Negócios

Comércio Brasil x China: os olhos puxados, mas bem abertos

Do outro lado mundo há um contingente de consumidores que sentem a necessidade de alimentar muito bem. Será que o Brasil pode ser o fornecedor para eles? Tudo indica que sim, mas parece que falta força de vontade do produtor ao mercado de exportação. A China é o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro.

Foram US$ 7,3 bilhões que entraram no País, no acumulado de janeiro a agosto deste ano, resultado 15,18% superior em relação ao mesmo período, em 2008, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A crise parece não ter abalado a potência econômica chinesa e, por isso, ela torna-se a maior aliada em nível mundial.

Um país onde vivem cerca de 1,3 bilhões de pessoas, que tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 4,3 trilhões e com uma renda per capita de US$ 6 mil, garante o prestígio de ser o parceiro econômico que todo mundo quer, resta apenas o Brasil (os dados são dos Indicadores de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial, de abril deste ano, com base dos resultados de 2008).

Apesar da totalidade negociada com a China chegar a US$ 16,4 bilhões, em 2008, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a participação brasileira naquele mercado é muito pequena, principalmente na área de alimentos – que é justamente o ponto forte do Brasil. O montante exportado para lá significou apenas 1,35% das importações chinesas em 2008, de acordo com o confronto dos dados do Banco Mundial e da Secex.

E os especialistas afirmam: o chinês quer comer mais e melhor, porque, gradativamente, o poder aquisitivo dele aumenta; e ele está mudando de hábito alimentar, quer consumir mais café, derivados lácteos, comer carne e doces, além de degustar de bom vinho – todos, produtos que poderiam sair do Brasil e cair nas graças da população chinesa, que está disposta a pagar mais caro por um produto de qualidade.

Asas, patas e pés de frango

A introdução nesse mercado exige muito trato e disposição do agricultor ou pecuarista em fazer um produto de qualidade. O exemplo, vem da granja da família Griep, no município de Quatro Pontes (PR). Os 46 mil frangos produzidos nos dois aviários da propriedade somam-se com a produção dos mais de 300 avicultores integrados à Cooperativa Agroindustrial Copagril, em Marechal Rondon (PR), que faz a ponte com o mercado chinês via Hong Kong. Para lá são destinadas às partes nobres do frango para a cultura chinesa – as asas, pés e patas da ave.

A gestão do negócio, proporcionada por esse sistema associativo de produtores, aliado ao trabalho de qualidade na produção de aves de corte, garantiu maior remuneração no final. “A agregação de valor do frango destinado à exportação chega a 40% a mais em relação às vendas no mercado interno”, afirma Ademir Luis Griep, que trabalha na granja juntamente com os pais e mais duas irmãs. “Para nós, o capricho e a manutenção de um padrão de qualidade servem de incentivo para continuar oferecendo esse produto tipo exportação, algo que nem fazíamos ideia quando nos associamos à cooperativa”, declara.

Apesar do frango ser o tipo exportação, a produção de suínos que é o carro-chefe da família Griep, que possui alojamento para 170 matrizes. A produção de milho e soja, em cerca de 25 hectares, fecham a diversidade da produção familiar lá na região.

Espírito exportador

Desde o princípio a Copagril, que faz 40 anos em setembro de 2010, dedica-se à exportação, de acordo com o gerente comercial da empresa, José Aparecido Lima. Além do frango, que corresponde a 35% de todas as atividades, também fazem parte dos negócios da unidade paranaense a produção de suínos, cereais e leite. Ao todo, a cooperativa envolve 4 mil produtores.

O mercado de Hong Kong pode ser considerado o mais recente – com 4 anos e meio. Para lá seguem mensalmente cerca de 700 toneladas da mercadoria, que já é apreciada pelos compradores. “Há dois anos atrás, estive numa viagem a Hong Kong e pude notar como o nosso produto tinha um extremo conceito entre os compradores, que só de ouvir falar o código da nossa empresa, já acenavam como sinal de aprovação sobre a qualidade do nosso frango”, conta Lima. Apreço tamanho que chega a render 12% a mais a tonelada. Além de Hong Kong, os destinos da produção da Copagril são Alemanha, Holanda, Inglaterra, Bélgica, Irlanda e Espanha.

Dedicação ao mercado externo

Hong Kong e Macau, países que estabelecem uma relação bem mais consolidada com a China, são portas de entrada válidas para a entrada da produção do Brasil na porção continental daquele país, mas o ideal mesmo seria a venda direta.

Mas falta empenho por parte dos produtores, e do próprio empresariado brasileiro como um todo, para se dedicar mais à exportação, sobretudo ao mercado chinês, segundo a opinião do presidente executivo da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), Paul Liu. O órgão, localizado em São Paulo (SP), serve como uma ponte tanto para o empresariado brasileiro e como chinês, no sentido de estreitar as relações comerciais entre os dois países.

“A China possui interesses claros com o Brasil, pois ele tem todo o perfil para ser um grande parceiro e aliado estratégico no fornecimento de alimentos, pelo fato da própria extensão territorial dele e pela vocação ao agronegócio”, argumenta Liu. Pela análise do representante da CBCDE, esse interesse com Brasil foi o resultado da abertura econômica chinesa e o empenho daquele governo em melhorar a qualidade de vida e renda da população, o que promoveu o maior consumo de alimentos e, com isso, a mudança dos hábitos alimentares. “Antigamente se dizia que o chinês só tomava chá, hoje esse quadro mudou, ele agora também toma café, whisky, vinho, caipirinha, toma tudo”, diz Liu, bem humorado. É nesse momento que a produção brasileira tem de se fazer presente naquele mercado em franca expansão. Só para se ter uma ideia, em dez anos de relações comerciais entre Brasil e China, de 1998 a 2008, o crescimento girou em mais de 1.300%.

