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Negócios: exportações de carne surpreendem

Depois dos bons números do primeiro bimestre de 2007, a expectativa é bastante positiva para o restante do ano. Falta, porém, o encontro de dias melhores para os produtores. Como o observado nos últimos meses, o impacto e constrangimento decorrentes dos focos de febre aftosa, registrados no final de 2005, perdem força, agora, rapidamente.

Nos dois primeiros meses de 2007, o Brasil exportou US$ 690 milhões de carne bovina, o que representa um incremento da ordem de 52,8% em relação ao ano passado, quando foram exportados US$ 451,6 milhões, no mesmo período. Isso se deve à gradativa retomada das exportações aos antigos mercados compradores, como a Rússia, após o embargo imposto por diversos países, no final de 2005, com o surgimento dos focos nos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná.

Para o diretor executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne – ABIEC, Antonio Jorge Camardelli, além de flexibilização dos embargos, o Brasil tem aproveitado o bom momento do mercado externo da carne e continua sendo o maior exportador mundial. “O País mantém sua presteza e oferta no mercado internacional, condições que nenhuma outra nação dispõe”. Assim, por exemplo, o Brasil acaba tendo condições de atender demandas pontuais como a do Irã, que de repente precisa estocar carne temendo um embargo econômico imposto pela ONU.

Esse expressivo aumento das exportações somente foi possível graças aos ajustes internos no processamento da carne produzida no País, que contornaram o problema e praticamente normalizaram as vendas externas de carne bovina. As indústrias deslocaram a produção de exportação para outras plantas, localizadas nas regiões não afetadas pela febre aftosa, como é o caso de Goiás. O processo de erradicação da febre aftosa já está em fase de conclusão nos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná e o Brasil aguarda a aprovação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

Camardelli entende que o saldo positivo da incidência dos focos de aftosa foi a oportunidade da comunidade internacional perceber que “somos transparentes em relação aos nossos problemas e limitações, e também pontuais com medidas que busquem encontrar soluções”. Porém, ele entende que ainda é preciso muito diálogo para resolver questões como premiações por qualidade e até mesmo uma maior responsabilidade do setor privado nas questões sanitárias e de prospecção de mercados, bem como seu atendimento.

Mas, apesar dos bons resultados do comércio internacional de carne, o ano não começou bem para os pecuaristas brasileiros. Com os custos de produção em alta e os preços da arroba do boi praticamente estáveis, os produtores continuam perdendo renda desde o ano passado. Pelo menos é o que alega o Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil, na figura de seu coordenador geral Antenor Nogueira.

Os Custos Operacionais Totais (COT) aumentaram 0,59% somente em janeiro, enquanto o preço da arroba caiu 1% no período. As máquinas e implementos agrícolas foi o principal item responsável por este aumento nos custos dos pecuaristas, de 1,27% em janeiro. Desde janeiro de 2006, as perdas acumuladas já chegam a 5,38%, enquanto o preço da arroba praticamente estagnou nos 13 meses.

Traduzindo os números, significa que a atividade perdeu 5,38% de margem bruta. Neste período, o real valorizou cerca de 6% em relação ao dólar. Os custos, em dólar, tiveram um aumento de 11,88%, enquanto os custos operacionais efetivos (COE) da atividade pecuária cresceram 12,62%. “O resultado é uma redução na competitividade brasileira no mercado internacional”, conclui o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da CNA.

Argentina registra queda

As exportações de carne bovina da Argentina registraram queda de 24,7% no mês de fevereiro, no comparativo com o mesmo mês de 2006. Os números foram divulgados hoje pela agência de inspeção de animais e alimentos, a Senasa. As vendas de carne fresca, cortes da Cota Hilton e processados somaram 26,53 mil toneladas no período e renderam US$ 81 milhões a exportadores. O valor é semelhante ao apurado em fevereiro de 2006, para o que contribuiu a elevação média de 23,3% nos preços da carne.

