Política

Dedo de prosa: Laércio Barbosa – presidente da ABLV

Apesar da rentabilidade abaixo dos níveis aceitáveis, a indústria de Leite Longa Vida mantém seu firme crescimento graças ao aumento de consumo.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), Laércio Barbosa, já se observa um aumento de 3% no primeiro semestre, mesmo com a economia brasileira sofrendo as consequências da crise internacional. Em entrevista à repórter Fátima Costa, Barbosa prevê que as vendas devem crescer cerca de 4% no fechamento do ano, “o que é um resultado a ser comemorado”, diz.

Revista Rural – Recentemente, a associação anunciou por meio de um levantamento que os estoques estão reduzidos ao menor nível registrado. A principal causa são as fortes estiagens sofridas em várias regiões. Neste momento, o que pode ser feito para evitar que o problema repercuta no varejo?

Laércio Barbosa – No final de agosto, os estoques da indústria de leite longa vida atingiram cerca de sete dias de produção, o menor valor nos últimos 12 meses. No entanto, na época existiam também estoques em poder do varejo, que, somados aos da indústria, acreditávamos ser suficientes para o abastecimento normal até a retomada do ritmo da produção e recomposição dos estoques. Isso somente deve acontecer a partir de novembro, com o início da safra.

Nesse momento de oferta mais restrita, também é natural que diminuam as promoções e ofertas de leite, que estimulam a compra, mas muitas vezes são feitas com margens negativas pelo varejo, o que também deve auxiliar na manutenção dos estoques.

Rural – Foi mencionado também que o fato pode ocasionar reajustes nos preços da indústria. A entidade acredita que a indústria retorna aos níveis de preços praticados no ano passado, recuperando a rentabilidade necessária para manutenção da atividade até então bastante comprometida?

Barbosa – No final de 2011, tivemos uma forte queda nos preços do leite no atacado, que não foi acompanhada por uma redução de mesma intensidade nos preços ao produtor. Assim, a rentabilidade do setor ficou comprometida, em muitos casos com as empresas amargando prejuízos durante todo o primeiro semestre de 2012. Assim, os reajustes que tem acontecido nas últimas semanas permitirão que se retomem os patamares de preços atingidos durante o ano de 2011, que eram cerca de 10% superiores aos preços que vinham sendo praticados neste ano. Isso é bastante saudável, pois garante ao setor rentabilidade para a continuidade dos investimentos.

Rural – Na cadeia final, o consumidor sofrerá com esse problema?

Barbosa – Se observarmos a série histórica, de 2007 a 2011, a rentabilidade média do varejo para o leite longa vida era da ordem de 15%. Neste ano de 2012, as margens do varejo foram sempre superiores a 30%. Por esse motivo entendemos que o varejo tem gordura acumulada para absorver os aumentos sem repasse para o consumidor. No entanto, cabe observar que ainda estaremos distante dos recordes históricos nos preços ao consumidor, que foram atingidos em 2007 e 2009, com preços acima de R$ 2,50 o litro e que foram plenamente absorvidos pelo mercado, sem grandes oscilações na demanda.

Rural – Por outro lado, vimos que houve e que há uma tendência quanto ao crescimento do consumo de leite no País. Apontam os especialistas que isso se deve a boa economia brasileira e a renda de classes “emergentes” C. Isso se confirma?

Barbosa – Sim, o cenário é bastante otimista, com o consumo em evolução em razão da entrada de novos consumidores no mercado e do aumento da renda da população. Após um expressivo crescimento de 6,7% em 2011, as vendas de leite longa vida continuam firmes em 2012 e já observamos um aumento de 3% no primeiro semestre, mesmo com a economia brasileira sofrendo as consequências da crise internacional. Com o mercado melhorando neste segundo semestre, graças às várias medidas de incentivos tomadas pelo governo federal, às vendas devem crescer cerca de 4% no fechamento do ano, o que é um resultado a ser comemorado.

Rural – Quais são as projeções e perspectivas que a indústria traça já para o próximo ano?

Barbosa – Em sintonia com as projeções de uma melhora no cenário econômico e um crescimento mais acelerado do país em 2013, trabalhamos então com uma expectativa de crescimento da ordem de 5% para o ano que vem.

