Opinião

Logística no Agro: frota própria ou terceirização?

Por Robinson Cannaval Junior* – A competitividade do transporte de cargas é um dos temas mais estratégicos do agronegócio. Mudanças recentes na legislação e na tecnologia trazem novas oportunidades e perguntas para o setor: entre elas, qual modelo mais adequado para o meu negócio, a terceirização ou a frota própria? Para uma conclusão, é preciso analisar a logística no setor agro brasileiro. O transporte de cargas em nosso país ainda é uma dificuldade, principalmente quando falamos de agronegócio, em que são transportados produtos perecíveis e muitas vezes delicados.

O Brasil possui uma matriz de transporte inadequada quando comparada a outros países continentais. De acordo com dados do Ministério dos Transportes (2015), as rodovias são responsáveis por 58% do transporte de carga, enquanto as ferrovias ficam com 25% e as hidrovias com 17%. A competitividade do agronegócio é altamente impactada pela dependência do modal viário aliado à precariedade das estradas no país, que colabora para o aumento de perdas e custos de manutenção.

O custo dos transportes é particularmente relevante para os resultados nos setores do agronegócio e florestal, exigindo atenção dos produtores. O caráter sazonal da produção coloca desafios especiais à logística do agro: ociosidade da frota própria na entressafra x aumento dos custos de fretes na época da colheita. Poucos produtores adotam o modelo de frota 100% própria e a terceirização é o modelo mais utilizado nas empresas agro no país.

Contudo, recentemente o uso de transportadoras e de autônomos foi colocado em xeque pelas empresas agro por uma série de fatores, dentre os quais podemos citar: a greve dos caminhoneiros em 2018, o tabelamento dos fretes, as pressões dos motoristas autônomos, o custo dos combustíveis e as incertezas sobre as políticas públicas.

Tendo em vista esta alteração de cenário, algumas empresas estão reagindo, seja buscando novos modais de escoamento da produção ou aumentando suas frotas próprias. Outras aguardam a decisão final do STF sobre a tabela de fretes para decidirem seu modelo de transporte.

Ao criar a tabela de fretes, em maio de 2018, o governo atendeu a uma das principais reivindicações da categoria dos caminhoneiros, mas introduziu ineficiências e incertezas ao transporte rodoviário brasileiro. Após um ano e meio de vigência, ela corre o risco de não agradar a ninguém, nem mesmo à categoria que a reivindicava. Segundo estudo da Universidade Federal do Rio Grande, a receita dos caminhoneiros autônomos recuou 20% por conta do tabelamento.

Além do descontentamento dos caminhoneiros, a manutenção da tabela poderá levar a uma onda de primarização do transporte no agro. E esse será ainda um cenário desconhecido para muitos produtores. Será necessário avaliar – e muito bem – os custos que isso poderá implicar na ponta final da cadeia.

Outro fator de impacto na logística para o agro é a tecnologia. Tecnologias digitais podem oferecer parte da solução para a relação complexa entre embarcadores e transportadores e obterem o sucesso que o tabelamento não conseguiu. Empresas startups vêm lançando marketplaces para a intermediação de cargas e disputam a posição de “Uber dos caminhões”, prometendo otimizar a contratação de fretes. Essa já é uma realidade em países como os Estados Unidos e que já chegou ao Brasil.

Várias são os benefícios apresentados pelos marketplaces: é possível avaliar tanto embarcadores quanto autônomos como nos aplicativos de carona, a escolha do transportador é feita por algoritmos que levam em consideração o tipo de carga, adequação do equipamento e perfil; há a precificação dinâmica, equilibrando oferta e demanda; permite a redução da ociosidade do transporte e a redundância de ativos, entre outros. Além disso, assim como no caso do transporte de passageiro, há rapidez na contratação, possibilidade do rastreamento da carga e a diminuição da burocracia.

A definição, a implementação e a operação corretas do modelo de transporte de cargas podem ser decisivas para o sucesso do seu negócio e não existem soluções “de prateleira”. É preciso que o produtor esteja atento e coloque na balança custos e benefícios de se optar pela frota própria ou terceirizada. E o essencial é ter em mente que o que serve para um não é necessariamente o mais apropriado para o outro.

(*) Robinson Cannaval Jr é Sócio fundador e diretor do Grupo Innovatech, Diretor executivo da Innovatech Consultoria, Formado em Engenharia Florestal pela ESALQ/USP, com especialização em Gestão estratégica de Negócios pela Unicamp e MBAs em Finanças e Valuation pela FGV.

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