Negócios

Crédito rural: porteira aberta para o agro negócio

Durante a crise da década de 1990, a falta de renda e a quase inexistência de financiamento era uma constante no cotidiano dos produtores rurais brasileiros. Quando eles mais precisaram de auxílio, as torneiras de recursos, sobretudo as oficiais, se fecharam. Hoje, 23 anos depois, a história que se conta é outra.

O momento de bonança do setor; puxado pelas supersafras e pela explosão dos preços das commodities agrícolas tem levado muitas instituições a facilitar e a empreender em novas linhas de financiamentos. E mais que chegada a hora dos bancos públicos e privados estarem de cofres abertos, para o agricultor.

O diretor adjunto da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ademiro Vian, diz que neste momento o agronegócio brasileiro tem ganhado espaço e se destacado mundialmente por sua capacidade de produção. Isto gera um círculo virtuoso: os recursos abundantes de hoje são uma sinalização que o setor terá todas as condições de continuar avançando. E as instituições financeiras acompanham essa evolução positiva. “Houve uma demanda crescente no crédito, impulsionado nos últimos anos, pelas taxas que se tornaram atrativas aos bancos, que continuaram direcionando parte dos recursos obrigatórios dos depósitos à vista para o crédito rural. Atualmente, a exigibilidade é de aplicação de 34% dos depósitos à vista. Na safra 2012/2013, fechamos na ordem de R$ 62 bilhões advindos dos créditos. Projetávamos encerrar esta safra com R$ 52 bilhões”, afirma Vian.

Dados da Febraban mostram que os bancos ofertaram um volume gigantesco, principalmente, nas operações contratadas no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) e ainda do Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias (Procap-Agro), todas a juros entre 1% a 5,5% ao ano. O que se sabe é que a boa oferta de crédito e uma tendência na manutenção dos preços das principais commodities já resultaram em uma melhor renda no campo. “Pelo menos, as últimas duas safras ajudaram a resolver o problema de inadimplência, a quitação de dívidas antigas dos agricultores. E ao que tudo indica teremos demanda aquecida”, afirma Vian.

Por essa razão, desde o início da safra até o final de março, o Banco do Brasil, principal parceiro financeiro do governo na concessão de crédito agrícola no País, desembolsou R$ 45,1 bilhões, representando 82% do total de R$ 55 bilhões previstos, número que representa 30% a mais em comparação a safra passada. Na Agricultura Empresarial foram aplicados R$ 35,9 bilhões, enquanto que na Agricultura Familiar o desembolso foi, até agora, de R$ 9,2 bilhões. Além dos valores acima, foram injetados R$ 6,6 bilhões para empresas agroindustriais. Em dezembro de 2012, só a carteira de agronegócios, incluindo operações de crédito rural e agroindustrial, alcançou R$ 108 bilhões.

A proposta do BB também é incentivar alguns outros programas destinados para o segmento, entre eles, o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), o Custeio Antecipado (Safra 2013/14) e, por último, a Mitigação de Risco. “O Programa ABC, desde que foi anunciado, foi desembolsado o montante de R$ 2,2 bilhões na safra, em mais de cinco mil contratos. O valor recorde ultrapassa em 46,7% a meta do BB para todo período, inicialmente fixada em R$ 1,5 bilhão”, explica Osmar Dias, vice-presidente de Agronegócio e de Micro e Pequenas Empresas do Banco do Brasil.

Atualmente, o banco disponibiliza um amplo portfólio de produtos e serviços adequados às necessidades desde o pequeno produtor até as grandes empresas agroindustriais. “Entre as novas linhas de financiamento destacam-se o BB Agronegócios Giro e a linha de crédito para Investimentos com Recursos do Compulsório, que trata de uma fonte de financiamento com encargos financeiros atrativos que propicia aos produtores a modernização de seus maquinários, com taxas de juros a partir de 3% ao ano e um prazo de até 120 meses”, conta Dias.

