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Imune as incertezas

Quadragésima primeira da Expointer fecha com balanço positivo, mesmo em meio ao cenário conturbado da política nacional.

A Expointer 2018 apresentou números superiores em relação ao volume de vendas do ano passado, fato que é celebrado por todo setor do agro, uma vez que em meio a corrida presidencial e as incertezas no mercado que ela gera, os produtores tendem a estar mais receosos na hora de “tirar a mão do bolso”. Segundo dados oficiais da organização da feira, o total de negócios foi de R$ 2,3 milhões, valor 13% superior ao ano de 2017. Um dos principais segmentos no evento, máquinas e implementos agrícolas, comercializou R$ 2.284.813.575,33, montante 18,8% superior à última temporada. Já uma das atrações mais visitadas e queridas no parque de exposição, o Pavilhão da Agricultura Familiar vendeu 40,3% a mais, alcançando a marca de R$ 4 milhões. Mas não só de bons números e clima favorável viveu a feira neste ano. Com a corrida eleitoral mais ativa do que nunca, as empresas puderam sentir que seus clientes optam, por vezes, dar uma “segurada na carteira” ao invés de sair gastando e comprando máquinas e implementos. Alexandre Guerra, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (Sindilat), comenta que a insegurança que há devido a política, deixa todos os empresários com investimentos travados, seja na indústria ou o próprio produtor, além do alto índice de desemprego que o País registra. “A expectativa é que passando as eleições, esse cenário mude com a economia crescendo, e possamos aproveitar as milhões de pessoas que moram no Brasil e que consomem os produtos da área de laticínios”, diz.

“De forma geral, a corrida eleitoral não atrapalhou nossa venda durante a feira, e digo que fomos até melhores do que a Expointer 2017, o que vem de encontro com essa agricultura que não para e não deixa de crescer”, diz Jak Torreta, diretor de operações da Mahindra Brasil.

Para Ronaldo Pereira, gerente nacional de vendas da LS Tractor o produtor rural é um empresário, e hoje no Brasil ele tem inseguranças na hora de investir devido a tudo que o País está vivendo. “Nós da LS estamos vindo na contramão disso, crescendo em 2017, 50% em relação ao ano anterior, e nesse ano 30% em relação ao mesmo período, além de que o mercado está parecido com o ano passado”. Pereira não crê que a corrida eleitoral impacte nas vendas, e sim a taxa de juros. “Recentemente foi lançado o novo Plano Safra, que manteve os 7,5% do Moderfrota, e caiu o Mais Alimentos que é o grande responsável por essa arrancada da LS”. Segundo o executivo, 60% das vendas da companhia é em cima deste programa. “É o grande sustentador do nosso volume de vendas, o que nos fortalece, uma vez que temos produtos especificados para o setor”, completa. Percebe-se que a atividade da produção do setor primário vem evoluindo ano após ano e o produtor tem procurado ser cada vez mais cauteloso e profissional na hora de decidir pelo seu investimento. Ele faz comparações e cálculos efetivos, principalmente para avaliar quanto o investimento gera de renda para ele. Por outro lado, na parte de custeio, Gerson Seefeld, diretor executivo da central Sicredi Sul e Sudeste, diz que a entidade vem seguindo sua trajetória e pela ocasião do Plano Safra, colocou R$ 16,2 bilhões a disposição dos associados, de maneira que pretende expandir as atividades, com compromisso de financiar a produção e os investimentos dos produtores. “Estimulamos a “agro-industrialização”, as novas tecnologias, além de sermos indutores e apoiar as unidades produtivas dos associados e das entidades”, declara.

Quanto ao cenário da feira, para Seefeld, na Expointer o agricultor vem procurar fazer análise e comparativos entre expositores, tipos de máquinas e soluções que ele busca para sua propriedade. “Além disso, o produtor utiliza tais eventos para tomar as decisões e nossa missão é ceder crédito, o que acaba acontecendo num período pós-feira. Então, independentemente das questões eleitorais, a feira vai continuar tendo esse papel estratégico para o nosso associado”. Já Eduardo Luís Tomé, gerente comercial do Banco DLL, declara que para feira o banco trouxe uma linha de crédito a juro fixo para os cerealistas, uma vez que ela ainda não existe por parte do governo. “Então hoje atendemos está que é uma parte grande do mercado de armazenagem no Brasil, e que com este juro fixo irá poder trabalhar com mais segurança no seu dia a dia”. Mesmo assim, o executivo diz que não só durante o evento tem visto um desconforto por parte dos produtores e fabricantes devido ao cenário político. “Isso já vem desde a greve dos caminhoneiros, depois ficamos na expectativa do novo Plano Safra e agora as eleições. Ou seja, é uma série de fatores que atrasam o campo, o que não é bom para ninguém dentro da cadeia”, comenta.

