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Agrisus: financiando a sustentabilidade / fertilidade do solo, um fator sustentável

A PESQUISA SEMPRE FOI UMA DAS PRIORIDADES DE FERNANDO PENTEADO CARDOSO, IDEALIZADOR, FUNDADOR E PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO AGRISUS, ENTIDADE QUE EM 2011 COMPLETA DEZ ANOS DE EXISTÊNCIA.

FERNANDO CARDOSO: “FUNDEI A AGRISUS PORQUE QUERIA COMPENSAR A AGRICULTURA PELO MUITO QUE ELA ME DEU”.

Em 2011, a Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável comemora uma década de incentivo à pesquisa agronômica e a extensão rural, com o objetivo fomentar tecnologias para otimizar a fertilidade da terra de maneira sustentável e favorável ao meio ambiente.

Fernando Penteado Cardoso não é um cidadão que tem apenas uma grande história sobre agronomia para contar. Ele faz parte dela. Nascido em 1914, em São Paulo, o agrônomo e empresário cresceu e vive na agricultura, da agricultura e pela agricultura, tendo seus primeiros contatos com esse meio na fazenda de sua família, em Descalvado – no interior do Estado. Isso tudo significa o acompanhamento e dedicação por aquilo que ele próprio define como uma ‘paixão’ há quase um século. Além de ter sido fundador e presidente da Manah S/A, empresa de fertilizantes e pecuária de corte, ‘doutor Fernando’, exerceu ao longo de sua trajetória diversas atividades profissionais, de classes, públicas, internacionais e sociais. Por esses trabalhos, tem sido agraciado desde 1936, até hoje, com várias condecorações, prêmios, medalhas, diplomas, comendas e destaques das mais diversas entidades do setor.

Fernando Cardoso conta que em 2000, com a venda da Manah a uma multinacional, surgiu dentro dele uma ânsia de continuar a fazer algo pela agricultura, que, até então já havia lhe proporcionado “razoável sucesso comercial e uma gratificante carreira profissional”. E foi desse desejo que em abril de 2001 surgiu a Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável, única entidade privada e sem fins lucrativos no País dedicada ao financiamento, com fundos particulares, de projetos de ensino, pesquisa, desenvolvimento e divulgação de novas tecnologias relacionados à conservação, melhoramento e fertilidade do solo.

“A Agrisus nasceu com controle familiar e convênio com a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) e foi instituída para dar continuidade ao ideal de pesquisas agrícolas realizados até então pela Manah. De 2001 a 2010, foram recebemos 768 pedidos de financiamentos, dos quais 392 foram aprovados, porque se adequaram às finalidades da entidade e apresentaram evidência satisfatória de viabilidade”, resume Cardoso. Nesse fomento à educação, os projetos que são enviados à Agrisus se enquadram em três categorias: Educação Individual, Educação Coletiva e Embasamento de Educação (ver quadro Balanço dos Projetos).

De acordo com o idealizador, a Agrisus tem seu estatuto voltado ao solo e a fertilidade e é uma entidade séria e limitada a ações voltadas exclusivamente a essas áreas. “Muito do espírito da empresa foi levado à fundação, a amizade, seriedade e confiança no País. Isso se traduz em credibilidade. O importante também é a maneira como a conduzimos. Não brincamos em serviço. Acreditamos e apostamos no Brasil e em gente que trabalha”, explica.

Sustentabilidade e pesquisas

Quando a palavra é sustentabilidade, Cardoso diz que apenas gosta de usar o termo na definição literal do dicionário: Aquilo que sustenta, perpetua. Isso porque, no início de sua trajetória, esse termo não era nem usado. Desde o tempo de menino, frequentava a fazenda de seus avós e ouvia a existência da preocupação de não deixar a terra ‘cansada’. Ele conta que por volta de os sete anos de idade, por meio das conversas dos administradores da propriedade com seus tios e pais, começou a ser formada nele essa conscientização que nunca passou. “Na escola, quando aluno, já traduzia e divulgava coisas que eram feitas em outros países sempre voltados a conservação do solo. Isso não deixa de ser um fator de sustentabilidade, pois a terra fértil é um fator básico para a agricultura sustentável”.

Um dos fatos mais marcantes na vida de Fernando aconteceria em 1929, aos 15 anos de idade, quando voltava no mês de janeiro de férias de Campos do Jordão, em São Paulo. “Choveu muito naquele mês e lembro que quando chegamos a São Paulo, capital, meu pai, Odon Lima Cardoso, levou meus irmãos e eu para vermos a várzea do Rio Tietê. Havia se formado um mar por conta da enchente e eu começava a imaginar o que teria ocorrido lá na fazenda. Meses depois, em julho, fomos para lá e encontramos voçorocas que antes ali não existiam, uma buraqueira, uma erosão terrível e isso foi um baque tremendo. Essas imagens se eternizaram em minha lembrança”, conta.

