Agricultura

Na onda do “Pinga ni mim”

Sistema de gotejamento na horticultura se apresenta como boa solução na economia de água e energia, além de garantir mais produtividade ao produtor.

Economizar água e energia, e ainda por cima ter ganho de produtividade parece ser o sonho de todo agricultor. Para quem vê, isto parece ser bem difícil de acontecer, ainda mais em tempos de crise hídrica. Porém, uma tecnologia disponível para o Brasil e o mundo vem mostrando que a dificuldade se transformou em realidade. Trata-se do sistema de gotejamento subterrâneo. Desenvolvido pela Netafim a 50 anos atrás, em Israel, o sistema aparece em terrar brasileiras para ser uma das opções para a salvação econômica da lavoura.

“Essa invenção surgiu devido a necessidade de fazer uma região extremamente desértica produzir”, declara Carlos Sanches, gerente nacional do departamento agronômico da companhia. Segundo ele, atualmente mais de dez milhões de hectares, espalhados por mais de 40 países, são irrigados por gotejamento.

No Brasil, o sistema é utilizado atualmente na plantação de tomate industrial e para melhor rendimento, coloca água e nutrientes diretamente na raiz da planta. “Desta maneira, não há um molhamento foliar, como nos métodos convencionais de irrigação”, diz. Este fato se interliga diretamente a diminuição de pragas e doenças no cultivo, uma vez que no método tradicional há bastante temperatura alta e umidade na fo-lha, o que favorece maior incidência de seres indesejados na plantação. “No caso do subterrâneo, como não fazemos este molhamento, temos observado até 30% menos de pulverização de agroquímicos no campo”, declara Sanches.

Outro ponto importante e que é um benefício para quem utilizar o gotejamento, fica por conta das folhas não caírem no chão, ou seja, o tomate fica menos exposto aos raios solares, não existindo assim a queima do fruto. “Em cima desses pontos positivos, o que temos também percebido com o projeto, é que ele tem como característica o tomate industrial, mas como conseguimos levar uma planta com boa sanidade até o final, parte destes frutos podem ser comercializados como tomate de mesa”.

Mais vantagens do gotejamento

Por conta de ser flexível, o sistema pode ser trabalhado em qualquer tipo de solo, qualquer topografia e qualquer recorte de área, não impor-tando assim, o formato da terra. “Nós fazemos todo estudo, pois temos um departamento de engenharia que é responsável por fazer o dimensiona-mento destes projetos para qualquer situação”, declara Sanches. Leva-se em conta nestas situações, parâmetros agronômicos de quantidade de água ideal para cada região que se está trabalhando e analisando o solo. Ou seja, conhecendo qual a movimentação de água para cada um deles. O gerente explica que esse é o método mais eficiente de colocar água para planta, pois vai diretamente em sua raiz. “Quando comparamos este com métodos mais antigos, temos registrado até 30% de economia de água e também de energia, uma vez que eles estão diretamente ligados”.

No Brasil, o sistema de gotejamento é utilizado atualmente na plantação de tomate industrial e para melhor rendimento, coloca água e nutrientes diretamente na raiz da planta.

Já do ponto de vista de produtividade do tomate, no método tradicional de irrigação, gera em torno de 70 toneladas por hectare. No sistema de gotejamento, onde faz-se a nutrirrigação (colocar os nutrientes necessários para a planta junto da água), a expectativa é de produzir até 150 t/ha. “Esse incremento de produção é bem significativo, pois pode variar entre 40 e 50 toneladas”. Convertendo isso financeiramente para os dias atuais, chega-se ao resultado que varia entre oito e dez mil reais de lucro por hectare.

“É um sistema com alta viabilidade, e o que ele agrega em produtividade, redução do consumo de água e energia, redução de pulverizações, faz com que se ‘auto-pague’ no máximo até o segundo ano de utilização”, diz Sanches. Segundo ele, o tempo de vida útil do sistema de gotejamento é de no mínimo 12 safras, ou seja, é um ganho continuo por um longo tempo e que gerará lucros para a produção e para o bolso do agricultor.

