Pecuária

Bezerras: manejo de bezerras

Parceria entre produtores e entidades públicas beneficia várias famílias do município de Guarujá do Sul, em Santa Catarina. Juntos, eles conseguiram melhor a produção leiteira com o foco no manejo de terneiras.

Os produtores de leite do município de Guarujá do Sul, distante a 735 quilômetros de Florianópolis (SC), alcançam mensalmente entre cinco a seis mil litros (em uma quantidade que antes não saia dos três e que variava muito entre os produtores). E estamos falando de pequenas propriedades rurais, que chegam em média a 10 hectares e que tem mantém aproximadamente entre 15 a 25 animais. Em geral, essas famílias não empregam mão de obra e a média de idade de cada produtor chega aos 51 anos.

Lá, a atividade leiteira não é a principal, já que muitos dividem suas terras com a plantação de milho e fumo. Porém, o que para muitos é sinal de pouco, para outros é sinônimo de bons resultados e de uma verdadeira revolução. Graças à junção dos pequenos produtores do município, da Secretaria Municipal da Agricultura e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri/SC), um projeto se tornou uma das referências na criação de bezerras no Sul, chamado de “Centro de Criação de Terneiras de Guarujá do Sul”, tendo com um dos focos principais: o aprimoramento no manejo das terneiras. A ideia era que o local funcionasse como uma creche para bezerras daqueles produtores.

Uma das primeiras famílias a participar e a ceder a propriedade para a implantação do projeto foi a de Lúcio Debortoli. A partir da cooperação dele e de sua família, coordenado pelo filho Vanderlei Debortoli, foi composta uma associação e definidas as normas para a participação de outros produtores.

Segundo um dos responsáveis pelo projeto, Jonas Marcelo Ramon, engenheiro agrônomo e técnico da Epagri/SC, os produtores daquela região ganhariam a oportunidade de investirem melhor nas suas criações, produzindo mais e aproveitando melhor cada área da propriedade. “O objetivo do centro (até hoje) é criar novilhas de qualidade, que tenham idade ao primeiro parto de menos de 24 meses e com estrutura adequada, além de especializar uma propriedade em criação de terneiras, para aqueles produtores que não têm tempo, mão de obra ou área disponível para criá-las”, diz. “Após ter analisado que mesmo com mais de 20 anos de inseminação artificial com sêmen de touros provados, percebeu-se a baixa evolução dos animais. Como depende de genética, alimentação e manejo; focamos nosso trabalho na alimentação e no manejo. No Centro de Criação, os bovinocultores de leite pagam R$ 95, 00 por mês, para que seja bem cuidada a futura vaca que voltará à propriedade”, conta o engenheiro agrônomo e técnico da Epagri.

No Centro de Criação, o sistema funciona assim: logo que chegam as terneiras são pesadas e medidas, medicadas se necessário. Elas vão para os piquetes individuais com acesso a água à vontade, ração na medida adequada, feno e pastagem. “Recebem em torno de quatro litros de leite por dia, até serem desmamadas entre 45 a 60 dias de vida, quando consumem um quilo de ração por dia, durante três dias consecutivos”, explica.

Lá, elas permanecem nos piquetes por aproximadamente três meses, até que vão para lotes coletivos onde além de ter acesso direto aos piquetes de pastagem, recebem suplementação com ração, feno, silagem e sal mineral. As terneiras criadas ao ar livre tornam-se rústicas, já que são acostumadas as intempéries e a pastagem, não tendo problemas de adaptação nas propriedades. “Em sistemas confinados, os animais ficam mais suscetíveis a doenças e menos resistentes ao manejo a base de pasto”, frisa.

O sistema de criação já vem sendo desenvolvido em Guarujá do Sul há quatro anos, nas propriedades de forma individual. Além de conduzir melhor a criação, ele abriu novas possibilidades para os produtores, uma vez que a venda de novilhas se constitui com uma ótima fonte de renda. Existem ainda produtores que tem novilhas que pariram e produziram na primeira cria 24 litros de leite por dia.

