Agricultura

Horticultura: a horta dos pés

Produtores de pimentão e pepino buscam cada vez mais se adequar às demandas do mercado nacional. Além de qualidade, aparência faz toda a diferença na hora de vender.

Com o avanço da tecnologia e da capacidade de produção, os consumidores de diversos produtos que se encontram nas gondolas dos mercados brasileiros, deixaram de prezar apenas pela qualidade daquilo que esta comprando. Colocar a venda beleza, boa textura e volume, vem se tornando cada vez mais constante e necessário. Não fugindo a esta regra, os produtores de pimentão e pepino vêm a cada dia mais procurando maneiras e manejos corretos para se destacar no cenário agrícola e assim, conquistar os clientes.

Segundo Marcelo Cury Abumussi, produtor e proprietário da Fazenda Ituaú, localizada na cidade de Salto, interior de São Paulo, para obter um melhor resultado final o produtor deve plantar usando estufa. Além disso, fazer a enxertia em ambas cultivares é de extrema importância. “A enxertia no pepino causa um brilho que resulta numa melhor aparência na hora de colocar no mercado”. Abumussi lembra que o produtor deve sempre fazer pulverizações conscientes, com isso, no manejo de solo da estufa não se pode usar muito adubo químico e sim, o adubo orgânico.

“Outro passo fundamental no manejo do pepino e do pimentão, fica por conta de fazer a seleção do produto depois da colheita, pois é o que vai determinar a qualidade que vai ser vendida”, declara. Ele conta que há um detalhe em especial que a maioria dos produtores não se atenta na hora de embalar o seu produto para venda. Trata-se da padronização de tamanho do legume na bandeja ou na caixa. “Sempre se deve colocar os legumes de tamanho semelhante na mesma embalagem, e ainda, se possível, o produtor tem que criar uma marca própria, pois aí ele terá uma identidade no mercado e conquistará mais reconhecimento”. Vale lembrar que a escolha da variedade que será plantada, tem que ser de acordo com as demandas e condições climáticas da região onde se encontra. “Aqui na fazenda não adotamos a monocultura, procuramos plantar outras variedades para estarmos seguros de qualquer acidente que possa acontecer no mercado. E uma vez que adotamos isto, fazemos o rodizio de plantação”, diz Abumussi. Ele revela que sua propriedade tem parcerias com os supermercados Pão de Açúcar, Santa Luzia, Zaffari, além do Hotel Unique. E que em média, 30% de produção é destinada ao pepino e o pimentão.

A opinião da pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Sally Ferreira Blat, segue a mesma linha de pensamento de Abumussi. Para ela os cuidados pré-colheita são os mais importantes a serem tomados, pois é aí que o gosto, qualidade e beleza dos legumes serão definidos. “Escolher uma cultivar que tenha resistência para região onde vai ser produzida, verificar se o solo não tem pragas ou doenças, e realizar adubação correta ajudará o produtor a ter qualidade no seu fruto”, diz Sally. Além disso, fazer o uso adequado de agrotóxico é essencial, pois um erro pode comprometer a lavoura. “Não se aplica defensivos se não houver pragas e doenças”.

Quanto à higiene, a pesquisadora diz que é importante higienizar todo material que for utilizado na lavoura, para que assim haja pouca incidência de doenças na mesma. Ou seja, para se ter qualidade é necessário realizar as boas práticas agrícolas.

Alinhando qualidade à estética

Se a aparência é fundamental na hora de fechar parceiras e vender os legumes, as práticas para obter uma boa qualidade caminham lado a lado. Sally diz que pequenos detalhes, como aplicar filme plástico, por exemplo, ajuda a manter o produto bonito e com a qualidade que já foi colhida. “É importante lembrar que isso não irá melhorar o gosto do produto, mas sim manterá a qualidade”. Segundo ela, o ideal para se obter a boa aparência é colher o pimentão nas horas mais frescas do dia e também utilizar caixas plásticas para transportar o legume. “O produtor tem que buscar colher no estágio de maturidade ideal. Vale ressaltar que todo pimentão um dia foi verde, mesmo aqueles que hoje são vermelhos ou amarelos”, declara.

