Agricultura

Inseto amigo da lavoura

O fato é tão excepcional que a solicitação para o registro definitivo precisou ser protocolado em órgãos de três ministérios: no Ibama (Ministério do Meio Ambiente), na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa (Ministério da Saúde) e no Departamento de Defesa Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). “Na verdade, a legislação que disciplina o assunto é muito imprecisa, o que nos obrigou a obedecer as normas do Decreto 4.074, publicado em janeiro deste ano, que foi criado para tratar apenas da comercialização de agrotóxicos no país”, comenta a advogada Ana Maria de Farias, assessora jurídica da Embrapa que está cuidando das ações legais do registro em Brasília.

A Diachasmimorpha longicaudata foi importada da Flórida (EUA) em 1994 pela Embrapa, que só podia utilizá-la de forma limitada, dentro dos limites da esquisa experimental. Depois de conferir sua eficácia no controle da mosca-das-frutas e de dominar as técnicas para sua reprodução em laboratório, a empresa, a partir de agora, produzir a vespa em larga escala para fins de comercialização. “O controle biológico de moscas-das-frutas atuará em grandes áreas como uma barreira biológica à novas introduções de moscas-das-frutas, diminuirá focos de infestação, reduzirá o risco de disseminação de espécies e proporcionará menores níveis de agrotóxicos nos frutos produzidos em pólos frutícolas destinados ao comércio nacional e internacional que impõe barreiras fitossanitárias aos países exportadores de frutas in natura”, explica o pesquisador Romulo da Silva Carvalho, que desenvolve sua tese de Doutorado com o tema “Controle biológico de moscas-da-frutas utilizando o parasitóide exótico Diachasmimorpha longicaudata no Brasil” no Instituto de Biociências da USP, sob orientação do Prof. Aldo Malavasi.

Carvalho, avaliou a eficiência e o impacto da introdução da vespa D. longicaudata em diferentes ecossistemas do Brasil, como na região do Submédio São Francisco, no Semi- Árido nordestino; na região de Mata Atlântica do Recôncavo Baiano e na Amazônia, em locais específicos do Estado Amapá, comprovando que o controle biológico de moscas-das-frutas com esse organismo é factível e poderá ser utilizado no Brasil, com sucesso, a exemplo do que já é feito em outros países como EUA, México e Guatemala Biofábrica – O registro do inseto, também chamado de “parasitóide”, se tornou inadiável para dar condições legais à sua multiplicação em regime industrial pela biofábrica de insetos que o MAPA vai instalar em Jjuazeir (BA) dentro de dois anos. “Com a implantação de biofábricas de moscas-das-frutas em várias partes do mundo visando a aplicação da técnica do inseto estéril, foi possível iniciar programas de liberações de parasitóides em vários países. A associação do controle biológico por meio de liberações inundativas (escala massal) de parasitóides e de machos estéreis, é mais eficiente do que as duas técnicas aplicadas separadamente.

Essa associação já é usada nos EUA, México e Guatemala com sucesso e representa o que há de mais moderno e seguro do ponto de vista alimentar e de proteção ao ambiente”, detalha o entomologista da Embrapa. Dentro deste contexto, em função da rápida expansão populacional de Ceratitis capitata verificada nos últimos dez anos nos pólos de fruticultura do nordeste, a Embrapa Mandioca e Fruticultura, por meio do pesquisador Antonio Nascimento, propôs e obteve apoio do Governo Federal, através do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, para implantação de uma biofábrica destinada à produção de macho estéril de Ceratitis capitata e produção massal de parasitóides, o que culminou na Portaria Ministerial nº 37, de 24 de julho de 2002, na qual o MAPA constituiu um Grupo de Trabalho, coordenado pelo pesquisador Aldo Malavasi, com a finalidade de elaborar e acompanhar a implantação do projeto da referida biofábrica. “Essa biofábrica visa suprir a demanda dos pólos de fruticultura no nordeste brasileiro e esse investimento contribuirá para a consolidação da fruticultura tropical na região com a produção de frutos de qualidade, com menores níveis de resíduos de agrotóxicos, o que reflete em menor impacto para o homem e meio ambiente”, prevê Nascimento.

Parasitóide

Os pesquisadores Romulo Carvalho e Antonio Nascimento vem desenvolvendo estudos desde 1994 com a espécie. A Diachasmimorpha longicaudata é uma espécie de parasitóide exótico mundialmente utilizada para o controle de várias espécies de moscas-das-frutas. “Ela é originária da região indo-autraliana e tem-se destacado pela eficiência no controle biológico de moscas-das-frutas, pela facilidade de criação massal em laboratório, rápida adaptação aos ambientes onde é liberada, bem como, pela condição de especialista no controle biológico exclusivo de espécies moscas-das-frutas”, detalha Rômulo Carvalho. Esse inseto foi introduzido pela primeira vez no Brasil, em setembro de 1994, pela Embrapa Mandioca e Fruticultura e contou com o apoio do MAPA e do Laboratório de Quarentena “Costa Lima”da Embrapa Meio Ambiente. O objetivo da introdução do parasitóide foi avaliar o potencial de utilização desse agente no controle biológico de moscas-das-frutas de importância econômica presentes no território nacional.

Segundo Carvalho, a ação do parasitóide ocorre com a localização da larva no interior do fruto. A larva da mosca ao se alimentar, produz vibrações através do seu aparelho bucal, que são percebidas pelo parasitóide através de suas antenas. A fêmea do parasitóide, ao localizar a larva da mosca, introduz o longo ovipositor no interior do fruto e realiza a postura dentro do corpo da larva da mosca-da-fruta. O desenvolvimento do parasitóide ocorre no interior da larva da mosca, até que ao entrar na fase de pupa no solo, o conteúdo corporal da larva da mosca é consumido pela larva do parasitóide.

Ao final do seu ciclo, ao invés de emergir um adulto de uma mosca-da-fruas, emerge um parasitóide que continuará o mesmo processo que o gerou. Dessa forma, a vespa contribui para a redução populacional das moscas-das-frutas ao longo do tempo protegendo outros frutos infestados do pomar. Segundo o pesquisador, a maior vantagem na utilização do controle biológico de pragas é a significativa redução da utilização de produtos químicos nos pomares, o que acaba valorizando ainda mais os frutos nos mercados nacional e internacional.

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