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Abelha: aumento do consumo é estratégia dos produtores

Uma estratégia que se mostra viável em médio prazo é estimular o aumento do consumo por meio de campanhas para introdução do referido alimento nas refeições diárias da população.

Uma ação importante realizada por algumas prefeituras é a introdução de saches de mel na merenda escolar dos municípios com consumo diário estimado em 10 gramas / aluno / dia. Além disso outras estratégias a serem implementadas junto ao mercado interno, tais como a criação e divulgação de catálogos sobre mel e derivados de cada região de produção, destacando sua importância pa­ra a alimentação humana estão entre os planos do setor.

De acordo com um estudo realizado, em 2003, no estado de Alagoas, a principal estratégia de venda dos apicultores, associações e cooperativas é vender seu produto para o mercado local.

Os apicultores comercializam direto ao consumidor final, atravessadores, distribuidores e atacadistas, sendo que associações e cooperativas, também comercializam direto ao consumidor final.

A pesquisa que ouviu vários produtores aponta como as maiores dificuldades encontradas no comércio são: a falta de produção para atender o mercado consumidor de grande porte, preços baixos, desconhecimento de alternativas de venda, sazonalidade da demanda, alta taxas de impostos e qualidade do produto que não atende ao mercado consumidor. Entre os produtores nordestinos 53% dos entrevistados consomem mel, ficando a média estima­da de consumo per capita em 300g/pessoa/ano. Cerca de 49% alegam fim apiterapêutico, sendo o fator mais importante para compra do produto à qualidade do mel produzido na região (66% dos entrevistados). Um fator comum para todo o Nordeste é a preferência pela garrafa de vidro de um litro (64%). Um fator preocupante é que somente 24% dos consumidores sabem  diferenciar o mel centrifugado do mel espremido.

Dados da APACAME mostram que de acordo com o cenário que se anuncia para o ano de 2005 e períodos subsequentes com o retorno do preço do mel aos patamares históricos entre US$ 0,90 a US$ 1,00/kg, tem-se o aumento da importância do mercado interno para sustentar o contínuo avanço da atividade apícola. Deve ser estimulado também o consumo de outros produtos apícolas como o pólen, a própolis e a geléia real como alimento ou mesmo com suplemento alimentar.

Não obstante ao potencial que o mercado interno tem para absorver parte da produção nacional, alguns problemas tem que ser solucionados para que se concretize tal cenário. O primeiro problema está na questão de que os produtos apícolas não têm divulgação na mídia, o que mantém a visão histórica e equivocada de que o mel é apenas um remédio, em detrimento de sua reputação como alimento barato e saudável.

O segundo ponto é tratada do preço elevado pago pelo consumidor frente ao que o apicultor recebe com a venda do produto, muitas vezes, ultrapassando aumentos de 500%, o que desestimula o aumento do consumo per capita e não remunera adequadamente o apicultor, nem o estimula a buscar alternativas para o aumento da qualidade do produto. Hoje na maioria dos grandes centros consumi­dores o produtor em está vendendo o mel a um preço médio de R$. 2,50/kg, sendo o mesmo encontrado no supermercado ao preço de R$ 15,00/kg.

Méis orgânicos e socialmente justos

A comercialização do mel por si só tem se configurado bom negócio nos últimos anos, devido em grande parte, pelo aumento da demanda do produto no mercado internacional, seu maior consumidor quando se fala de mel brasileiro. No entanto, outros segmentos desse mercado têm crescido, ainda que em taxas pequenas por estar relacionado a um pequeno grupo consumidor. Têm-se como exemplos o mel obtido em sistema orgânico de produção e produzido em bases sociais mais democráticas.

Uma das grandes preocupações do mercado mundial é a eliminação total de resíduos antibióticos e defensivos agrícolas no mel. Nesse quesito o mel produzido no Brasil possui um grande diferencial, principalmente na região Nordeste, dada a saúde apresentada pelas abelhas e as vastas áreas apícolas livres de defensivos agrícolas. A presença de antibióticos no mel não traz apenas risco para a perda de colméias, mas também para a imagem do país com um todo, dado que o Brasil tem se apresentado no mercado internacional com um mel de sabor diferenciado e sem a presença de tais contaminantes, destaca o presidente da entidade que representa os apicultores paulistas.

A apicultura orgânica é a estratégia mais promissora quando se fala do mel produzido no Nordeste, seja pela colocação de seu mel nesse segmento cada vez mais amplo, seja pelo preço diferenciado pago. Cabe lembrar que o referido nicho representa muito pouco frente ao que é comercializado de mel no mundo. No Brasil, o Instituto Biodinâmico – IBD é o órgão certificador de maior experiência quando se fala de produtos orgânicos, inclusive sendo reconhecido por outros órgãos de certificação internacionais (IBD, 2003). Tal fato é extrema-mente relevante dado que segundo Willer e Yussefi (2003), excetuando-se produções da Argentina e Costa Rica, todos os países da América Latina necessitam ser re-certificados na União Européia através de uma de suas companhias para entrar no mercado.

A comercialização do mel chamado socialmente justo é também conhecida como fair trade, a qual paga valores acima do preço de mercado para ajudar as comunidades reconhecidamente carentes e que têm ação conservacionista. Tem-se como exemplo a Comunidade de Simplício Mendes, a qual ganhou destaque internacional em 2001, quando a Associação dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes – AAPI recebeu selo de exportação do Ministério da Agricultura e passou a vender mel para a Itália. Até 2003, a Associação exportou 20 toneladas de mel silvestre para o mercado italiano, a US$ 2,6/kg em fair trade e 80 toneladas para o norte-americano, a US$ 2,4, na época, 60% acima do preço no mercado interno.

Outros produtos

O mel é notoriamente o produto da apicultura mais conhecido e comercializado no mundo, contudo, uma série de outros produtos também têm seu mercado conquistado, ainda que em pequeno volume. Nesse grupo se incluem a cera de abelha, a própolis, o pólen, a geléia real e a própria apitoxina. De maneira similar a outros países, este mercado tem crescido pela procura por produtos naturais de alta qualidade e, mais diretamente, por produtos que atendam a anseios específicos do consumidor, porém com formulações naturais.

O Brasil está iniciando a exploração desses novos produtos, contudo, de forma ainda muito incipiente dado baixo uso de tecnologia pra tal fim, a falta de tradição nesses mercados e a pequena demanda. Para que se tenha mercado estável para esses produtos faz-se necessário o estímulo para a instalação de projetos que visem não só a exploração do mel, mas também a incorporação da obtenção dos outros produtos no processo produtivo. Cabe destacar também a necessidade da criação de legislação relacionada para a produção e comercialização de todos esses produtos.

Há a ampliação de mercado para outros produtos que não mel, sendo que tal fato está balizado no aumento da produção de pólen, própolis e cera e da caracterização de sua com­posição química. Deve-se lembrar também da opção pelo uso de colméias para a polinização de áreas de fruticultura (maça, laranja, melão, caju, etc).

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