Tecnologia

Integração tecnológica

Sementes geneticamente modificadas ou que conferem resistência a doenças são cultivadas num solo onde há menos pressão de patógenos, a partir de técnicas de monitoramento do controle e pragas e doenças. Esse quadro resume bem o que pesquisa trouxe de ferramentas tecnológicas para a garantia de uma lavoura saudável.

A soma de uma genética capaz de superar determinadas pragas, doenças e até mesmo herbicidas, com o estabelecimento de plantio numa época adequada num solo de menor pressão de patógenos, e, ainda, com o monitoramento da lavoura e aplicações de defensivos seletivos garantirá uma lavoura protegida e que poderá render mais por menos área.

A área da pesquisa e desenvolvimento de produto tem servido o produtor com inúmeras opções que servem como um verdadeiro pacote tecnológico para a alta de rendimentos e produção na hora da colheita.

Sistematicamente, a área da pesquisa destaca na publicação Tecnologias de Produção de Soja, Região Central do Brasil 2012 e 2013, as tecnologias existentes como o sistema regional de conservação do solo em microbacias, calagem e adubação, cobertura vegetal do solo, processos de cultivo (preparo do solo, época e densidade de semeadura, cultivares adaptadas, qualidade e tratamento de sementes, população de plantas, e controle de plantas daninhas, pragas e doenças), semeadura direta e integração de sistemas de produção, como pecuária ou silvicultura. A publicação foi o resultado da 32ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB), realizada em São Pedro (SP), em agosto de 2011.

Genética a toda prova

Atualmente estão dispostas ao produtor brasileiro 1.017 cultivares de soja cadastradas no Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na RPSRCB é dedicado um espaço à discussão das novidades e lançamentos que devem entrar no mercado. Em geral, são apresentados os resultados das cultivares que podem servir de referência ao produtor na tomada de decisão no planejamento da safra.

Cultivares melhoradas, portadoras de genes capazes de expressar alta produtividade, ampla adaptação e boa resistência e (ou) tolerância a fatores bióticos ou abióticos adversos, representam usualmente uma das mais significativas contribuições à eficiência do setor produtivo. O ganho genético proporcionado pelas novas cultivares ao setor produtivo tem sido muito significativo – cerca de 1,38% ao ano, segundo pesquisas saídas da RPSRCB.

Uma das ferramentas tecnológicas que promete destaque nos campos do País é a atualização da variedade transgênica da Monsanto, a soja Intacta RR2 Pro, que confere resistência a insetos e tolerância ao herbicida a base de glifosato. A variedade foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em agosto de 2010. Além do Brasil, a nova soja também já está aprovada em diversos países, como os Estados Unidos da América, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Colômbia, México, Filipinas, Tailândia, Taiwan, Argentina, Japão e Coreia, além da União Europeia.

Na linha de melhoramento convencional, as cultivares BRSGO 7560, desenvolvida pela Embrapa Soja em parceria com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás (Seagro), e a soja Inox, obtida por pesquisas da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) e da empresa Tropical Melhoramento Genético (TMG), já estão a disposição do produtor e conferem certa resistência à ferrugem asiática. Ambas as cultivares não são 100% imunes ao ataque do fungo Phakopsora pachyrhizi em função da multiplicidade de raças que este pode ter, no entanto, o que os estudos indicam é que a economia em aplicações pode cair pela metade.

Tanto no campo convencional e também transgênico, as empresas de biotecnologia têm feito um trabalho de associar demais características de resistência e (ou) tolerância a doenças como o cancro da haste, mancha olho-de-rã, oídio, podridão parda da haste, podridão radicular de fitóftora, mosaico comum da soja, vírus da necrose da haste, nematoide de galha (Meloidogyne incognita ou Meloidogyne javanica) e nematoide de cisto. O material BRS 282 da Embrapa, por exemplo, é resistente ao cancro da haste, mancha olho-de-rã, podridão parda da haste e aos dois tipos de nematoide de galha. A variedade é adaptada ao oeste, norte e noroeste do Paraná, ao médio Paranapanema, sudoeste, centro-sul, oeste e norte do Estado do São Paulo, e ao sul, centro-sul e sudoeste de Mato Grosso do Sul. Ao associar as doenças que mais ocorrem na região, com base no que há de variedades que possam conferir resistência a doenças, o produtor poderá planejar quais as cultivares que mais vão garantir o sucesso da lavoura, e integrá-las mais manejos e técnicas que possam assegurar a produção.

De posse de tantas opções de genética, cabe ao sojicultor selecionar também as sementes de melhor qualidade no mercado. “Hoje está comprovado que o uso de semente de alta qualidade aumenta realmente a produtividade”, atesta Plínio Itamar de Mello de Souza, pesquisador da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), e membro do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB). “São tecnologias que estão dispostas aí no mercado. Outro fator importante também e que noto que tem sido dada pouca importância é a densidade de plantio, ou o estabelecimento de maior população de plantas por área. Quando há diminuição disso, do que é efetivamente descrito e recomendado, há perda de radiação solar, porque o que dá produtividade à planta vem justamente do sol. Se houver falhas na lavoura, a radiação que incide no solo significa uma perda de energia que poderia ser aproveitada por mais plantas”.

