Pecuária

Javalis: encrenqueiros

Rebanhos selvagens estão causando grande prejuízo nas propriedades rurais de diversos Estados. Migrados por meio da fronteira da Argentina e do Uruguai com o Sul do país, os javalis selvagens tem sido um motivo permanente de dor de cabeça e preocupação não só aos proprietários rurais, mas também aos órgãos responsáveis pela agricultura e pecuária em diversos Estados brasileiros.

Os bichos vêm atrapalhando a vida dos donos de propriedades rurais em algumas localidades do Brasil. Estes animais têm registros oficiais de sua presença em Santa Catarina, no Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Maranhão, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Mas, a sua maior incidência encontra-se no Rio Grande do Sul.

Depois de se instalarem no sul, os bichos começaram a migrar para estes Estados após o Ibama liberar em 1998 a criação da espécie em todo Brasil. Só que, quando as regras das formas de criação endureceram, muitas pessoas soltaram o animal de forma ilícita e com isso ele começou a invadir e se proliferar de forma descontrolada.

Os estragos causados pelos javalis na fauna e flora são muitos e dentre os principais estão o ataque a animais de criação, dispersão de plantas daninhas, alteração de processos ecológicos e danos a culturas agrícolas. Hoje, estes animais são a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo, e seu poder vetor é considerado altíssimo.

O javali selvagem é muito agressivo e tem hábitos noturnos. O suíno da espécie “sus scrofa” também é muito resistente e possui grande capacidade de transmitir muitas doenças aos animais de rebanho.

As doenças são de alta periculosidade e podem destruir rebanhos de grande porte. Entre as doenças que preocupam os donos das propriedades estão a febre aftosa, a leptospirose, a cisticercose/teníase e a raiva silvestre. Além das doenças que afetam os cascos e a boca dos animais.

Um estudo divulgado pelo Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental revelou que os javalis fazem parte da lista de uma das 1.002 espécies invasoras que existem no Brasil. O instituto é responsável e tem como objetivo desenvolver alternativas de conservação ambiental e integrá-las aos processos de desenvolvimento econômico e social, aos sistemas de produção e à rotina da sociedade.

Segundo o diretor da ONG Sociedade Brasileira para Conservação da Fauna (SBCF), Alvaro Mouawad, foi possível compreender a dificuldade que os produtores rurais tem em abater os javalis e salvar seus rebanhos. Alvaro disse que antes a caça de javalis era uma coisa regulamentada e permitida pelo Ibama, só que após algumas reclamações sobre o tamanho da violência que era usada na prática desta caça, o Ibama voltou atrás e proibiu todos de caçarem.

Logo após a proibição, foi divulgada pelo próprio órgão uma declaração de nocividade do perigo do animal, e a partir disso as pessoas que quisessem praticar a caça e abate de controle dos javalis tinham e tem até hoje que entrar em contato com os órgãos públicos responsáveis para conseguir uma autorização, e aí sim de forma legal para praticar.

“Os produtores tem que pressionar os órgãos ligados à agricultura e pecuária dos Estados para conseguir a emissão da portaria que autoriza o abate de controle. Esta prática é feita para diminuir essa praga”, declarou Mouawad. Hoje, somente o Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm a autorização para a prática deste tipo de abate.

Com um poder imenso e uma força descomunal, os javalis adaptam-se facilmente a quaisquer que sejam as condições dos locais em que se encontram, já que não tem habitat natural e não costuma ficar por muito tempo em uma determinada região.

Algumas questões que todos os produtores procuram se informar, e saber como agir é quanto o fim da espécie, como se defender dela ou até mesmo sobre extermínio da raça. Infelizmente, todo este querer pode ficar só na ilusão, porque acabar com uma raça de suíno tão forte e selvagem como esse, pode levar muito tempo ou até não ser possível. Na opinião de Mouawad isso não tem a menor chance e não vai acontecer. “É praticamente impossível o extermínio destes javalis. Mas, com o abate de controle consegue-se uma população em um nível aceitável”, explica o diretor em tom de conselho para os produtores que sofrem desta praga.

Doenças causadas pelos javalis.

Entenda um pouco mais sobre algumas das doenças causadas pelos javalis aos rebanhos animais:

Febre Aftosa: é uma doença viral altamente contagiosa que afeta gado bovino, búfalos, caprinos, ovinos, cervídeos, suínos e outros animais que possuem cascos fendidos. Existem sete diferentes sorotipos de vírus da febre: O, A, C, SAT-1, SAT-2, SAT-3 e Ásia-1. Os quatros últimos são considerados exóticos no Brasil. Os que têm mais influência na América Latina são os O, A e C, sendo que os últimos isolamentos no Brasil demonstraram a presença do tipo O.

Leptospirose: é a doença bacteriana aguda ou crônica de grande polimorfismo clínico que
acomete todos os mamíferos, principalmente bovinos, suínos, caninos e humanos. Entre seus principais efeitos estão os aspectos econômicos porque há diminuição dos índices reprodutivos, alguns transtornos reprodutivos como abortos, natimortos, fetos mumificados e nascimento de produtos fracos. Baixa na produção de leite, já que este pode ter presença de sangue e índice de letalidade em animais jovens de até 60%.

Cisticercose: é uma doença que se caracteriza pela formação dos “cisticercos” que são pequenos grãos que podem se localizar nos músculos, cérebro, pulmão e olhos. Os animais, porco e boi, adquirem a cisticercose quando ingerem os ovos da Tênia que foram eliminados nas fezes humanas.

Raiva silvestre: é uma doença infecciosa causada por um vírus que se instala e multiplica primeiro nos nervos periféricos e depois no sistema nervoso central e dali para as glândulas salivares, de onde se multiplica e propaga. Por ocorrer em animais e também afetar o ser humano, é considerada uma zoonose. A transmissão dá-se do animal infectado para o sadio através do contato da saliva por mordedura, lambida em feridas abertas, mucosas ou arranhões. Outros casos de transmissão registrados são a via inalatória, pela placenta e aleitamento.

Como ocorre o controle dos javalis?

Para aqueles produtores que tem o aval para a prática da caça e do abate de controle, há algumas dicas e jeitos principais de se capturar os javalis. Estes informes foram publicados pelo Ibama no “Volume IV” da sua série sobre espécies invasoras.

– Armadilhas com ceva (comida com que se engordam animais): os javalis selvagens são atraídos para um cercado ou brete, utilizando-se alimento como isca. Normalmente a circulação e o acesso dos animais é liberado por um certo período até que estes passem a visitar o local em maior número e com maior freqüência. Numa data específica, normalmente em noite de lua cheia quando a luminosidade é maior, a armadilha é acionada.

– Armadilha com porca no cio: em local afastado é montado um cercado onde é mantida uma porca doméstica induzida ao cio. A única via de acesso permite a entrada do javali asselvajado, mas não a sua saída.

– Caça com binóculo: o caçador, normalmente a cavalo, percorre as regiões mais elevadas, tentando avistar os animais a distância, com o auxílio de um binóculo. Algumas cevas podem ser espalhadas em pontos estratégicos e monitoradas à distância.

– Apostaderos: uma plataforma suspensa ou torre é montada em um local próximo a uma ceva. Quando o javali asselvajado se habitua a freqüentar o local, é montada uma tocaia, normalmente em noite de lua cheia, para que o animal seja abatido”.

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