Agricultura

Balanço: Cana – 2009 Açucarado

Com a diminuição oferta do açúcar indiano no mercado, Brasil passa a exportar o produto, elevando preço de etanol no mercado interno trazendo bons resultados às usinas nacionais.

O setor sucroalcooleiro já está entre os mais importantes do agronegócio brasileiro com crescimento contínuo em busca de suprir a demanda interna e externa por etanol e açúcar e, apesar de sofrer com as constantes chuvas do segundo semestre – fazendo com que a safra ainda esteja sendo colhida, o ano pode ser considerado muito bom para o setor. O diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Pádua, resume o que pode ser dito sobre 2009.

O diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Pádua, resume o que pode ser dito sobre 2009. “Foi um ano complicado para a produção porque a chuva atrapalhou muito. Colhemos de 7 a 8% a mais que a safra passada, mas teremos a mesma quantidade de produto no final, já que a sacarose contida na planta se manteve. O que se mostrou positivo para o setor foi a alta do preço dos produtos relacionados, tanto no mercado externo como interno, trazendo bons ganhos para o setor”.

O gestor de riscos da Archer Consulting, Arnaldo Luiz, classifica o ano como de recuperação do setor, já que antes se trabalhava com ganhos muito baixos e até prejuízos. “Foi muito bom para o setor, atingindo um resultado operacional excelente, que poderia ser melhor se não fossem as chuvas. Foi uma safra de retomada para a cadeia sucroalcooleira”, conclui.

A produção total de cana moída pelas usinas no ano passado foi de 612,21 milhões de toneladas (t), segundo dados da Conab, um recorde nacional com cerca de 7% a mais que a safra 2008/09, quando foram esmagadas 569 milhões de t. Já a produtividade média aumentou 0,4% em comparação à anterior, e agora é de 81.293 quilos por hectare. Segundo a Unica, alguns grupos estão planejando continuar moendo cana durante o período de entressafra ou estão planejando antecipar o início da safra 2010/11.

Muita água

O excesso de chuva comprometeu a quantidade de produtos obtidos por tonelada de cana esmagada, que na segunda quinzena de novembro foi de 125,01 quilos de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), 9,17% inferior aos 137,64 quilos, apurados na segunda quinzena de novembro de 2008. Efetivamente, a planta se desenvolve com as chuvas, atingindo tamanho maior, mas mantendo a mesma quantidade de açúcares disponíveis, tornando o volume colhido maior, mas a mesma quantidade de ATR. Com isso, apesar da moagem acumulada apresentar um crescimento de 7%, registrou-se queda na concentração de ATR, o que fez com que o volume disponível para a produção de açúcar e etanol ficasse 1% abaixo em relação ao mesmo período da safra anterior.

Etanol

Do total de cana esmagada na última safra, cerca de 54% (336,2 mil t) se destinaram à produção de 25,8 milhões de litros de etanol, representando redução de cerca de 7% em comparação a 2008. Deste volume, 18,2 bilhões de litros são do tipo hidratado (conhecido como álcool comum em postos de combustíveis) e 7,6 milhões do anidro (etanol que integra os 25% da gasolina). Em novembro foram vendidos 1,39 bilhão de litros, contra 1,55 bilhão no mês de outubro de 2009, uma queda de 10,32%. Essa redução é reflexo do aumento do preço do etanol hidratado na bomba, principalmente em estados distantes dos pólos produtores de cana-de-açúcar, fruto das dificuldades na colheita da cana, da aproximação do período de entressafra e, principalmente, da forte demanda de açúcar no mercado externo devido a queda de produção na Índia.

Nos últimos dois anos, o país asiático diminuiu drasticamente a produção de cana, que na safra 2006/07 tinha produzido cerca de 32 milhões de toneladas e em 2009 não ultrapassou a marca dos 14,8 milhões. Com isso, as usinas brasileiras passaram a aumentar produção de açúcar para exportar à Índia, diminuindo a oferta por etanol no mercado interno, tornando o preço do combustível muito elevado em comparação à gasolina, especialmente em estados distantes do Centro-Sul do Brasil. Na exportação do álcool, teve redução de cerca de 1,5 bilhão de litros em relação à safra passada, que foi de 4,9 bilhões de litros.

Açúcar

Já o restante da cana moída, cerca de 46% (276 mil t), vai para a produção de 34,6 milhões t de açúcar, cerca de 5 milhões a mais que na safra passada. Cerca de 24 milhões de t de açúcar devem ser exportadas prioritariamente para Índia e Rússia. Na temporada anterior foram 20 milhões t do produto. O consumo interno aproxima-se de 11 milhões t, sendo que 60% por meio de produtos industrializados.

O Grupo São Martinho foi um dos que apostaram na produção de açúcar devido à queda de produção na Índia. “Ao analisarmos a produção na Ásia, passamos a dar prioridade a produção de açúcar para aproveitarmos a alta do preço no mercado internacional. Para 2010, imaginamos que a Índia continuará produzindo abaixo do necessário, tornando o nosso produto essencial e, por isso, vamos elevar em 30% a produção em relação de açúcar”, explica João Carvalho, diretor financeiro da São Martinho. Para ele, 2009 foi um ano muito bom para as usinas, tornando o preço do açúcar atrativo e o do etanol dentro do mínimo. “Antes, vendíamos abaixo do preço de custo, mas com a alta do açúcar e a diminuição de oferta do etanol, conseguimos vender o combustível a preços que trazem boa rentabilidade. Tem gente falando que o etanol está caro nos postos de combustíveis, mas na verdade está no preço correto”, argumenta.

Perspectivas 2010

A expectativa para o próximo ano é de manutenção da alta demanda de açúcar pela Índia, o que manteria o alto preço do etanol no mercado interno e o bom volume captado pelas usinas. O volume a ser esmagado também deverá apresentar alta, apesar de ninguém palpitar a quantidade antecipadamente.

O grande desafio do setor é disseminar o etanol nos demais países, já que no Brasil o combustível já é uma realidade, com mais de 90% dos veículos vendidos com a tecnologia flex-fuel, com motores funcionando a gasolina ou etanol.

Da lavoura às pistas de corrida

Em janeiro o piloto brasileiro Klever Kolberg participou do Rally Dakar com veículo a etanol, buscando divulgar a tecnologia para o mundo. Como o carro ainda está em fase de testes, a meta é apenas completar a prova. “Me incomoda não andar no mesmo ritmo dos outros competidores, mas nesta primeira experiência não estaremos com o foco na competição, mas sim em provar que um veículo de série movido por etanol pode completar a prova sem problemas”, finaliza. O projeto produzido pelo piloto é apoiado por diversos segmentos da área, que investem na divulgação do combustível pelo mundo, como a Unica, Cosan, Basf e Valtra.

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