Associado a essa característica, a técnica de plantio cruzado tem mostrado que justamente a alta densidade de plantas promove uma significativa alta na produtividade, numa lógica de proporção – quanto mais plantas por hectare, mais grãos pela mesma área. De acordo com o pesquisador, a técnica realmente se torna inviável para áreas grandes – sendo possível ser aplicada até no máximo em dez hectares. No entanto, é partir dela que poderá se encontrar o caminho para a melhoria da produção da soja no País.

Solo saudável e forte

Dois aspectos positivos que se pode falar quanto à saúde e produtividade do solo mora justamente na adoção das técnicas de rotação de culturas e no sistema de plantio direto (SPD). A rotação de culturas, processo de cultivo para a preservação ambiental, influi positivamente na recuperação, manutenção e melhoria dos recursos naturais. Viabiliza produtividades mais elevadas, com mínima alteração ambiental, além de preservar ou melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo e auxiliar no controle de plantas daninhas, doenças e pragas. Além disso, repõe restos orgânicos e protege a terra da ação de agentes climáticos ajudando a viabilização da semeadura direta e seus efeitos benéficos sobre a produção agropecuária e o meio ambiente como um todo.

Grande parte do manejo com nematoides tem de ser feito associado com um sistema de rotação que seja antagônico à espécie do patógeno que se queira diminuir, por exemplo. Isso influirá num controle eficaz, aliado a controles químicos já dispostos no mercado, como o tratamento de sementes Avicta Completo, da Syngenta, que possui um efeito nematicida na fórmula.

Já o SPD se caracteriza por ser um sistema de produção conservacionista, que se contrapõe ao sistema tradicional de manejo. A regra está em quanto menos se revolver o solo, melhor, a partir da própria ausência de preparo dele e na cobertura permanente do terreno pela realização de rotação de culturas. Isso permitirá o maior depósito de matéria orgânica que fortalecerá também os aspectos físicos, biológicos e químicos da área, evitando erosões e desperdício de fertilizantes, e ainda, garantindo maior retenção de água no extrato – todos requisitos importantes para o estabelecimento e manutenção da lavoura.

Controle químico

O tratamento de sementes e o controle de pragas e doenças passam necessariamente por via de aplicação de defensivos agrícolas através de pulverizações. “A utilização das tecnologias disponíveis hoje, se bem utilizadas, é uma vantagem muito grande quer seja na parte de pesticidas, quer seja de manejo da própria cultura como um todo”, afirma Souza. “No entanto, é importante que o produtor considere a compatibilidade dos produtos se forem aplicados conjuntamente, como, por exemplo, um herbicida, um inseticida e um fungicida”.

A preocupação recai sobre a interferência que um composto poderá ter sobre o outro que estará junto na calda a ser aplicada na lavoura. De acordo com o pesquisador da Embrapa, se não houver essa compatibilidade, os defensivos correm o risco de perderem o efeito, ou até, num efeito de sinergia, tornarem-se mais potencialmente tóxicos.

A recomendação é que o produtor busque um apoio técnico especializado para que sejam feitas essas análises de compatibilidade dos defensivos para não prejudicar o desempenho do controle químico. Esse trabalho também deve ser preconizado com produtos mais seletivos, ou seja, que apenas eliminem as pragas específicas, sem dizimar os inimigos naturais de outras espécies, que também podem estar presentes na área da plantação.

Outra recomendação é que se faça o monitoramento das pragas para fazer a aplicação num momento mais adequado de controle. Se a pulverização for feita tardiamente, por exemplo, a técnica se tornaria mais onerosa e o risco de perda de produção seria maior, dado o nível de infestação.

No caso de lagartas desfolhadoras (Anticarsia gemmatalis e Pseudoplusia includens), elas devem ser controladas quando forem encontradas, em média, 20 indivíduos grandes (maior que 1,5 cm) por um metro (uma fileira de plantas), ou em menor número se a desfolha atingir 30%, antes da floração, e 15%, tão logo apareçam as primeiras flores.

O controle do percevejo deve ser iniciado quando forem encontrados dois adultos ou ninfas com mais de 0,5 cm por metro. Em campos de produção de sementes, o nível deve ser reduzido para um percevejo por metro.

Para a broca das axilas, a lavoura tem de ser tratada quando apresentar em torno de 25% a 30% de plantas com ponteiros atacados. No caso do tamanduá-da-soja, o manejo se dá com um adulto por metro, para plantas até o V3 e dois adultos por metro para plantas de V4 a V6. Já para as lagartas-das-vagens, o recomendado é fazer o trato fitossanitário a partir de 10% de vagens atacadas.

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