Para não se deixar atrapalhar pelo momento, Tomé diz que é preciso fazer acontecer e não se pode ficar esperando este momento passar. “E nem mesmo o agricultor tem paciência de esperar, porque é lucro que se vai pelo ralo em sua propriedade”. Dessa forma, para o banco, este cenário pode atrapalhar na hora de fechar negócios e conquistar clientes num evento, como é a Expointer, por exemplo. “Porém, na nossa faixa maior de clientes, que são os pequenos produtores, não impacta diretamente, mesmo que todos estejam preocupados principalmente ao que tange preço das commodities”, declara. Voltando ao setor de maquinários, Jak Torreta, diretor de operações da Mahindra Brasil diz crer que quando o produtor tem que fazer um alto investimento num momento de mercado e cenário como este em que vivemos, há um “pé atrás”, para ver onde e de que maneira investir. “Só que o agricultor tem que plantar, cuidar do que está plantado, colher, e tudo mais que a lavoura necessita dele. Então, independentemente de quem entre no poder lá em Brasília, o agro não para”. De qualquer forma, segundo ele, espera-se espera que o próximo presidente venha dar suporte ao agricultor em termos de disponibilidade de financiamento, os preços agrícolas, porque isso trará condições de investimento por parte do homem do campo.

“De forma geral, a corrida eleitoral não atrapalhou nossa venda durante a feira, e digo que fomos até melhores do que a Expointer 2017, o que vem de encontro com essa agricultura que não para e não deixa de crescer”, diz Torreta. Para ele, isso serve para toda a temporada, e não apenas para um evento ou outro. “Todo segmento de máquinas depende muito das linhas de financiamento, das taxas de juros. Então as regras são mais importantes do que qualquer ano eleitoral”. E por falar de linhas e taxas, o executivo comenta que chega até a ser complicado ter o Plano Safra, pois antes dele tudo para e o agricultor analisa como serão as condições de seus investimentos em relação a juros, taxas e aporte financeiro. “Isso aconteceu neste ano, com mercado bem retraído até o anúncio do Plano, e depois deste anúncio notou-se que não mudou muita coisa no papel, e os investimentos voltaram a acontecer, uma vez que são necessários para o dia a dia do trabalho rural”, declara.

Saúde animal

Não são apenas os bancos e empresas de máquinas agrícolas que analisam se o momento eleitoral tem sido negativo para a realização de negócios durante eventos como a Expointer. Porém, no setor de saúde animal, diretamente ligado à produtividade e qualidade da carne consumida no Brasil e no mundo, vê-se que os pecuaristas querem estar à parte deste momento, continuando a produzir mais e melhor. Pablo Paiva, gerente de produto da Zoetis, diz que as questões políticas de eleição afetam de certa maneira a todos os brasileiros, agora, a pecuária e o agro estão descolados dessa questão. “Observamos um certo medo nesse ano, pois ninguém sabe o que vai acontecer, e mesmo assim os investimentos dos pecuaristas não param. Estamos num momento bastante importante para o setor, que simboliza esta força do segmento”. Segundo ele, foi possível observar que diversos clientes foram ao estande da empresa durante a feira, e todos se mostraram preparados para a sequência de 2018 e do que vem de novidade para o País para os próximos anos. “De forma geral, digo que se observa a questão política, mas não se deixa que ela interfira nos negócios, uma vez que o calendário da pecuária é extenso e ativo”. O gerente comenta que a companhia não pensa na questão de ano eleitoral em seu dia a dia, uma vez que o pecuarista, a tecnologia e levar informação são os focos da marca, o que deixa indiferente o planejamento de ano que tem eleição para aqueles outros que não tem. Na Boehringer Ingelheim Saúde Animal percebe-se que a incerteza política traz a dúvida, mas a companhia aproveitou a Expointer para acalmar os ânimos e ver que seus parceiros e principais clientes, apesar da turbulência, estão focados em produzir. “O agronegócio passa por um momento diferente e vai continuar passando, pois, o pecuarista precisa seguir lucrando e vendendo”, declara Nivaldo Grando, diretor de grandes animais da empresa. Segundo o próprio relata, durante as conversas com estes parceiros, a incerteza sem dúvida vira pauta, mas sabe-se que quem quer produzir está olhando a produtividade, capacidade de inovação e como superar os problemas. “É isso que a empresa preza junto deles, trazendo produtos e serviços inovadores”.