A soja foi a grande responsável por essa guinada, e corresponde atualmente por mais de 41% do montante negociado, em dólares, no período de janeiro a agosto deste ano. O grão encerra a participação significativa dos produtos do agronegócio, que só volta a configurar na sexta posição dos produtos exportados àquele país, com o óleo de soja – este que representou apenas 2,12% sobre o total do valor negociado no mesmo período. Mais abaixo ainda surge o açúcar, com 0,38%, e depois o suco de laranja, com 0,24%.

O fraco desempenho na área de alimentos deixa o Brasil fora de um mercado que está ávido em busca de novidades, produtos de qualidade, e, melhor ainda, que está disposto a pagar por isso. O café e o vinho são exemplos destacados por Liu e que, certamente, têm espaço garantido, restando apenas a iniciativa do produtor brasileiro em conquistar esse cliente.

Vá a China!

Difícil é, mas não é impossível tornar-se um fornecedor potencial daquele gigante asiático. Segundo a consultora, especialista em comércio internacional com ênfase no mercado chinês, e diretora da BG Corporativa Cultural, Suzana Bandeira, o primeiro passo que o produtor deve tomar é justamente viajar até lá e conhecer os hábitos daquele país. A partir daí ele terá uma boa noção do que oferecer, sabendo respeitar as diferenças culturais e estabelecendo um contato mais próximo com esse empresário chinês, que, segundo ela, é uma tarefa essencial.

“Há todo um ritual de aproximação com esse empresário chinês, pois ele não quer saber só da mercadoria e do valor”, destaca Bandeira, “ele quer saber sobre a sua vida, o que você faz, para assim conhecê-lo melhor. O acordo passa ser uma gestação, e quanto mais esse chinês quiser encontrá-lo, em eventos sociais, em almoços, jantares, maiores serão as chances do fechamento do negócio”. Em média pode-se estimar de oito meses a 12 meses para chegar a isso – tempo que englobaria tudo referente à comercialização do produto, como a primeira ida ao país, o trabalho de aproximação, os acertos comerciais vigentes para a entrada da mercadoria naquele país, o comum acordo entre os dois países, entre outros aspectos de legislação e cumprimento das normas sanitárias ou fitossanitárias. “Há negócios que podem durar mais que isso, mas tudo dependerá da força de vontade do empresário brasileiro, pois, não há dúvida, existe espaço para eles sim nesse mercado”, atesta.

Feiras e eventos

Ter força de vontade, um produto inovador e de qualidade, capaz de atrair a atenção do consumidor, e uma boa apresentação pessoal e da própria mercadoria no idioma chinês, o mandarim, são itens que também contribuirão para um ingresso de sucesso naquele mercado. Diante disso, há oportunidades promovidas pelo próprio governo brasileiro que podem ajudar o produtor a assegurar o lugar dele lá na China.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), ligada ao MDIC, possui uma lista farta de eventos e feiras específicas para o agronegócio. Para o mercado chinês, o próximo evento, encabeçado pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), será o Food & Hotel, com previsão de ser realizado em Shanghai dos dias 18 a 20 de novembro deste ano.

Outra estratégia, de autoria do Mapa, é o Programa de Inserção de Cooperativas Brasileiras em Mercados Estratégicos (Edição China), lançado no segundo semestre deste ano. O objetivo, segundo o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo da pasta, Márcio Portocarrero, é preparar essas empresas para atuar naquele mercado. “Detectamos que 47% da produção nacional, em algum momento, passaram por cooperativas, e desse total, apenas 2% chegaram lá fora. Nesse sentido, o projeto irá estreitar as relações do mercado chinês diretamente com as cooperativas brasileiras”, diz Portocarrero.

A atuação do programa foi inicialmente em Hong Kong, e que tinha um caráter mais de prospecção de negócios e aproximação. Catorze cooperativas foram acompanhadas durante 15 dias (de 24 de julho a 6 de agosto) e puderam fazer contato com mais de 150 empresas. A montagem dos estantes bem como a divulgação do evento foi custeada pelo governo federal, que girou num investimento de R$ 240 mil. As passagens e a estadia de cada participante foram por conta própria.

Em novembro deste ano, com data prevista para os os dias 16 a 21, o governo dará continuidade ao programa, agora, mais focado à questão comercial. De acordo com Portocarrero, o Mapa deve montar um escritório em Hong Kong que possa servir de ponte entre o produtor brasileiro e os empresários chineses, tudo para facilitar o acesso dele a esse potente consumidor.

Além do braço do governo, entidades como a CBCDE ou consultorias com a de Suzana Bandeira também garantem um apoio especial àqueles que desejam conquistar o mercado chinês.

O caminho das pedras

Para participar do Programa de Inserção de Cooperativas Brasileiras em Mercados Estratégicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o produtor pode entrar em contato com o Departamento de Cooperativismo e Associativismo (Denacoop).

Telefone: (61) 3218-2461
Sítio de Internet: www.agricultura.gov.br
e-mail: denacoop@agricultura.gov.br

Para saber mais sobre os eventos e feiras da apoiadas pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).
Telefone: (61) 3426-0202
Sítio de Internet: www.apexbrasil.com.br
e-mail: apex@apexbrasil.com.br

Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE)
Telefone: (11) 3082-2636
Sítio de Internet: www.cbcde.org.br
e-mail: pliu@cbcde.org.br

BG Corporativa Cultural
Telefone: (11) 3871-9332
Sítio de Internet: www.bg-corporativa-cultural.com.br
e-mail: bg@bg-corporativa-cultural.com.br

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