Pecuária

Bezerros: sanidade garante boa safra

Até outubro nasce a nova safra de bezerros para o desenvolvimento da pecuária de corte brasileira. A época, que compreende os meses de estiagem (julho a outubro) no País, pode ser caracterizada como medida sanitária, pois influencia em menos agentes causadores de doenças (patógenos) presentes no pasto.

Mesmo com a programação de partos para esse período, o pecuarista precisa adotar medidas eficientes para o tratamento de ecto e endoparasitos (patógenos que podem ser próprios de ambientes externos, os ectoparasitos, como o carrapato, ou que atuam internamente no animal, os endoparasitos, como os vermes).

“As verminoses, ou helmintoses, estão entre as doenças que mais interferem na produtividade dos bovinos, causando perdas diretas em função da mortalidade de animais, bem como perdas indiretas pela queda do desempenho produtivo e custos com o controle no rebanho”, destaca a pesquisadora e especialista em sanidade animal da Embrapa Pantanal (Corumbá/MS), Raquel Soares Juliano.

As pastagens podem expor os animais a infecções por larvas de nematódeos gastrintestinais, como por exemplo, Cooperia, Haemonchus, Ostertagia, Strongyloides, Trichostrongylus e Oesophagostomum, segundo a pesquisadora. No pasto também o rebanho pode ser suscetível a patógenos pulmonares, como Dictyocaulus.

Por esses parasitos terem incidência e distribuição variada de região para região, até mesmo em função de clima e do tipo de manejo e de sistema produtivo da propriedade, a estratégia de controle também deverá ser variada. E dependerá essencialmente de um apoio laboratorial para identificação específica de quais vermes estão incidindo no rebanho e o tratamento adequado para não encarecer a atividade.

As doenças caracterizadas por coccidioses, causadas principalmente por Cryptosporidium spp e Eimeria também devem ter uma atenção especial. De acordo com a pesquisadora, elas se apresentam como um quadro de diarreia levando a desidratação, emagrecimento e morte, se a doença não for tratada adequadamente. “Os bezerros são mais suscetíveis, a gravidade dos sinais e a taxa de mortalidade são maiores nessa categoria de animais e em sistemas de produção intensiva. O aumento da densidade populacional e descuidos com a higiene favorecem a ocorrência das coccidioses principalmente pela contaminação da água e das instalações”, atesta a pesquisadora.

Carrapatos

A influência do carrapato bovino, R. boophilus microplus, sobre a bezerrada pode levar a principal doença transmitida por ele, a tristeza parasitária dos bovinos (TPB), que é causada pelos hematozoários Anaplasma marginale, Babesia bovis e B. bigemina. “A mortalidade de bezerros é alta, porém animais adultos, que não foram expostos ao carrapato e não desenvolveram imunidade prévia aos hematozoários, também podem vir a óbito”, alerta Juliano. Os cuidados têm de ser redobrados para as raças europeias, em função de o parasito ter predileção pelo sabor do sangue europeu, e por isso a ocorrência dele é maior em rebanhos de origem taurina.

O controle do carrapato, segundo dados da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande/MS), pode ser realizado a partir de setembro, no início das chuvas, seguindo o tratamento com mais três vezes com intervalos de 21 dias ou mudando o rebanho para pastagem vedada para tal fim. Devem-se realizar tratamentos eventuais quando o número de carrapatos for maior que 50 por animal.

Em todos os animais devem-se usar produtos à base de organofosforados, piretróides, ivermectinas ou outros disponíveis no mercado em aplicações “pour-on”, imersão ou outros, utilizando sempre as concentrações e doses recomendadas pelos fabricantes. É importante observar os animais semanalmente e não tratar com baixas infestações. A consulta a assistências técnicas mais próximas indicará produtos comerciais disponíveis para se efetuar esse controle. A Embrapa Gado de Corte disponibiliza informações necessárias para o controle de carrapatos, além de um serviço de coleta desses parasitos para melhor indicação de um carrapaticida a ser aplicado. Esse serviço é feito pelo sítio de Internet carrapatos.cnpgc.embrapa.br.

Outras ectoparasitoses

A dermatobiose, ou berne, é uma infecção causada pelo desenvolvimento da larva da mosca Dermatobia hominis no tecido subcutâneo dos animais. Ela causa uma reação inflamatória que pode irritar os animais ou resultar no aparecimento de sangramentos e infecções secundárias nos casos mais graves.

Outra enfermidade preocupante para o controle sanitário na fazenda são as miíases umbilicais, ou bicheiras, que são provocadas por larvas de moscas do gênero Cochliomyia. Essa infecção é a razão de grande perda por morte de bezerros, principalmente em sistemas de pecuária extensiva.

Uma ineficiente cura do umbigo chama a atenção desse gênero de mosca àquela região no animal, que se caracteriza num ambiente ideal para a proliferação do inseto a partir do desenvolvimento das larvas dela na ferida umbilical não tratada. Uma vez depositadas nessa região, elas vão se alimentando de secreções e tecidos vivos. Com o tempo e ocupando maior espaço, esse criatório de larvas, que se tornou o umbigo, fica caracterizado por ferimentos (miíases) de onde escorre uma secreção sero-sanguinolenta, que mais tarde passa a ser purulenta. O comprometimento dessa lesão ocorre quando as miíases não são tratadas e houver reinfestações do inseto. Pomadas, líquidos ou spray cicatrizantes acrescidos de inseticidas podem ser usados tanto preventiva como curativamente.

Apoio técnico

O primeiro passo para o tratamento começa com a consulta de um apoio técnico que possa avaliar exatamente o que ocorre com o rebanho. Isso porque há uma variabilidade de fatores que se relacionam com cada endo e ectoparasitos. “Os fatores em geral são ambiente, clima, raça, tipo de sistema produtivo, manejo higiênico sanitário, incluindo a ocorrência de resistência por parte dos parasitos devido ao uso inadequado de inseticidas e vermífugos”, destaca a pesquisadora da Embrapa.

Em função disso o que se recomenda é a orientação de um profissional técnico especializado. A partir desse apoio poderão se traçar as estratégias adequadas para o controle dessas doenças.

“A cura do umbigo é importantíssima para não haver problemas com miíases e infecções bacterianas que são facilitadas pela via umbilical, além disso, o colostro é a melhor proteção que o bezerro pode receber, se ele não é fornecido adequadamente, o filhote fica mais suscetível a várias doenças”, diz Juliano.

A partir desse apoio técnico, o pecuarista pode estabelecer um calendário profilático e de manejo sanitário dos animais desde o nascimento até a desmama, baseado justamente nas doenças mais frequentes do rebanho e na região em que se encontra, como uma forma de garantir o melhor controle sanitário do rebanho.

Recomendações à cria

Cuidado com o aumento na densidade populacional;
Atenção à qualidade da água fornecida;
Seja rigoroso com a limpeza e higiene das instalações, principalmente em sistemas intensivos;
Inspecione os animais a fim de detectar a presença de ectoparasitoses e mantenha vigilância sobre as verminoses e coccidioses realizando exames de fezes com contagem de ovos por grama (OPG) periodicamente;
Diante da ocorrência de animais doentes procure imediatamente um médico veterinário, para passar todas as informações necessárias sobre o diagnóstico correto e o melhor tratamento;
Cuidado com o uso indiscriminado de vermífugos e inseticidas;

Atenção redobrada para a cura do umbigo e ingestão de colostro pelo recém-nascido.

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