Um exemplo disso é a meta de crescimento de faturamento que a Boehringer tem para este ano no segmento de grandes animais. “Tínhamos meta de crescer 25%, e no primeiro semestre, que já está fechado, ficamos com 26%. Ou seja, 1% a mais do esperado, o que aponta que este foco no pecuarista é a chave para passar por qualquer momento instável que o País possa atravessar”, diz Grando.

Seguindo a mesma linha de análise e pensamento, Emerson Botelho, gerente de produtos ruminantes da MSD Saúde Animal, diz que o agronegócio é uma área que continua bem apesar da crise. “Claro que sentimos o reflexo dela, mas o setor é a grande fortaleza do Brasil e vamos seguir com este potencial que temos de produzir mais alimentos”, diz. Nesse sentido, os produtores vêm e seguem fazendo o trabalho de investimento, pois isso se intensifica cada vez mais, uma vez que o objetivo é ter produtividade maior, e sem investir em tecnologia e protocolo sanitário bem feito, isso fica mais distante de acontecer.

“Nesse ano não tivemos nenhum impacto direto das eleições em nosso trabalho, mesmo que nas conversas percebemos o envolvimento por parte dos clientes”, declara o gerente. Para ele, a empresa está a parte disso, e segue tocando seus trabalhos com foco na produtividade do pecuarista. “Esperamos para o ano que vem seguir produzindo, com oportunidades para todos os produtores, com alimentos para a população em um ambiente seguro para ele trabalhar”. Já para Marcelo Bulman, gerente geral da Biogénesis Bagó, esta edição da feira foi um pouco diferente para a empresa, pois apresentou os resultados de tudo aquilo que comunicou na edição de 2017, em relação aos investimentos de mais de R$ 30 mi aqui no Brasil. “Trouxemos novidades, e apresentamos os resultados do programa Na Estrada, que foi a grande aposta da empresa neste ano para estar mais perto do produtor rural, levando produto de qualidade, com serviço e profissionalismo”, declara.

Mesmo assim, o executivo revela que tinha dúvidas quanto ao comportamento do mercado veterinário neste ano eleitoral, que automaticamente afeta no econômico e social. “Vemos hoje que o produtor continua apostando no Brasil. Fazemos parte da cadeia da carne como destaque mundial, então, acreditamos que as in-certezas podem causar algum impacto, mas nada que vá mudar quanto a utilização dos produtos veterinários”, diz. Bulman ressalta que sanidade animal é um dos pilares básicos da produção, junto com genética e nutrição. “Ou seja, é necessário investir para se ter lucros no final da cadeia”.

Do passeio ao investimento

As empresas se mostram otimistas em relação às eleições que estão por vir, com números expressivos de crescimento e investimentos em nosso cenário rural. Mas, o homem do campo, razão pela qual os trabalhos são realizados e para quem as vendas são concretizadas, sabe que qualquer passo dado de maneira errada, pode o assombrar por um bom tempo. Dessa maneira, as visitas dos produtores durante a Expointer 2018 foram cercadas de desconfiança, análises e por que não, esperança por dias melhores. Renato Verdana, é produtor de uva e sua propriedade fica localizada em Flores da Cunha (RS). Ele diz que a 30 anos produz e vem sempre procurando qualidade e quantidade, fazendo o melhor para ter um bom produto no final. “Porém, nos últimos anos o produto uva não é tão valorizado pelos compradores. Como não temos onde armazenar sem ser colher e vinificar, ficamos nas mãos dos produtores de vinho e aí então diminuiu nossa margem para negociar. Temos aqueles 30 dias de colheita, e se não colhe, acabamos perdendo”, declara. Para a Expointer, Verdana foi mais para visitar do que para investir em maquinário, uma vez que diz estar bem servido em sua propriedade. “Mas, já estou prospectando para 2019, onde terei que comprar um pulverizador novo”. Segundo ele, mesmo em meio as incertezas políticas, é preciso se programar durante o ano para não ficar comprometido financeiramente. “O programa Mais Alimentos nos ajuda nesse sentido, onde os juros não são tão caros para os financiamentos, mas mesmo assim os produtores têm que estar atentos ao que estão fazendo, pois, para errar na mão é fácil”, declara. E já que o assunto é política, o agricultor comenta que o próximo presidente, para os produtores de uva, tem que os ajudar quanto aos produtos que vem de fora e acabam atrapalhando a produção e lucros dentro do País. “Deveria ajudar mais quem compete a venda de vinho e suco, ajudar em questão de impostos. Uma garrafa de vinho hoje comprada no mercado, por exemplo, o que de menor custo tem ali é o trabalho do produtor, pois a maior parte do preço é imposto”, diz Verdana. Segundo ele, dessa maneira, a fatia que vem para o agricultor numa garrafa de vinho é baixa. “Se um vinho custa R$ 20,00, para o agricultor vem apenas R$ 0,90, ou seja, o restante se perde para outros agentes”.

