Agricultura

Soja: “os números da colheita”

Na região sudoeste de Goiás as colheitadeiras já estão na roça. Os grãos plantados, no final de setembro de 2009, chegaram esse ano a ponto de colheita um pouco mais cedo. No município de Jataí, por exemplo, a colheita deve durar até a metade de fevereiro. A mesma situação é vista nos campos de Nova Mutum, em Mato Grosso.

Desde a semana do Natal, quando as primeiras lavouras de soja super precoce foram colhidas no Estado, as máquinas passaram por 1,5% dos pouco mais de seis milhões de hectares cultivados em Mato Grosso, neste ano. As regiões oeste e médio-norte, onde ficam localizados municípios, como Nova Mutum (com participação de 40,2% de área do plantio da safra de soja 2009/2010), que normalmente dão o pontapé inicial dos trabalhos de campo, cerca de 8% da safra de soja – o equivalente a 42 mil hectares – já foram colhidos até agora, segundo dados do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea).

Enquanto aguardam o término da colheita, os agricultores estão atentos às cotações dos preços nos principais mercados do País. Segundo dados do Imea, até o dia 22 de janeiro, o mercado internacional de soja continuava apresentando quedas sequenciais, levando junto os preços da oleaginosa. O mercado de soja, em Mato Grosso, já acumulava 15% de desvalorização mensal nas 13 cidades acompanhadas pelo Imea. Em Rondonópolis (polo industrial do setor), a saca de 60 quilos (kg) fechou a semana cotada a R$ 30,70, sendo que há um ano, quem vendesse o produto na cidade receberia R$ 12,30 a mais que este valor. Ao mesmo tempo em que os preços despencam, aumenta a quantidade de grãos saindo dos campos: o Estado já ultrapassou 395 mil hectares colhidos, visto que desde o dia 15 de janeiro o clima tem possibilitado a retomada do ritmo da colheita.

Se por um lado, o agricultor aguarda o fechamento das contas e especulações do mercado, a indústria de defensivos agrícolas no Brasil trabalha com um cenário de recuperação do setor em 2010, sob o quadro de cautela para o agricultor. A afirmação é de João Sereno Lammel, que acaba de assumir a presidência do Conselho Diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). O dirigente da entidade destaca a importante contribuição dos preços de defensivos agrícolas. “Os números confirmam uma queda generalizada nos preços destes produtos, favorecendo a relação de troca do agricultor”, esclarece Lammel, em nota divulgada à imprensa.

Queda dos preços a favor

Um levantamento realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, mostra que os principais defensivos agrícolas comercializados, em sua maioria, 86,6%, apresentaram decréscimo nos preços correntes em outubro de 2009, quando comparado com agosto de 2009. O estudo contou com apoio da Andef e do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtores para Defesa Agrícola (Sindag), que reúne as indústrias do setor.

De um total de 134 produtos pesquisados, 116 registraram queda nos preços – 17 tiveram aumento e 1 produto ficou estável. Para o diretor da Andef, a relação de troca é o quociente entre o preço pago pelo agricultor, pela chamada cesta de defensivos e o preço recebido pela cultura. Portanto, quanto menor essa relação, maior será o poder de compra do produtor. De acordo com os dados da entidade, as cestas de defensivos, em outubro de 2009, registraram decréscimo nos preços correntes (entre 0,3% e 18,9%), em relação a outubro de 2008. Houve quedas de preços de produtos para culturas importantes, exemplos da soja, que retraíram 6,3%; do milho, -9,3%; e da laranja -17,5%.

Dados das vendas em 2009

As estimativas divulgadas pelo Sindag sobre o mercado de defensivos agrícolas, em 2009 (cujos números ainda não estão consolidados), indicam que as projeções de vendas estiveram em torno de 12,8 milhões, ou seja, uma variação porcentual próxima de 1% em relação a 2008. Quanto às classes dos produtos, o Sindag estima que os herbicidas tenham liderado as vendas, em torno de 40%, seguido de fungicidas, com 27%, e inseticidas, com 29%.

A principal cultura no mercado de defensivos agrícolas foi a da soja. Em seguida, ficou a cana-de-açúcar, que apresentou incremento em relação a 2008, passando do terceiro para o segundo lugar; o milho recuou como a terceira cultura na utilização da tecnologia fitossanitária. Porém, a soja segue na liderança com justifica. “O que atualmente ocorre no País são grandes períodos chuvosos, o que faz o agricultor gastar mais para manter a sua produtividade. As condições hoje são propícias à maior incidência de doenças fúngicas, como a ferrugem asiática. Com isso, o produtor realiza mais aplicações de defensivos para não ter perdas”, avalia José Annes, agrônomo, produtor e gerente técnico de educação e treinamento da Andef.

O combate à ferrugem asiática e o aparecimento de novas doenças, como nematóides, manchas foliares, mancha olho-de-rã, requeira, oídio e cancro da haste, dentre outras, levaram os agricultores a aumentar o investimento para o controle da doença; com isso, os fungicidas apresentaram o crescimento estimado em 17%, em relação ao ano anterior. “Sem tecnologias, não há produtividade”, ressalta ele. “Em contrapartida, não deixa de ser custo para o produtor, porém, ele está mais consciente das ações que precisam ser realizadas para manter a produtividade”, pontua.

Com relação aos herbicidas, houve uma queda nas vendas. “Motivados pela variação cambial, queda acentuada nos preços dos produtos à base de glifosato e também queda de preços de muitos defensivos”, esclarece o gerente de informação do Sindag, Ivan Sampaio.

O sindicato estima que a redução situe-se em torno de 40%, em relação a 2008. Com isso, a relação de troca seguiu a tendência de queda verificada em safras anteriores. De acordo com Sampaio, a estimativa, de modo geral, é que o mercado manteve-se nos mesmos níveis de 2008, em reais, com pequeno aumento no volume de vendas, favorecida pela queda de preços, predominando os Estados de Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e Goiás. Em dólares, a estimativa é de que tenha havido queda de 8%, retraindo de 7,1 bilhões, em 2008, para cerca de 6,5 bilhões, em 2009.

O que espera o produtor

Segundo o diretor da Andef, João Lammel, o grão registrará um aumento mundial dos estoques com elevação da colheita em dois dos grandes países produtores, juntamente com o Brasil. “Nos Estados Unidos, a safra de 2009/2010, apesar dos problemas climáticos, será maior que a do ano anterior; igualmente na Argentina deverá haver aumento de produção na safra 2009/2010 em relação à de 2008/2009, quando houve grandes perdas devido a uma prolongada estiagem, ou seja, o aumento mundial dos estoques pode implicar a contenção dos preços pagos ao produtor. Portanto, mesmo com o aumento do Valor Bruto da Produção (VBP), não significa, necessariamente, que haverá aumento da renda líquida do agricultor”, argumenta. E se a preocupação dos agricultores foi com relação aos preços dos insumos. O presidente da Andef defende preços de defensivos favoráveis ao agricultor.

Já na opinião do gerente técnico da Andef, José Annes, os defensivos nos últimos cinco anos tiveram uma queda de 33%, de acordo com o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). “Entretanto, o que ocorreu nos últimos anos é que outros insumos tiveram um aumento significativo, como o adubo”, conclui Annes. Como produtor, ele avalia que hoje o agricultor está operando num limite para obter lucro.

Demais entidades

A direção da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) avalia que é ainda um pouco cedo para falar do fechamento do ano, sobretudo, da soja. Já a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), que congrega as associações estaduais de produtores de sementes e entidades representantes de todo o setor de sementes do País, não tem dados oficiais. Os números só serão obtidos no mês de maio, quando divulgam junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

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