como os resultados surgiram a partir de 2012, vários outros produtores começaram a se preocupar com a qualidade final do café”, explica o extensionista da Emater-MG que trabalha com o programa de certificação de propriedades cafeeiras, Antônio Fernando Teixeira. 

Atualmente, mais de 100 cafeicultores de Espera Feliz produzem cafés especiais. A agricultura familiar é predominante no município. Cerca de 80% dos produtores têm propriedades inferiores a 20 hectares. A maioria usa a mão de obra da família como única força de trabalho na lavoura. Outra prática comum é a troca de serviço entre os agricultores. Neste sistema, eles se reúnem para trabalhar em uma propriedade e fazem um revezamento entre elas. Isto é muito comum, principalmente no período da colheita.  

“Neste sistema de parceria, eles conseguem colher lotes mais uniformes, facilitando o trabalho pós-colheita”, explica Antônio Teixeira. Segundo o técnico da Emater-MG, os cafés são colhidos de forma seletiva e secados em terreiros suspensos ou de cimento. Cuidados que são determinantes para a qualidade do produto final. Além disso, as lavouras de café onde estão os cafés premiados ficam entre mil e 1,4 mil metros de altitude, com clima ameno e úmido. Todos os produtores premiados de Espera Feliz participam também do Certifica Minas Café, um programa de certificação de propriedades cafeeiras desenvolvido pela Emater-MG, em conjunto com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). A Emater–MG orienta os produtores na adequação das propriedades às boas práticas agrícolas em todas as fases da produção, atendendo normas ambientais e trabalhistas, reconhecidas internacionalmente. Ao final do processo, a propriedade passa por uma auditoria para o recebimento da certificação. Mais de 1,1 mil propriedades estão certificadas no Estado. 

O produtor Tarcísio Lacerda plantou a primeira lavoura de café em Espera Feliz em 1972. Ele conta que durante anos vendeu café a preços baixos, pois o café da região era considerado ruim.  Com a ajuda do filho, começou a melhor a qualidade da produção, entender melhor o mercado, se capacitar. “Acabei tendo a surpresa ao ver que a gente já produzia um café bom. Só não sabia disso. E o comércio não nos remunerava pela qualidade”. 

Seu Tarcísio conta que, incentivado pelo filho Jhone Lacerda, começou a acreditar que poderia vender café considerado especial, muito mais valorizado no mercado. A ideia era comercializar o produto diretamente para cafeterias. “Naquela época achava que tudo era um sonho. Mas como o sonho era bonito, eu comecei a sonhar junto. E meu filho começou a fazer cursinho, entender de classificação, de degustação, de tratos culturais. Até que começamos a produzir cafés diferenciados. Em 2012,  a gente comercializou o primeiro saquinho de café direto para uma cafeteria”,  lembra. Para Jhone Lacerda, a participação do Certifica Minas foi fundamental para melhorar a gestão da propriedade. “O Certifica Minas foi o start. Se a gente não tivesse descoberto o Certifica Minas lá atrás, a gente estaria uns três ou quatro anos atrasado. Ele nos ajudou a colocar um preço justo no nosso café, graças a organização que o programa nos ensinou a ter”. 

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