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Cooperação entre Brasil e França visa desenvolvimento do campo pela pesquisa científica

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e o Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional (Cirad) assinaram, no mês de abril, um memorando de entendimento sobre cooperação científica e técnica.

O objetivo do acordo entre as instituições do Brasil e da França é promover atividades de pesquisa nas áreas dos recursos hídricos, ciências agronômicas, ambientais e sociais em parceria e o acolhimento e/ou intercâmbio de pesquisadores e estudantes dos mais diversos níveis (graduação, mestrado e doutorado).

“O grande objetivo é intensificar os estudos nas áreas afins. Ao longo de sua história, a Funceme já realizou e vem realizando parcerias com diversos países, incluindo a própria França. Estamos buscando olhar os problemas do semiárido de forma interdisciplinar, trazendo informações da ciências sociais e físicas, por exemplo, além de observar o comportamento dos cenários que são semelhantes, mas sob a ótica da população e de pesquisadores do local. Os problemas nas regiões semiáridas são os mesmos, mas com contextos diferentes”, ressalta o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Rodrigues.

O acordo prevê que o acolhimento de pesquisadores se dê pela participação em conferências, cursos de formação propostos pela instituição anfitriã, bem como atividades de ensino e pesquisa em parceria.

“Há uma série de grandes temáticas que nós estamos desenvolvendo já há cerca de 20 anos em parceria com a Funceme. Esta assinatura marca um reforço para esta cooperação visando áreas como a gestão dos territórios e dos recursos hídricos, a agricultura familiar e a resiliência. Há ainda outros temas mais técnicos que visam encontrar as melhores soluções para o desenvolvimento no campo”, explica o pesquisador francês do Cirad, Julien Burte, que ficará na Funceme até, pelo menos, o fim do ano de 2020.

Burte, que já desenvolveu estudos em Quixeramobim, município localizado na macrorregião do Sertão Central e Inhamuns, adianta que os trabalhos visam o Ceará em sua globalidade, porém, a área da Bacia do Jaguaribe é o ponto de partida de forma regionalizada. Nesta área está localizado o açude Castanhão, principal reservatório do estado, que beneficia mais de 80 municípios.

“Os estudos terão desdobramentos em todas as regiões, dependendo de como eles poderão subsidiar o desenvolvimento da agricultura, recursos hídricos e meio ambiente. Apesar do acordo ser de 5 anos e isso já mostra o compromisso entre as intuições. Porém, Funceme e Cirad, além da Universidade Federal do Ceará, já vêm trabalhando há cerca de 20 anos. Então, a gente [Cirad] vem com uma perspectiva de longo prazo”, reforça o estudioso francês.

Primeiros contatos

Logo após a assinatura do acordo, representantes do Cirad e pesquisadores da Funceme realizam uma visita técnica em áreas dos municípios de Quixadá, Quixeramobim e Russas. A programação incluiu a apresentação de projetos de pesquisa de estudantes recém-formados e de outros que estão desenvolvendo pesquisas de mestrado e doutorado.

“É tudo muito interessante. Apesar de nós não termos conversado antes sobre tais pesquisas, observamos que temos os mesmos valores e posicionamentos. Esta parceria, que já vem de longo tempo, vai contribuir para observamos os principais problemas do semiárido e buscarmos uma abordagem cada vez mais sólida”, diz o presidente-diretor do Cirad, Sylvain Perret.

Presente na missão franco-brasileira no interior do Ceará, o diretor regional do Cirad no Brasil, Jean-Luc Battini, ressalta que o interesse da Funceme em colaborar com os países africanos nesta cooperação internacional e, principalmente, com aqueles que já são parceiros do Cirad, é muito importante para o desenrolar das pesquisas fora do Brasil.

“Não se trata de pesquisa por pesquisa, somente para acumular papel, mas sim do impacto sobre o desenvolvimento sustentável que envolve esses países parceiros”, destaca o gestor do órgão francês.

Xavier Augusseau, diretor da unidade Territórios, Ambiente, Sensoriamento Remoto e Informação Espacial (Tetis), que também faz parte do Cirad, cita que a convergência entre as políticas públicas do estado com as pesquisas da Funceme e o saber do homem do campo pode ser um elemento chave para o desenvolvimento desta e de novas parcerias, além de inovações para a agricultura.

“Vimos, durante visita ao campo, que os esforços devem concentrar-se nos mais diferentes atores, pois os desafios também são partilhados. No estado de Pernambuco, por exemplo, há um projeto onde o produtor é o próprio produtor de conhecimento, a partir do seu olhar. A pesquisa pode trazer mais e mais respostas para o campo. Aqueles que têm maior capacidade de inovação podem passar para outros e assim sucessivamente”, comenta Augusseau.

AInda sobre a troca de conhecimento com os camponeses, o presidente-diretor do Cirad, Sylvain Perret, destaca que, muitas vezes, o agricultor não acredita no conhecimento científico por estar longe de sua realidade, sendo importante trazê-lo para seu cotidiano.

“Quando o conhecimento é produzido dentro do seu ambiente e pelos atores deste processo, eles tendem a se sentirem mais participantes. Isso deve fazer parte das políticas públicas’, afirma Perret.

Próximos passos

A observação da realidade do campo do Ceará já foi o primeiro passo do acordo de cooperação entre Funceme e Cirad. O trabalho dos pesquisadores segue em andamento e, nos próximos meses, os primeiros resultados devem ser apresentados. Além disto, os gestores de ambas instituições preparam novos encontros ainda em 2019.

“A ausência de informação por parte dos agricultores é um dos principais desafios a serem superados, pois ainda há muitos fora deste ciclo de conhecimento. Porém, a pesquisa não trará resultados sozinha, afinal, ela não pode fazer tudo. É preciso harmonia e, uma das coisas, é justamente levar aos agricultores a partilharem de uma visão conjunta para se chegar aos melhores resultados”, complementa Perret.

Por fim, Battini acredita que a força do sertanejo também pode ser uma “mola propulsora” para o desenvolvimento sustentável, afinal, resiliência faz parte de sua rotina.

“A capacidade de resiliência dos camponeses do Ceará e como sobreviveram até hoje, principalmente após anos seguidos de seca é muito emocionante. Todos eles acreditam muita na Funceme e isso corrobora para realizarmos pesquisas no semiárido”, finaliza o diretor regional do Cirad no Brasil.

Foto: Juliana Lima

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