Segundo a Senasa, a queda nas vendas reflete os limites impostos pelo governo em sua política de contenção de preços no mercado interno. Em 2006, as exportações de carne caíram 21,6%. A queda nas vendas externas também derrubou a produção e os investimentos no setor. Só em 2006, os produtores argentinos reduziram em mais de US$ 300 milhões, ou 33%, os investimentos em infra-estrutura, pastagens, genética e fertilizantes, de acordo com a Sociedade Rural Argentina (SRA).

Ainda segundo a SRA, a produção caiu a 3,13 milhões de toneladas, 3% a menos do que 2005. As informações são da Dow Jones. A Rússia liderou as importações, com 10,88 mil toneladas, no primeiro bimestre. Chile, com 7,38 mil, e Israel, com 5,80 mil, vieram na seqüência.

Tendência de expansão

De acordo com levantamento do setor produtor de carne, em 2030 os países emergentes vão consumir 350 milhões de toneladas de carne bovina contra 100 milhões dos países desenvolvidos. O Brasil, que já é o maior exportador do segmento, deve ocupar um papel essencial neste mercado. “O mundo precisa do Brasil para comer”, diz o presidente da ABIEC, Marcus Vinícius Pratini de Moraes. A tendência, segundo o dirigente é que as exportações aos árabes continuem a aumentar.

Os países em desenvolvimento vão ser os grandes consumidores de carne bovina nos próximos anos. Em 2030, enquanto os países desenvolvidos estarão consumindo um pouco mais de 100 milhões de toneladas de carne bovina por ano, os em desenvolvimento vão demandar cerca de 350 milhões de toneladas. Os dados foram apresentados em março pelo presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, em encontro promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Japonesa no Brasil, em São Paulo.

Segundo Pratini, “cada vez mais o Brasil vende carne em mercados não tradicionais”. Os países árabes fazem parte desta lista e têm aumentado sistematicamente as suas compras. O presidente da ABIEC apresentou no encontro também os números das exportações de carne do mês de fevereiro. As exportações de carne in natura cresceram 84,43% em valor, para US$ 280,5 milhões, e 62% em volume, para 115,3 mil toneladas. Já as vendas de carne industrializada ficaram em US$ 55,5 milhões, crescimento de 23,2% sobre o mesmo mês de 2006, com volume de 16,1 mil toneladas e alta de 20,7%.

O Egito foi o segundo maior importador de carne bovina brasileira in natura e o sexto em carne industrializada. “A nossa tendência é continuar e ampliar as exportações para os países árabes”, afirmou Pratini em entrevista à ANBA após o encontro. A Argélia foi o décimo maior importador da carne bovina in natura brasileira e a Arábia Saudita o décimo segundo. Em carne industrializada, os sauditas foram o décimo terceiro. “Até 2030 vai crescer pouco o consumo de carne na Europa, Japão, Estados Unidos, e vai crescer muito nos países emergentes”, afirmou o presidente da ABIEC.

Em função desta demanda do mundo emergente, os frigoríficos brasileiros estão correndo atrás de desbravar mercados nestas regiões. Nos Emirados, por exemplo, a Abiec participou em fevereiro de uma feira, a Gulf Food, em Dubai, e promoveu também um churrasco para autoridades locais e importadores. Pratini vem reforçando, nos eventos que participa, a importância do Brasil como fornecedor mundial de alimentos. “O mundo precisa do Brasil para comer”, afirma o presidente da Abiec. “Nós temos terra, tecnologia, água e capacidade empresarial”.

A carne brasileira está presente em todos os mercados do Golfo. Em Dubai está em todos os restaurantes e hotéis. Há inclusive cozinheiros brasileiros fazendo churrasco em Dubai. Há chefs brasileiros em dois dos grandes hotéis. E o churrasco brasileiro também está se disseminando bastante naquela região. Pratini acredita que a relação que o Brasil tem hoje com os países árabes, em particular a região do Golfo, é uma relação muito construtiva, muito positiva. “Nós temos recebido a visita deles aqui com freqüência. Nós temos um programa de absoluto respeito aos princípios halal de abate, que é periodicamente auditado. É um bom mercado”, avalia.

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