Demanda Privada

Outra instituição que oferece apoio financeiro aos diversos setores e segmentos que compõem o agronegócio é o Banco do Nordeste. Para o diretor de negócios da instituição, Paulo Ferraro, as novas fronteiras agrícolas impulsionaram a abrangência do Banco do Nordeste, com investimento em custeio em torno de R$ 1 bilhão. “Não é apenas pelo negócio que estamos no Nordeste. A fronteira agrícola nacional conhecida como Mapitoba [sigla que abarca regiões do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia], reforça a proposta de ofertar financiamento para os agricultores que estão investimentos fortemente na região, seja na cultura da soja, do milho ou do algodão”, afirma Ferraro.

De acordo com Luiz Sérgio Farias Machado, superintendente de Agricultura Familiar e Microfinança, do Banco do Nordeste, o agronegócio é o motor que move a economia no País. “Não é à toa que até o dia 25 de abril foram contratados cerca de R$ 1,2 bilhão em operações de créditos rurais, especialmente linhas de financiamento para pequenos e médios agricultores. O Banco do Nordeste é o segundo maior banco agrícola, perdendo somente para o Banco do Brasil. Porém, é o maior agente financeiro do Pronaf na sua área de atuação, compreendida pela Região Nordeste, norte de Minas e norte do Espírito Santo, e tem priorizado o atendimento dos agricultores familiares por meio dos vários instrumentos”, diz Machado.

Os bons resultados obtidos em anos anteriores, fizeram com que algumas instituições privadas fortalecessem o vínculo com o produtor rural. “A propósito, as fronteiras agrícolas é a própria origem do banco”, diz Osmar Roncolato, diretor do Bradesco. Os números da instituição reforçam a sua atuação no contexto agrícola. O total de produção de crédito rural e Finame Agrícola totalizaram R$ 17 bilhões, até o final do mês de março. Só o Programa de Sustentação de Investimento (PSI) Finame foram R$ 1,6 bilhões e as demais operações de crédito rural chegaram a R$ 8,9 bilhões. Em um total produzido de R$ 10,570 bilhões. “A concessão de crédito deve continuar crescendo e o Bradesco está mais que preparado para esse mercado”, afirma Roncolato.

O Grupo Santander é outra instituição que está se consolidando entre os clientes rurais. Dentre as opções de crédito oferecidas estão o Custeio Agrícola, Pecuário, CPR (Cédula Produto Rural), repasses de programas do BNDES, Finame Agrícola e Finame PSI. “A proposta do Santander é ser percebido como banco que apoia o produtor rural desde o início de seu planejamento até a hora da comercialização de sua produção. Estamos estruturados para dar uma resposta rápida aos pedidos de financiamento, aos parceiros concessionários de máquinas e implementos agrícolas e aos clientes”, afirmou Pedro Coutinho, vice-presidente executivo de varejo do banco.

Todas as entidades financeiras reafirmam que a safra termina com números e valores positivos, de maneira geral, como vem ocorreu em anos anteriores. A visão empresarial do produtor rural gerou maior objetividade nas assinaturas de contratos. Isso permitiu que ele se planejasse e procurasse crédito de forma organizada. Estão aí os resultados. Dados do Ministério da Agricultura apontam que os produtores rurais já adquiriram 62,2% dos recursos previstos pelo Plano Agrícola e Pecuário 2012/13. Os financiamentos das modalidades de custeio e comercialização ampliaram 11,5%, enquanto as de investimento apresentaram crescimento de 32,1%. Os financiamentos para a agricultura empresarial somaram R$ 71,6 bilhões entre julho de 2012 e fevereiro de 2013. Entre as linhas de crédito para investimento, destaque para o PSI-BK, que somou no período R$ 7 bilhões para a aquisição de máquinas agrícolas, equipamentos de irrigação e estruturas de armazenagem. E mais uma vez o agronegócio derrubando antigas fronteiras.

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