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Cuidados no manejo garantem o bem estar dos cavalos

Nos últimos 20 a 30 anos houve uma maior conscientização sobre a importância da nutrição, manejo e saúde dos equinos, além da interação homem-animal. Se toda engrenagem não estiver em sintonia, o animal pode desencadear estresse e outras mudanças de comportamento, resultando negativamente em seu desempenho. E uma peça fundamental neste jogo são os tratadores, treinadores, além de médicos veterinários, entre outros profissionais. Aliás, é importante esclarecer que não há evidências de disseminação entre cavalos e humanos.

“O coronavírus equino causa doença entérica ou gastrointestinal no cavalo. Não há qualquer evidência que o coronavírus equino represente uma ameaça de transmissão para o ser humano ou que o COVID-19 seja transmitido para eles. Mas, se o tratador, ou qualquer funcionário da propriedade for portador do Covid-19, deve manter distância do ambiente de trabalho para proteger sua vida e das demais pessoas que estejam no mesmo espaço de convivência”, ressalta a médica veterinária e assistente técnica da Guabi, Claudia Ceola. 

As boas práticas de manejo, nutrição e saúde sempre são pilares fundamentais e sinônimos de longevidade em todas as fases do equídeo. Para desenvolver uma boa saúde, é de extrema importância que o animal receba suprimento adequado de energia, proteína, vitaminas e minerais e ter acesso à água limpa e fresca sempre em temperatura ambiente. 

Cada cavalo possui uma exigência nutricional diferente, principalmente, se for atleta. “O animal precisa de cuidados nutricionais específicos para cada fase de sua vida. Em cavalo jovem é muito comum desenvolver doenças ortopédicas que pode ter como causa o rápido crescimento ou o desequilíbrio de energia, proteínas e minerais”, comenta Ceola. 

Existem diversos fatores que contribuem para a formação das doenças ortopédicas: hereditários (genéticos); nutricionais; traumas; exercício físico precoce e/ou em terrenos duros e disfunção hormonal (hipotireoidismo).

Quanto aos fatores hereditários, podemos considerar a raça do animal – as de grande porte apresentam taxa de crescimento maior do que as demais; problemas de conformação; tipo corpóreo; estrutura óssea e massa corporal – que são características transmitidas geneticamente e podem gerar pressão excessiva na placa de crescimento. 

Já o fator nutricional é um dos principais vilões no desenvolvimento das DODs. O fornecimento de dietas ricas em energia acelera a taxa de crescimento do animal e faz com que o processo de diferenciação celular da cartilagem seja insuficiente. Isto provoca falha na ossificação endocondral e deixa a placa metafisária espessada. Além disso, a aceleração do crescimento faz com que os tecidos moles não acompanhem os ossos.

Outro fator importante relacionado à alimentação é iniciar o fornecimento de ração para os potros que ainda são amamentados, no máximo com três meses de idade – nesta fase o leite da égua já não é mais nutricionalmente eficaz e o potro ainda não terá uma perda de peso tão significativa quando for desmamado.

Normalmente, na fase do desmame, o potro tem uma grande perda de peso – que geralmente é compensada com o início do fornecimento ou um aumento da quantidade de ração. Isso faz com que o animal ganhe peso de uma só vez – chamado de ganho de peso compensatório – um dos momentos mais marcantes de início das DODs, pois, além do ganho de peso abrupto, ocorre também um crescimento rápido.

O desbalanço mineral está ligado não só às quantidades dos minerais contidos nas rações, mas também, na sua capacidade de absorção pelo organismo. Muitas dietas contêm níveis adequados de minerais, porém, a digestibilidade é baixa e a quantidade suficiente para a manutenção do animal não está sendo absorvida. Se ele ainda estiver na fase de crescimento há possibilidade de iniciarem alterações no desenvolvimento.

Os principais minerais relacionados às alterações na ossificação endocondral são: cálcio, fósforo, zinco e cobre. O excesso de fósforo na dieta imobiliza a utilização do cálcio pelo organismo e promove sua deficiência. O cálcio é fundamental para o processo de ossificação, logo, sua falta predispõe à DOD. O consumo insuficiente de cobre também é prejudicial à formação óssea, já que este se encontra envolvido na estabilização do colágeno e na síntese de elastina óssea. A sua deficiência pode levar às fisites e contratura dos tendões flexores. A ingestão excessiva do zinco diminui a absorção do cálcio e do cobre, que também está ligado às doenças de desenvolvimento.            

Como evitar erros no manejo

É importante que o tratador crie uma rotina para o animal. Deve dividir a oferta da ração em no mínimo dois tratos diários, sendo no máximo dois kg por trato. Caso receba seis kg por dia, é necessário dividir esta quantidade em três vezes: dois kg pela manhã (às sete horas), dois kg no almoço (às 11h) e dois kg à tarde (às 15 h). Não é recomendado que um cavalo coma mais do que seis kg de ração ao dia. Não deve oferecer farelo de trigo, rolão de milho, milho triturado e aveia, sozinhos ou misturados ao concentrado. Além de serem altamente fermentativos, não possuem os nutrientes devidamente balanceados e podem não só causar cólicas, mas desequilíbrio mineral que gera graves prejuízos aos ossos e articulações.

É importante ter horário para treinamentos, banhos, entre outras atividades. “Esta rotina beneficia tanto o cavalo como o profissional cuidador. Qualquer anormalidade apresentada pelo animal, fica mais fácil de ser observada, inclusive o estresse que é muito comum em animais de baia”, alerta a médica. 

Outro fator muito comum nos animais devido ao manejo errado é a apresentação de cólicas que pode levar à morte do cavalo. As mudanças nos hábitos dos equinos, na forma de vida e no tipo da alimentação que ocorreram com a domesticação só aumentaram os riscos da ocorrência de dores abdominais por fermentações, sobrecargas e impactações que podem levá-los a óbito.

Para poder evitá-las é preciso pensar, primeiramente, na qualidade e na forma de fornecimento da dieta. O ideal é ter sempre o volumoso, seja o capim verde ou o feno, de boa qualidade e a vontade diariamente. Caso a quantidade seja limitada, é recomendável a oferta em torno de 8 a 10 quilos de feno por animal/dia. Não deixe que o cavalo passe mais que sete horas em jejum, para que não tenha gastrites e apetite depravado (ingestão de cama e estrume), ocasionado as indesejáveis cólicas. 

A qualidade do volumoso é fundamental para o bom funcionamento do trânsito intestinal, ou seja, é preciso que o capim ou o feno tenham uma fibra de boa digestibilidade. Deve conter muita folha e pouco talo, pois o cavalo não consegue fazer a digestão da fibra do caule (talo). O ideal é cortar o capim novo, com aproximadamente 15 a 20 cm de altura, para evitar as cólicas por impactação e deslocamentos de alça intestinal.

Quanto ao fornecimento do concentrado, é indicado sempre que seja uma ração formulada para equinos e fabricada com matéria-prima de qualidade. Isso garante uma boa digestão e absorção dos nutrientes. Quanto melhor a ração, maior é o aproveitamento e menor é o consumo do produto, o que diminui o risco de causar distúrbios digestivos por possuírem o estômago pequeno. 

Outro fator relacionado ao manejo é manter água limpa e à vontade diariamente. Os cavalos têm o hábito de beber água imediatamente após ingerir a ração, e, caso não tenha disponível ou esteja em cocho sujo, a ingestão não acontecerá e o animal poderá apresentar cólica. O fornecimento do sal mineral diariamente, além de ser importante para garantir o suprimento das exigências do animal, também evita a ingestão de terra, areia ou estrume que podem ocasionar as dores.

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