A capacitação do produtor

Como resultado, o centro conseguiu elevar a pecuária leiteira e servir de exemplo às demais famílias situadas no município, promovendo assim o sucesso da criação. Caso como o do produtor Vilson Tizotti. Ele foi um dos que há 11 meses ingressou no projeto. Em sua propriedade hoje existem 50 animais, sendo 18 em lactação. “No começo, comprei um pouco mais de novilhas e de lá pra cá a gente foi se ‘ajeitando’ e descartando vacas que não eram mais produtivas”, lembra.

Hoje, ele consegue alcançar índices de muitos outros produtores, o que pelo menos era bem diferente quando atingia apenas dois mil litros. O fator determinante, segundo o produtor, para esses números foram com certeza mudanças no manejo. “Mudamos o modo de criá-las. Antes tudo era a Deus dará”, ri o produtor. “Se tinha ração, tinha. Se tinha feno, tinha. Elas não eram tratadas como hoje. Agora, estamos no caminho certo”, argumenta.

Nos seus 17 hectares, o produtor tem pastagem perene piqueteada, com animais jersolando (meio sangue holandês com Jersey). Houve também grandes melhorias na propriedade, graças a um curso que o produtor começou a fazer. Na propriedade dos Tizottis está tudo organizado e acompanhado de perto, com uma tabela que está inserida todos os dados de cada animal.

Juntos, os produtores passam por uma capacitação que enfatiza a importância dos cuidados com a vaca seca, cuidados no pré-parto, cuidados no recém nascido, importância do colostro e os cuidados com o umbigo. As terneiras só vão para o centro com aproximadamente 15 dias. Além disso, eles se dedicam à criação exclusiva das novilhas, deixando o trabalho do cuidado com as terneiras com o pessoal treinado do Centro. “O desempenho das novilhas é excelente, faz-se o que é tecnicamente recomendado, pois tem uma pessoa específica para isso, além de acompanhamento técnico, veterinário e agronômico”, explica o engenheiro.

Atualmente, no centro tem 31 animais de oito produtores, mas ele tem capacidade para 80 animais. “O custo é mínimo para os produtores. Na propriedade, cada novilha custa em torno de R$ 1.425,00. Porém, elas saem do centro de criação com 15 a 16 meses com prenhez confirmada, retornando ao dono ou podendo ser vendida pelo mesmo. Sendo que a novilha parirá com menos de 24 meses, já ganha-se uma lactação, pois a média de idade ao primeiro parto é de 36 meses. Além de poder colocar mais vacas em lactação nas propriedades, já que há disponibilidade de lugar das novilhas, sem contar a liberação de mão de obra”.

Abrindo novos caminhos

Outro produtor que faz parte do projeto é o Sr. Carlos Possatto. Atualmente, na sua propriedade são 12 novilhas e três lá no centro. Hoje, ele recorda como estava acostumado a fazer a lida da sua criação. “Elas eram criadas amarradas, debaixo de um galpão e por isso aqui tinham altos índices de morte, por causa das doenças”, relembra Possatto, que além de produtor é também presidente da associação do Centro. “Em muitos casos, não recebiam ração ou feno, pois não eram vistas como futuras vacas que garantiriam a renda da propriedade”, acrescenta o engenheiro. “Além disso, na região era muito difícil encontrar terneiras para comprar. Hoje, esse negócio tornou-se lucro. A venda das novilhas passou as ser fonte de renda extra, aliada a venda do leite”, enfatiza Possatto.

Totalizam hoje 22 propriedades que estão participando do projeto. O leite tem sido rentável, resultado de boa qualidade e de melhoramento genético, rotação de piquete e melhoramento no manejo. Com os cuidados logo após o nascimento, as vacas produzem mais do que as mães, levando em conta os principais pilares da criação leiteira. Os produtores também descobriram que os primeiros meses são fundamentais para o futuro das vacas e que animais mais rústicos são mais saudáveis e adaptáveis ao ambiente que vive. “Muitos produtores tem medo de inovar e a gente inovou aqui”, conta o produtor Carlos Possato.

Além deste empurrão aos pequenos produtores, para incentivá-los ainda mais anualmente a associação promove um campeonato da “Melhor Novilha”. “Foi uma forma que encontramos para estimular ainda mais o produtor”, acentua o engenheiro.

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