Já Abumussi diz que a variedade das leguminosas é importante neste caso, pois aí vai entrar o trabalho de enxertia e a padronização de produto para o mercado que ele vai, ou seja, primeiramente tem que ser estudado o mercado onde ele vai entrar. “O produtor tem que sempre pensar o caminho inverso. Primeiro pensar para onde ele vai vender o pepino e o pimentão, para só depois ele começar a plantar”. Segundo ele a tecnologia disponível atualmente para os produtores se torna uma forte aliada na hora de colher bons frutos. “Hoje é muito mais fácil fazer uma irrigação perfeita, pois você programa tudo nos computadores e as máquinas fazem todo o trabalho que seria do homem”. Porém, Abumussi declara que para a produção em estufa, as tecnologias podem sair caras, pois o mercado não é muito valorizado, e com isso acaba sendo um custo a mais para o produtor. “Apesar de termos tecnologias para todos os níveis da cadeia produtiva, tem que se avaliar o custo benefício de utilizá-las”.

Para Sally, a utilização da tecnologia é muito dependente. “Numa agricultura familiar é utilizado mais a colheita manual, então a tecnologia não se torna fundamental. Mas, para os grandes produtores, sem duvida que a colheita mecanizada é sempre uma aliada”. Ela lembra que existem diferentes tecnologias, que podem ser alcançadas por todos, do pequeno ao grande produtor. “Claro que há diferença entre esta tecnologia. Quem tem melhor pode econômico, pode adquirir algo melhor”. Entidades têm programas de acesso a parte financeira e cursos técnicos para utilizar a tecnologia em sua produção. “O produtor que quer consegue este tipo de ajuda para melhorar sua produção”, diz a pesquisadora.

E se usar a tecnologia da maneira correta ajuda o produtor, Abumussi diz que a qualidade hoje do pepino brasileiro é boa. “O pepino, principalmente da variedade japonês tem qualidade superior. Isso se deve muito pelo fato dele ser produzido em estufa”. Já a situação do pimentão é um pouco mais complicada, pois não existem muitos defensivos para ele, com isso os produtores têm utilizado produtos não indicados o que está fazendo com que os pimentões apareçam com problemas nos mercados. “Mas, mesmo com isso, a qualidade do fruto é boa”, declara.

Sally comenta que a qualidade do legume vai depender de como ele vai ser tratado durante toda produção. “Hoje, o consumidor está muito ligado em aparência, qualidade e segurança alimentar. O pimentão é rico em vitamina C e A”. Ela diz que o brasileiro ainda compra o produto pela cara, e esquece que este produto mais bonito, pode ter sofrido com maior utilização de agrotóxico. “Nem sempre o produto que tem a cara mais bonita, é o melhor”.

Mercado instável

Apesar de ter qualidade e aparência respeitável, estes legumes enfrentam atualmente um mercado muito irregular, o que acaba deixando a cabeça do produtor confusa. Abumussi diz que hoje pepino e pimentão estão com preços excelentes, mas o produtor passa por dificuldades na produção por causa das pragas, doenças e também pelas condições climáticas. “A grande verdade é que produzir tais leguminosas é uma loteria, porque o produtor tem que plantar e torcer para que o comprador oferecer um bom preço no produto final”. Ele lembra que aí entra a necessidade de estudar o mercado antes de começar a plantação. “Para evitar prejuízos, tem que ser analisadas todas as possibilidades de venda do produto”, declara.

Quanto às perspectivas de mercado para 2013, ele diz que é complicado fazer uma previsão. “A tendência é aumentar os preços pela dificuldade de se produzir, com isso o produtor acaba sendo prejudicado. No fim das contas, ao invés de colher 100 caixas, ele acaba colhendo apenas dez”, finaliza.

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