Pecuária

Vacine bem: e garanta a saúde de seu rebanho

Atrelado aos manejos nutricionais e reprodutivos da criação, o manejo sanitário torna-se uma ferramenta essencial à condução de uma pecuária satisfatória tanto quando o assunto é a produção de carne como leite. Nesse aspecto, as vacinações – sejam as obrigatórias como as de controle e prevenção de doenças – se destacam na área da sanidade animal.

Uma produção de animais livres de enfermidades e que vendam saúde é o que o mercado pede, e para isso, o manejo pode ser simples, se feito da melhor forma possível, respeitando as necessidades da própria fazenda. “Ao se pensar na vacinação, por exemplo, o produtor tem de saber qual a real necessidade da propriedade, a princípio. Ter em mãos o calendário de vacinação a ser seguido, o qual define o que deve ser feito e qual a melhor época para isso”, pondera o médico veterinário e especialista em reprodução animal, Mauro Meneghetti, gerente de produtos da linha reprodutiva e de biológicos da Pfizer.

Para uma condução vacinal adequada, ele dá um passo a passo de como deve ser o procedimento de imunização do rebanho, o que garantirá o melhor aproveitamento da medicação sem efeitos colaterais, especialmente no bolso do produtor.

Aquisição e conservação

Com um planejamento de vacinação em mãos, o qual deve contemplar quais vacinas serão aplicadas e quando, que animais que deverão ser imunizados, entre outros aspectos de manejo para que isso ocorra num ambiente apropriado e com o uso de boas práticas agropecuárias para não estressar os animais, é chegado o momento de escolha das opções de vacinas que estão dispostas no mercado, que atendam à necessidade do programa e que sejam de empresas idôneas que garantam a qualidade do medicamento.

Tendo feito essa pesquisa e já com as escolhas definidas, o próximo passo é cuidar do estado de conservação das vacinas. “O ideal é mantê-las numa temperatura entre 2°C a 8°C, que pode ser feito numa caixa térmica com gelo, no ato do transporte, e pode ser conservada numa geladeira com temperatura controlada”, aconselha Meneghetti.

É importante que o produtor tome muito cuidado nesse processo de conservação, mantendo a faixa de temperatura, e principalmente, não permitindo que o conteúdo congele, o que pode ocorrer se a geladeira estiver mal regulada, ou se a ampola ou o frasco ficar diretamente em contato com o gelo na caixa térmica. “Muitos acreditam que ao descongelar, a vacina já pode ser utilizada, o que é errado. Caso isso ocorra, o material tem de ser descartado”, alerta.

Desde que bem acondicionadas e mantidas na temperatura adequada, as vacinas, de maneira geral, poderão ficar estocadas, isso, dentro do prazo de validade estabelecido pelo fabricante.

O ambiente da vacinação

A estrutura física da área do tronco e bretes da fazenda devem estar em condições adequadas para a movimentação e contenção dos animais. Não importa se o local é muito simples ou bem equipado, o ideal, de acordo com Meneghetti, é que esse trabalho seja conduzido de forma muito tranquila, com menos barulho possível para influir em menos estresse nos animais e é o que facilitará mais o desenvolvimento da vacinação dos lotes.

Contenção e aplicação

Na hora da aplicação, a condução dos lotes pelo tronco deve objetivar pouca movimentação para assim tornar mais fácil a ação de contenção e imobilização do animal. Presa no brete com pescoceira, a rês será melhor imobilizada, deixando em evidência a região ideal para a aplicação da vacina: a tábua do pescoço, ou a lateral do pescoço do boi.

Indica-se essa região de aplicação para não afetar regiões de carnes nobres. Segundo Meneghetti, antes se aplicava no traseiro do animal, e na maioria dos casos, havia reações da vacina no local, o que, consequentemente, na hora do abate, o corte seria certamente descartado.

Para os diversos fins de vacinação, há duas formas básicas de se aplicar no animal, e isso, dependerá da recomendação de cada medicamento e de como ele agirá no organismo do ruminante. São as aplicações subcutâneas ou as intramusculares. A primeira tem de ser feita paralelamente ao pescoço, e o aplicador tem de puxar o couro dessa região para então introduzir a agulha. “Já numa aplicação intramuscular, a agulha tem de penetrar perpendicularmente ao pescoço, para assegurar maior profundidade da aplicação”.

Agulhas

Para cada tipo de aplicação, um tipo de agulha é mais adequado. As intramusculares, como exigem um alcance mais profundo, necessitam então de agulhas maiores, assim como é necessário este tipo de agulha, quanto maior for o grau de viscosidade da vacina. “As de febre aftosa, por exemplo, são vacinas oleosas de aplicação subcutânea, por isso recomenda-se o uso de agulhas de 1 a 1,5 centímetro (cm) de comprimento, com um calibre de 15 a 18. Já para as intramusculares, há opções que vão de 2 cm, 3 cm, até 4 cm de comprimento, com um calibre de 15”, explica Meneghetti.

Durante a aplicação nos lotes é importante que o pecuarista faça uma certa rotação entres as agulhas que estiver utilizando – o processo se guiará a partir de ‘uso-esterilização-uso-esterilização’. A ideia é fazer a aplicação de dez em dez animais. A cada lote de dez, a agulha é substituída por outra já esterilizada e pronta para o uso. A que foi retirada deve ser imediatamente esterilizada. E assim deve seguir esse processo até o término da aplicação.

A esterilização é bem simples, basta um fogareiro e um recipiente de metal com água limpa para desinfetar as agulhas. Em 15 minutos em água fervente, ela já está pronta novamente para o uso. De acordo com Meneghetti, esse procedimento evita que haja contaminação da agulha por impurezas do ambiente e que poderiam ser introduzidas no organismo do animal.
É válido lembrar também que as agulhas têm um tempo de vida útil, e devem ser descartadas quando excederem o prazo de validade estipulado pelo fabricante, ou mesmo se apresentarem defeitos como perda de corte e deformação em caso dela chegar a se entortar.

Higiene e descarte

Com o término do processo, recomenda-se a liberação dos animais, que devem ser conduzidos calmamente ao devido lugar deles, objetivando sempre o manejo de menor estresse.

Tudo o que foi utilizado deve esterilizado, limpo, seco e bem acondicionado para a próxima utilização. No caso das seringas reutilizáveis e pistolas, elas devem ser desmontadas e lavadas em água corrente com detergente neutro. As peças de metal, bem como as agulhas utilizadas e ainda não esterilizadas, devem ser fervidas em água limpa durante 15 minutos para matar os microrganismos que possam estar presentes nesses materiais.

Quando tudo estiver limpo, esterilizado e seco, é recomendável guardar todos os itens em ambiente igualmente limpo e seco. No caso das pistolas, elas devem ser novamente montadas e usa-se lubrificá-las com vaselina líquida para mantê-las em bom um estado de uso.

Ampolas usadas parcialmente e mesmo as formulações diluídas de vacinas que não foram utilizadas por completo devem ser descartadas e incineradas, assim como os frascos vazios. “Isso fará com que qualquer conteúdo biológico seja eliminado, sem riscos de contaminação do ambiente”, conclui Meneghetti.

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