Rural – Um assunto delicado na cadeia envolve a questão da importação de Leite derivados dos países vizinhos. Esse impasse sempre existiu e sempre existirá?

Barbosa – A cadeia produtiva brasileira sofre com o custo Brasil, com uma alta carga tributária, gargalos logísticos, alto custo dos insumos e burocracia, que encarecem os produtos nacionais. Assim, ao importar produtos lácteos de outros países que não têm esse problema, esses itens chegam ao país com custos cerca de 25 a 30% abaixo dos preços nacionais, o que configura uma concorrência desleal com as empresas e produtores brasileiros. Por esse motivo somos contra a importação indiscriminada de produtos lácteos, que tem causado um grande desequilíbrio no mercado e desestímulo à produção nacional. A exemplo do que foi feito recentemente para o setor automotivo, o governo federal pode e deve atuar mais firmemente na proteção do setor lácteo nacional, com a aplicação de medidas de defesa comercial com relação aos produtos lácteos importados, como por exemplo cotas e tarifas compensatórias.

Rural – O Brasil ainda é o principal destino do leite em pó integral e do leite em pó desnatado?

Barbosa – O Brasil já foi o principal importador mundial de produtos lácteos na década de 80, como consequência da excessiva regulamentação do setor e do tabelamento dos preços do leite, mas, a partir da década de 1990, com a desregulamentação e liberação dos preços, a produção nacional cresceu rapidamente, chegando inclusive a gerar superávit comercial na balança de lácteos, comprovando a capacidade e vocação do país para a produção agropecuária. No entanto, na última década, o Brasil vem perdendo competitividade e a produção interna tem crescido num ritmo inferior ao consumo, e o país volta a figurar entre os principais importadores mundiais de lácteos. Um levantamento divulgado recentemente pelo Rabobank coloca o Brasil na 6ª posição entre os maiores importadores de laticínios em 2012.

Rural – A Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida(ABLV) acaba de comemorar seus 18 anos de existência e reúne,atualmente, as 38 maiores empresas do setor. Quais foram as principais ações realizadas pela entidade nesses anos, que é importante destacar?

Barbosa – A Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV) comemorou 18 anos de existência em 15 de agosto. As 38 maiores empresas do setor associadas à ABLV, juntas, produzem cerca de 80% de todo o Leite Longa Vida consumido no País, estimado em mais de seis bilhões de litros para este ano de 2012. O Leite Longa Vida iniciou sua presença no mercado brasileiro em 1972. Até início dos anos 90, o produto tinha reduzida participação de mercado, principalmente devido ao desconhecimento do processo Ultra High Temperature (UHT). Nessa época, já com 18 anos à disposição do consumidor brasileiro, o Leite Longa Vida ainda ocupava modestíssimo lugar no mercado de consumo do produto. Nesse cenário, em setembro de 1994 foi constituída a ABLV, com o objetivo de promover o consumo, representar e defender a indústria de Leite Longa Vida no País. Hoje, está presente em 87% dos lares brasileiros, o que, por si só, demonstra a importância da união das indústrias do setor em uma entidade que as representem. Outro importante projeto da ABLV é o “Programa de Monitoramento da Qualidade do Leite Longa Vida”. Hoje, o programa contabiliza mais de 1000 (um mil) análises de resultados sobre a qualidade do Leite Longa Vida, formando um conjunto de normas que garante a credibilidade e confiabilidade do produto junto ao consumidor. Criado em 2008 pela ABLV como instrumento de defesa da qualidade do produto, o programa é regido por regulamento previsto no estatuto da associação e amplamente difundido entre seus associados e demais fabricantes do setor. A ABLV realiza um monitoramento permanente de todas as marcas comercializadas no País, por meio de análises físico-químicas em laboratório credenciado e auditado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) bem como pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os laudos, com as análises e numeração em série, são periodicamente enviados ao Mapa, que, desta forma, conta com uma fonte a mais de informações para seu esforço permanente de fiscalização e orientação das indústrias. O monitoramento do setor de Leite Longa Vida é o mais importante dentro da cadeia láctea e se apresenta como o mais eficiente meio de preservação da imagem da categoria e de sustentação do próprio negócio.

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