Agricultura

Novas formas de combate

Uma das pragas mais danosas que existem na cultura da cana, o Sphenophorus levis, ou “bicudo da cana”, há mais de 20 anos se encontra nos solos brasileiros assombrando as produções canavieiras.

De acordo com informações do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a praga atingiu 150 municípios em 2014 entre os Estados de Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, e, principalmente, São Paulo, responsável por 54,6% da participação da safra.

“No começo ela não era tão forte quanto hoje, devido ao sistema de colheita da época que era o de cana queimada”, declara Newton Macedo, engenheiro agrônomo e consultor. Segundo ele, nesse sistema, a cada corte no momento em que se faz a queima pré-colheita, faz uma redução drástica da população de adultos que está na área. “Isso permitia que ela se mantivesse em níveis toleráveis”, declara. Mas, com o advento da colheita de cana crua, foi criado um ambiente agradável de abrigo para a praga e sua incidência foi aumentando e causando danos. “Necessitou um tempo para o produtor perceber, o que deu a chance dela se disseminar mais ainda pelos campos”, diz Macedo.

Para ele, hoje estamos num nível maior do que as estatísticas dizem. “Elas são baseadas nas informações dos produtores que trataram a praga. Mas, há produtores que não estão tratando e nem sabem da presença dela”. O agrônomo diz que nas áreas tradicionais de cana no Estado de São Paulo, praticamente não há unidade que não esteja infestada com a praga. “Isso gera um agravante, pois ela tende a se expandir”.

As características do Bicudo

Comparativamente a outras pragas ele tem o desenvolvimento lento, mas persistente e tem característica de ser protegida, ou seja, é pouco vulnerável a ação do clima e até mesmo de inseticidas. “A praga requer um manejo diferenciado daquele que o produtor está acostumado”, diz Macedo. Segundo ele, é im-portante ter um padrão diferente de preparo de solo para que se diminua drasticamente a população dela antes de se instalar um novo canavial. “E é isso que o produtor não está familiarizado”. Para ele, isto se dá porque es-tas características do Bicudo não se assemelham com outras pragas, como por exemplo a broca e a cigarrinha. “Estas, uma vez controladas em um ciclo, no ciclo sequente não provocará um ataque severo”, diz.

O Bicudo se não controlado no início, apresenta sistematicamente um crescimento de população de um corte para outro. “Então, além de causar perda naquele corte que está sendo considerando, ele reduz o número de cortes no ciclo da cultura a partir de cada renovação. Isso causa impactos severos na produtividade como um todo”, declara Macedo. O agrônomo declara que pelo fato de ter a característica de acabar com a produtividade da lavoura, a praga acaba aumentando o custo de controle e produção.

Métodos de controle e manejo

Para intensificar a luta contra o Bicudo, Macedo declara que a primeira coisa a se fazer é o levantamento para ver o grau de abrangência e densidade. Logo após, principal-mente, quando há áreas elevadas de infestação tem que se iniciar um tratamento de choque, ou seja, reforma-las e a partir dos novos plantios fazer o monitoramento sistemático para definir onde deve ser feito o tratamento de soqueira. “Com relação a reforma especificamente, não se pode pensar em área com a praga fazer o preparo mínimo do solo. Necessariamente irá ter que movi-mentar o solo, fazer destruição de soqueira mecanicamente e em algumas situações, é aconselhável fazer a introdução de inseticidas antes do plantio da nova lavoura”, diz.

O consultor comenta que mesmo um bom preparo de solo, não atinge as formas adultas da praga. “Ela efetiva a destruição das formas jovens, mas o inseto permanece ali no solo de uma cultura para a outra”. Ele explica que os adultos têm uma capacidade grande de sobrevivência a seca, além disso, sobrevivem a grandes períodos sem alimento e sem água. “Isso pode variar entre 200 e 220 dias”. Com isso, se não for feita uma boa destruição de soqueira, seguida de uma incorporação de inseticida antes do plantio da nova cultura, os canaviais terão bastante problemas.

De acordo com informações do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a praga atingiu 150 municípios em 2014 entre os Estados de Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo.

Para combater o Bicudo, a Basf criou um produto chamado Regent Duo. Segundo Carulina Borges de Oliveira, gerente de marketing para cana, da Basf, a criação deste produto começou quando o setor viu o aumento da praga em mudas por todo País, principalmente no centro-oeste. “Entendendo todo habito da praga, chegamos à conclusão da necessidade de um produto com longo residual e um produto com efeito de choque. O produto contém duas moléculas presentes que tem essas ações”, declara. Lançado a dois anos, do momento inicial até os dias atuais, a companhia levou quatro anos entre estudos e desenvolvimento.

“Notamos que a praga vem crescendo de uma forma assustadora, então tomamos a frente do mercado para mostrar a todos que há solução”. Ela afirma que o produto está no mercado disponível e pode ser utilizado onde houver Bicudo, seja usina ou seja propriedade. “O produto é uma mistura de duas moléculas com características diferentes. Uma delas o fipronil, que dá residualidade. E a outra é o piretróide que tem como característica, na aplicação, desalojar os indivíduos que estão na touceira de cana, e matar rapidamente os adultos”, declara Macedo. Ele explica que as formas jovens irão dar origem a adultos posteriormente, e como há uma molécula de alto residual (fipronil), as próximas gerações serão mortas. “Com isso, temos uma forma substancial quando comparamos a efetividade deste produto em relação aos outros disponíveis no mercado”, diz. Macedo comenta que é preciso separar o nível de entendimento do produtor em relação a praga. “Aqueles que já estão esclarecidos e adotando as tecnologias disponíveis, vão conseguir conviver com a praga de uma forma sus-tentável”. Segundo ele, muitos terão que se adaptar a esta realidade, pois se não o fizer, sairão do negócio. “Diria que alguns já saíram e nas áreas tradicionais, metade dos produtores sairão do negócio se não mudarem a postura. Temos usinas no Estado de São Paulo que já quebraram e há ou-tras que vão quebrar”.

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