Logo a diante, durante o curso de agronomia – na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz -, e um pouco mais tarde no exercício de sua profissão, ele sempre permaneceu com a convicção de que o solo precisa ser bem preservado. Acompanhava muito o problema nos Estados Unidos e os trabalhos de Hugh Bennet, considerado o pai da conservação do solo a nível mundial. “Predominava-se a ideia da manutenção do solo através de meios mecânicos, mas esse sistema nunca me satisfez, sempre notei fracasso nesses meios. Na década de 1980, estive no Rio Grande do Sul e conheci ali uma novidade, a proteção da terra pelo mato – o plantio direto. Quando descobrimos com os fundadores desse projeto os benefícios que ele traz à agricultura, foi um sentimento único. A partir daí colocamos a equipe da Manah para despertar nos clientes essa preocupação”, ressalta Fernando.

Era ordem da diretoria que quando os funcionários fossem visitar algum cliente perguntassem se ele fazia ou já tinha ouvido falar de plantio direto. Para ele, o importante era apresentar o conceito para que os agricultores fossem atrás de especialistas. “A intenção não era ensinar, era jogar essa ‘semente’. Naquela altura, a Manah contava com cerca de três mil representantes no Brasil todo e, veja, esses profissionais, nos seus contatos ajudaram os agricultores a despertar o interesse para o plantio direto. Trata-se de uma boa contribuição no fomento do sistema. E eu, dentro de minhas possibilidades, me dedicava a isso e com a Manah sempre financiando pesquisas agronômicas, inclusive nessa área”.

É por esses e outros fatos que a própria história da Agrisus vai além de seus dez anos de fundação. “Temos uma experiência notável em financiamento de estudos. Desde 1953, com um voltado a movimentação dos íons no solo, pesquisa muito bem conduzida que é motivo de orgulho até hoje. Na época, a Manah tinha apenas seis anos. Já tínhamos financiado outras coisas anteriormente, mas de menor porte. E assim outros projetos a vida toda. Essa nossa contribuição não podia parar, por isso se estendeu financiando a pesquisa agrícola através da fundação. Essa é a origem da associação”.

Na sua vida profissional, são 75 anos de agronomia, o maior evento que ele diz ter tomado parte foi realmente a adaptação do plantio direto. “Também pude presenciar outra grande mudança, o Brasil perdeu sua cisma por terra fraca e conseguiu, com sucesso espetacular, produzir no Cerrado. Em 1995, a Manah convidou o cientista Norman Borlaugh – considerado o ‘pai’ da Revolução Verde – a vir ao País e ele disse que a transformação de terras fracas em solos férteis na região poderia ser considerado o maior acontecimento mundial na história da agricultura do século 20. Nove anos mais tarde, em 2004, tive a alegria de Borlaugh voltar ao Brasil e a Agrisus se encarregou de organizar tudo para o especialista, que reafirmou que o progresso nacional é realmente fantástico. Foi gratificante”, comemora.

Futuro

O próximo evento, que Fernando Cardoso considera revolucionário diz respeito às novas variedades de plantas, obtidas a partir de Organismos Geneticamente Modificados (OGM). “É outra novidade fantástica! Onde vai parar isso? Não sei. Apesar de já termos resultados em muitas culturas, essa ainda é uma descoberta que está em seu início. Talvez seja algo que não irei presenciar”, brinca.

Em relação à Agrisus, ele destaca que em março deste ano a entidade deu um novo passo, com a eleição de um novo Conselho de Curadores que está muito próximo ao da Fealq, permitindo uma maior proximidade entre as duas fundações. “Os conselheiros são pessoas inspiradas no empreendedorismo e no idealismo de Luiz de Queiroz e trabalham no mesmo espírito da escola que leva seu nome”, pontua o agrônomo. A partir do convênio, cabe à Fealq todo o controle operacional dos projetos por ela analisados e aprovados pela Agrisus. “Estamos entusiasmados. Era chegada a hora de injetarmos sangue novo, mas sem prejuízo de nossa visão e missão. A terra nos é emprestada das gerações futuras, daqueles que irão nos suceder. Portanto, temos de entregá-la em boas condições”, finaliza Cardoso, com a convicção de quem vibra com a produção e ama a agronomia.

BALANÇO DOS PROJETOS DE 2001 A 2010:

Concluídos Andamento Total
Educação Individual
Bolsas e Auxílios 119 8 127
Educação Coletiva
Eventos Técnicos 104 104
Curso e Treinamentos 28 9 37
Livros e Bibliotecas 8 1 9
Embasamento da Educação
Pesquisa Agronômica 74 31 105
Pesquesa do Estado da Arte 9 1 10
TOTAL 342 50 392

Educação Coletiva
0
0
0
Eventos Técnicos
104
0
104
Cursos e Treinamentos
28
9
37
Livros e Bibliotecas
8
1
9
Embasamento da Educação
0
0
0
Pesquisa Agronômica
74
31
105
Pesquisa do Estado da Arte
9
1
10
Total
342
50
392

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