Para Alison Dal Ponte, produtor de arroz na região de Turvo, Santa Catarina, é importante colocar cautela em primeiro lugar na hora de pensar em investir e comprar maquinários para a propriedade, pois não adianta investir sem ter lucro. “É preciso planejar, conversar e ver onde é mais viável colocar nosso dinheiro e buscar retorno”, comenta o agricultor, que tem 126 hectares em sua propriedade. Para o futuro, o produtor diz que o novo governo deve olhar mais para a agricultura. “Estamos ficando para trás, em vista dos preços que temos, insumos que precisamos colocar na lavoura para produzir alimentos e produtos de qualidade”. Dessa maneira, Dal Ponte co-menta que é dar mais apoio ao agricultor e ajudar mais na parte que toca o País, o agro. “Quanto mais as máquinas melhoram no mercado, mais temos que correr atrás. Hoje tudo se atualiza na tecnologia em questão de pouco tempo, é tudo modernizado, e aí é uma outra questão também que esperamos que os governantes nos ajudem e não nos deixem de lado, com aporte para os investimentos”.

Para vencer o medo

Os números expressivos de faturamento registrados na feira são frutos das novidades e tendências de mercado que as principais marcas do agro que lá estiveram, apresentaram para o público visitante, que mesmo em meio a situação política, buscam o sucesso para superar a crise. Eduardo Nunes, diretor comercial da Massey Ferguson, comenta que a companhia, por exemplo, lançou três linhas de tratores que começam em 75 cavalos e vão até 370 cv. “Renovamos também a linha abaixo de 100 cv, com transmissão eletro hidráulica o que é novidade para o segmento”, diz. Tratores de potências altas com Transmissão Continuamente Variável (CVT), que são as mesmas dos automóveis, estiveram expostos no estande da marca, além das novidades na linha de plantio, onde a Massey recentemente adquiriu a Precision Planting, uma das empresas de tecnologia mais conceituadas no mercado. “Então agora, nossas plantadeiras na feira já contaram com esta tecnologia”.

Jorge Pezaroglo, consultor de vendas da Stihl comenta que nesta edição do evento, a companhia apresentou sua linha focada na agropecuária. “Trouxemos a linha de motosserra profissional, também uma lavadora profissional e os produtos a bateria, onde a mesma vem integrada ao produto, gerando um carregamento mais facilitado para o homem do campo”. Para ele, o clima da feira mostrou que o público do agro trabalha e gera lucros por si próprio. “O agronegócio vem sustentando a balança comercial do Brasil nos últimos anos e sabe a importância que tem, então uma feira como essa é importante para expormos nossos produtos e as soluções que temos para o setor”, diz.

Além disso, segundo Pezaroglo, a Expointer pega o início do calendário agrícola, onde é um bom momento para prospectar como virá o próximo ano em termos de negócio e mercado. “Nossa expectativa de crescimento dentro da feira neste ano foi maior, e esperamos que passado este momento de incertezas, o mercado reaja e volte com os investimentos sendo feitos por parte dos produtores”. Na Expointer não são comercializados apenas produtos propriamente ditos, apresentar conceitos também acontece, para que as empresas se diversifiquem na hora de conquistar a atenção dos visitantes. A Kepler Weber é um exemplo disso, e João Tadeu Franco Vino, superintendente comercial da companhia, explica sobre a armazenagem inteligente, levada como novidade para a feira neste ano. “Trata-se de um conceito composto de vários produtos onde temos um projeto pensado para reduzir o custo final de toda instalação, trazendo equipamentos de aplicações especificas, como a máquina rotativa para retirar a lavagem da soja, o sistema de controle de aeração e termometria automatizado, além de toda automatização da obra”, conta. Essa demanda veio do produtor, e com um grupo que a Kepler tem, que é composto de pessoas do campo com suporte de cooperativas, por exemplo, trazem as necessidades para que possam trabalhar no desenvolvimento de novidades para o mercado. “E estas trazem tecnologias que facilitem a vida do cliente, pegando o mesmo rumo que os demais setores do agro passam hoje, que particularmente vejo mais à frente do que o de armazenagem”, declara.

O superintendente ressalta que o conceito da armazenagem inteligente, além de ter o custo menor, traz qualidade maior ao grão, e menores gastos na mão de obra, que passa a ser automatizada em sua grande parte.

Texto: Bruno Zanholo• Fotos: Leandro Maciel Souza

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