Agricultura

Tratores: velocidade no campo

Sucesso em Maripá o arrancadão foi a Piracicaba queimar pneu e levantar a arquibancada.Imagine aquele trator que você usa na sua propriedade correndo a mais de 130km/h no asfalto. Além da velocidade, a máquina pode fazer manobras inacreditáveis para três toneladas de ferro. O Arrancadão de Tratores chegou a São Paulo atraindo bom público e satisfazendo a expectativa.

A modalidade foi criada por agricultores que colocavam os próprios tratores para competir nas ruas de Maripá (PR) em 1990 – cidade de seis mil habitantes. A partir daí, o evento só cresceu e demandou estrutura para garantir a segurança dos pilotos e do público.

Em 2003 foi inaugurada a primeira pista construída especificamente para arrancadas de tratores e ficou conhecida pela população como Tratoródromo. “Este é um projeto totalmente verde e amarelo, é único no mundo e teve início aqui no Brasil”, afirma Heinz Schreiber Junior, o organizador do evento, que é mais conhecido como Alemão.

Com o crescente sucesso da categoria em Maripá os organizadores estão expandindo as emoções das arrancadas para outros estados. Nos dias 7 e 8 de junho foi a vez de São Paulo assistir a queima de pneus no Esporte Clube Piracicabano de Automobilismo (ECPA), em Piracicaba a 142 km da capital.

Os tratores, que podem atingir até 130km/h, percorrem 200 metros lado a lado com o concorrente. As modificações são pequenas, a traseira não sofre nenhuma alteração, apenas um motor mais potente e uma embreagem mais forte, além da parte externa do veículo. Munidos de nitros (um gás que aumenta a potência do motor por alguns segundos) as máquinas partem ao sinal verde e é quando o público vai ao delírio. “Eu nunca esperava encontrar uma máquina tão robusta, fazer algo desse tipo. É espetacular”, se surpreende Jair de Brito nas arquibancadas do EPCA.

Dos 20 pilotos disputando o título da temporada, dois chamam mais a atenção. Darli Drisner (Equipe Cobra) e Nika (Equipe Penélope Charmosa) são as duas mulheres que se tornaram as atrações principais. Por vestir roupão cor-de-rosa e ter o trator pintado da mesma cor, Nika chama mais atenção e agrega mais torcida. “Ela deu um show de pilotagem. Ninguém imaginaria que uma mulher poderia pilotar que nem ela. Acho que todo mundo está torcendo por ela”, opina o piracicabano Adalto Paiva.

Um dos fatores determinantes para a entrada de Nika nas pistas foi a reação dos homens após ela passear com um dos tratores em 2004. “Eu estava assistindo a um dos GP, em Campo Grande (RS) e ao final pedi para dar uma volta em um deles. Quando eu voltei para os box, os homens começaram a tirar saro e dizer que se fosse na pista a gente não teria coragem”, lembra Nika. A reação masculina foi a faísca para o início da carreira. “Mulher, quando desafiada, né? Para mostrar que também pode estar competindo, a gente monto o trator e estávamos lá, fazendo o show junto com eles”, lembra a piloto.

Preconceito ou medo?

Será que correr ao lado de uma mulher é indiferente? No início os homens afirmaram considerar as mulheres um concorrente qualquer, todos negaram que houvesse qualquer diferença, mas no fundo, os pilotos sabem que perder para o sexo feminino é diferente. “A mulher não está trabalhando? É legal correr com elas, sem problemas”, diz Dorval Conci Junior, da Equipe Motorsport. Uma mulher também fala com propriedade do assunto. “Não há nenhum problema. Os homens dão dicas para mim, então a gente tem uma relação muito legal”, afirma Darlim.

Mas ao final todos acabam soltando que realmente é diferente correr contra o sexo oposto. “Na hora do sorteio, para ver quem vai arrancar com quem, os homens sempre ficam apreensivos, se é para correr com a Darlim ou com a Penélope, sabe? Porque perder para mulher você sabe que o machismo pesa mais, então dá uma amarelada”, comenta Nika. E a acusação tem fundamento. Depois de Dorval ter dito que não vê problemas em concorrer com as mulheres, ele solta: “Perder para mulher é complicado”.

Mesmo sem saber, Penélope inspirou as mulheres que estavam no autódromo. A auxiliar de escritório, Franciani Bettini, foi convidada pelo namorado a comparecer ao ECPA no segundo dia de provas e imaginou uma mudança de profissão. “Até me inspirei na Penélope. Quem sabe eu não começo a correr de trator?”, indaga entusiasmada.

Além do ótimo clima entre os pilotos, os agricultores não deixaram as atividades da fazenda para se dedicarem exclusivamente à velocidade. “Eu moro perto de Maripá, em Tupãssi, eu planto milho, amendoim, fumo, soja, e também corro”, explica Emilio Tavares, mais conhecido como Schumacher. Já para o paraguaio Alexandre Poland, que também é produtor rural diz que correr serve como terapia. “Para mim isso aqui é para relaxar, se eu vir correr e me estressar mais, aí não estaria certo”, comenta o campeão de 2007.

Zerinho Bomba Show

Outra atração do evento é o show da Equipe Zerinho Bomba Show que realiza diversas manobras com os tratores, além de usar efeitos sonoras, rojões e sinalizadores, os três pilotos passam muito perto do público realizando os famosos “zerinhos”. O público não tira os olhos dos três tratores que realizam a apresentação. “As manobras são inacreditáveis. Como nós poderíamos imaginar um trator fazendo aquelas coisas?”, indaga Zico Daniel, dono de uma oficina de trator em Piracicaba. A auxiliar de escritório Franciani Bettini, também se surpreendeu. “Fiquei até meio assustada, eles chegaram muito perto do muro”, comenta a paulista.

A equipe, formada por três pilotos – Duda Maluko, Dika Boratcho e Stübbe Magoo – iniciou as apresentações em 2003, quando as arrancadas passaram a ser realizadas no tratoródromo de Maripá. “A gente achava que seria legal ter mais alguma coisa entre as provas, algo que levantaria o público”, afirma Dika Boratcho, o inventor das manobras nesta modalidade.

Etapa Piracicaba

Ao final, o vencedor da etapa de Piracicaba foi Ivan Schanoski, da Equipe Azulão FM Racing, que na final derrotou o seu primo, Anildo Schanoski, da equipe 601 Racing. A Nika, da Penélope Charmosa ficou em quinto lugar, devido a duas queimadas na largada.

Fato inusitado foi o acidente ocorrido com o piloto da Equipe Bad Boy, Alexandre Schwaenberger, no primeiro dia de arrancadas. No final da pista, o piloto perdeu controle da máquina após problemas mecânicos e acabou se chocando com o muro de proteção que ficou totalmente destruído, assim como o trator. Já Alexandre saiu ileso do acidente.

A próxima etapa do Arrancadão de Tratores no Brasil acontece na cidade de Não-Me-Toque (RS) nos dias 18 e 19 de outubro.

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