Instalação e manutenção do sistema

A fazenda que tiver interesse em ter o gotejamento funcionando a todo vapor, primeiramente tem que ter disponibilidade de água, pois não há como fazer a irrigação sem ela. Para instalá-lo, é desenvolvido um implemento que faz toda a automatização da instalação. “Esse equipa-mento é acoplado a um trator e aí, geralmente os produtores utilizam um GPS para monitorar exatamente a localização de onde será colocado o material subterrâneo”. O equipamento pode implantar entre três e cinco hectares por dia.

Já quanto a manutenção do gotejamento, segundo Sanches, é bem simples. “Costumo dizer que é parecido com quando se compra um trator. Tem que se fazer as manutenções periódicas para que realmente se atinja o período de vida útil”, declara. No caso do sistema de gotejamento, recomenda-se seguir um protocolo de manutenção simples, que basicamente consiste em abrir os finais de linha para fazer a limpeza do sistema, eventualmente ejetando cloro. “Fora isso checar se o sistema está funcionando corretamente na central tecnológica de informação”.

O pioneiro brasileiro

Iron de Lima Rodrigues é produtor rural a mais de 30 anos, e planta tomate a 15. É proprietário da Fazenda Alegre, localizado em Itaberaí, Goias. “Nessa propriedade tenho 800 hectares, com 600 plantados, dos quais 380 são irrigados e destes, 130 são por gotejamento”, declara. Lima é o pioneiro do sistema da Netafim aqui no Brasil, e conta que conheceu esta tecnologia em uma viagem aos Estados Unidos. “Percebi a uns cinco anos atrás que estava tudo muito parado na cultura do to-mate, ninguém estava tentando melhorar nada, estava tudo estagnado e produzindo sempre a mesma coisa todo ano. Aí resolvi viajar para fora do Brasil para conhecer as novidades e outras culturas, e foi quando cheguei, em 2011, na Califórnia, que vi está tecnologia lá e achei de primeira que poderia implantar isso aqui e que daria certo”, conta o produtor. No ano seguinte a tecnologia estava implantada, e atualmente já estou no terceiro projeto.

Segundo ele, no princípio não foi fácil, pois pioneirismo no Brasil é complicado. Porém, agora com o domínio da tecnologia, os resultados são muito positivos. “E não só em termo de condução e manejo da cultura, mas em produtividade e segurança produtiva”. Lima diz que colocou os gotejamentos nas áreas onde não pode colocar o pivô central. “Então são áreas irregulares, que estamos aproveitando com o sistema, pois aí levamos água e nutrientes onde queremos”. Em cima disso, o agricultor revela que hoje já reduziu na fazenda 20% de utilização e gastos com água. “Comparando com o sistema de pivô central, estou diminuindo o custo de defensivos em 25%, e estou aumentando a produtividade em 35%”, diz. Demorei muito para chegar neste ponto, tive muito prejuízo no começo, até aprender a trabalhar com o sistema, mas hoje dominamos bem e esses são números reais.

Baseado sobre o que Sanches diz quanto a necessidade de haver disponibilidade de água para a instalação do sistema de gotejamento, Lima tem na Fazenda Alegre um lago com 28 hectares de área reservada, com 1.200.000,00 milhão metros cúbicos armazenados para utilização e profundidade variada entre dois e oito metros. “Com a otimização que aprendi sobre utilizar a água, chegamos ao final da safra com volume de ainda intenso na reserva”, diz.

Exemplo para os demais

“No começo os outros produtores diziam que eu era louco, que não iria funcionar. Mas, acho que se não tivermos insistência e persistência, não fazemos nada hoje em dia”, declara. O produtor diz que no começo fez um risco calculado do prejuízo que poderia suportar, caso não desse certo o investimento. Porém, os bons resultados foram aparecendo, e demais agricultores viram que esse é o presente e futuro para as plantações brasileiras. “Acho que houve um despertar para que eles possam implantar nas fazendas deles”.

E por falar em futuro, Sanches declara que a Netafim trabalha em seu dia a dia para adaptar cada vez mais o sistema para outras culturas. “Atualmente cito que grandes culturas como milho, soja, feijão, trigo, e as mais diversas culturas cultivadas Brasil a fora tem sido irrigada através do gotejamento, mesmo que estejamos vivendo hoje uma crise hídrica forte”. Segundo ele, os produtores estão se conscientizando em utilizar métodos mais inteligentes de irrigação, e hoje a eficiência do subterrâneo é declarada e deve se espalhar pelos campos nacionais.

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