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Especialista ensina como construir solos produtivos

Por Dorotéia Alves Ferreira* – Pesquisas no âmbito da ciência do solo têm como hipóteses de trabalho, relações do ambiente que possibilite a maior expressão do potencial genético das culturas implantadas. Há algumas décadas, o cuidado com o ambiente solo, visando o melhor resultado produtivo das culturas, estava centralizado basicamente no conhecimento de aspectos da química para fins de fertilidade do solo. Isto aconteceu principalmente, devido ao momento de abertura e expansão de áreas para a produção agrícola, e ao maior conhecimento desta área de estudo.

No entanto, a evolução das técnicas de manejo (Sistema de Plantio Direto-SPD, Integração Lavoura-Pecuária – ILP, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – ILPF, cultivo mínimo, entre outros) que podem ser inseridas no sistema de produção e a necessidade recorrente de produzir com sustentabilidade econômica e ambiental, o que não condiz com a abertura desordenada de novas áreas, demonstram que esta visão pontual de solo produtivo não deve perdurar.

A compressão a cerca da complexidade e heterogeneidade do sistema solo possibilita a inserção de manejos que resultem em construção do ambiente produtivo. Neste sentido, são importantes as questões relacionadas à aptidão agrícola de determinado solo, as necessidades de inserção de técnicas voltadas à conservação de solos (terraços, culturas de cobertura), visando conter a erosão, consequentes perdas de solo e degradação da qualidade. As exigências ambientais e nutricionais da cultura que será implantada também devem ser levadas em consideração.

Por exemplo, em ambientes restritivos, do ponto de vista de manutenção de umidade no solo, pode-se pensar na irrigação quando a declividade e o local de captação de água são favoráveis. Além de ser importante a implementação de um manejo de culturas que mantenha os resíduos de plantas na superfície, intercalando as culturas com relação ao equilíbrio da relação C/N, o que possibilitará menores perdas por evaporação, impacto da gota de chuva, erosão laminar, e aumento da atividade biológica do solo. Nestes ambientes o mais indicado em um primeiro momento, seria a implantação de plantas com sistema radicular profundo e com massa de raízes considerável, como as gramíneas.

Portanto, é fundamental para construir um solo produtivo conhecer as características e propriedades do mesmo, suas relações com o ambiente (precipitação e temperatura), além de necessidades do ponto de vista genético, características funcionais e morfológicas das culturas implantadas.

A constituição do solo, após os processos químicos, físicos e biológicos de intemperismo da rocha, pode ser acessada pelas diversas formas de avaliação direcionadas aos componentes químico, físico e biológico.

O componente químico demonstra basicamente a condição nutricional do solo, com relação a quantidade de cátions e ânions, concentração de Al e H, micronutrientes, matéria orgânica, pH do solo e capacidade de troca catiônica ou aniônica. A análise química é primordial para a recomendação de adubação de construção ou manutenção da fertilidade do solo. A física do solo fornece uma visão referente às proporções de areia, argila e silte, possibilitando o conhecimento da sua classe textural. Avaliações a cerca da resistência a penetração e densidade do solo, que são indicativos de compactação, e a distribuição de agregados (macro, meso e micro agregados), também são informações relevantes no contexto físico.

Com relação à biologia do solo, por muito tempo o foco foi conhecer os grupos específicos de determinados patógenos. No entanto, com o advento dos indicadores biológicos de qualidade e saúde do solo, o acesso do componente biológico ganha uma visão funcional do sistema. Isto devido ao conhecimento referente à enorme biodiversidade presente nos solos (milhares de espécies microbianas/grama de solo), e ao potencial funcional do microbioma, que demonstra quando determinada prática ou manejo impacta de forma negativa ou positiva na qualidade biológica do sistema.

As funções que ocorrem relacionadas à química, física e biologia do solo, e desenvolvimento vegetal, demonstram o enorme potencial que a biologia do solo tem em melhorar o sistema produtivo. As formas de avaliação e acesso a estas informações estão em constante aperfeiçoamento e disponíveis em alguns setores de análises. Sendo importante avaliar em diferentes situações de solo, plantas cultivadas, manejos diversos, condições climáticas e ambientais, pois são responsivas a todos estes parâmetros.

Em síntese, verifica-se que o termo ‘solo produtivo’ mesmo sem uma definição exata, nos remete a uma imersão de aspectos agronômicos que são dinâmicos no sistema de produção. Reforçando a importância de melhor compreensão do potencial das funções biológicas como aliado do produtor, tendo em vista as respostas positivas em diversos solos e culturas, em se tratando de um indicativo de práticas de manejo benéficas ao ambiente de produção agrícola.

(*) Dorotéia Alves Ferreira, Engenheira Agrônoma, Doutora em Solos e Nutrição de Plantas e Gerente de Produto da Fertiláqua

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